Pfizer vende fatia no Teuto a sócios nacionais
Grupo americano tinha comprado 40% no laboratório de genéricos em 2010, por R$ 400 milhões, mas teve de desfazer da participação por valor inferior
Fernando Scheller, O Estado de S.Paulo
04 Julho 2017 | 05h00
A multinacional americana Pfizer acertou a venda de sua participação de 40% no laboratório brasileiro Teuto para a família Melo, que estava à frente do negócio desde 1986 e era a controladora da companhia, conforme apurou o ‘Estado’. A Pfizer havia entrado na empresa em 2010, com um investimento de R$ 400 milhões, mas decidiu deixar o Teuto mesmo recebendo um valor inferior na saída, disseram fontes de mercado.
Há mais de um ano, as partes tentavam encontrar uma solução para o negócio, pois a Pfizer havia tomado uma decisão global de deixar o segmento de genéricos, carro-chefe do Teuto, sediada em Goiás. As partes tinham pressa: no acordo de aquisição dos 40% do Teuto, a americana teria de exercer o direito de compra da fatia que ficou com os Melo, mas não tinha mais interesse em fazer isso.
Após alguns adiamentos, a Pfizer tinha até 30 de junho para comprar o restante do negócio, pagando um múltiplo de 14,5 vezes a geração de caixa da companhia, medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda). O acordo que gerou o efeito contrário – a compra da fatia da Pfizer pela família Melo – foi fechado na data-limite, na última sexta-feira, disse uma fonte.
Os sócios não tiveram sucesso em encontrar um novo investidor para o laboratório – fundos como Advent e Bain Capital estiveram entre os que olharam o ativo, mas decidiram não comprar. Na tentativa de venda, o negócio como um todo era avaliado entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão.
Segundo outra fonte, embora a relação entre a família Melo e a Pfizer não fosse conflituosa, os gestores brasileiros acreditavam que os processos da sócia multinacional reduziam a velocidade da tomada de decisões.
Além disso, o Teuto deixava de fazer sentido num cenário em que a Pfizer queria se afastar dos genéricos. Nos últimos anos, o laboratório – que foi rebatizado Teuto/Pfizer – passou a enveredar por outros caminhos, como produtos injetáveis e hospitalares, mas com relevância ainda pequena para o faturamento total.
O mercado de genéricos hoje representa mais de 30% dos medicamentos vendidos no Brasil, segundo a ProGenéricos, associação que reúne as fabricantes do setor, da qual o Teuto não faz parte. De janeiro a abril deste ano, as vendas em unidades desses produtos subiram 9,28%, em relação ao mesmo período de 2016, aponta a associação. Apesar da expansão, fontes do setor ressalvam que os genéricos oferecem margem de lucro bem menor do que os remédios de marca aos laboratórios.
Histórico. Fundada em 1947 pelo imigrante alemão Adolfo Krumeir, o Teuto passou pelas mãos de outro controlador antes de ser comprada pela família Melo, em 1986, por cerca de US$ 2 milhões. Nos anos 1990, os Melo decidiram transferir a empresa de Minas Gerais para Goiás. Posteriormente, o empresário Walterci de Melo – conhecido pelo estilo ousado – decidiu construir a maior fábrica de genéricos da América Latina. O investimento deixou a empresa em dificuldades, e o negócio teve de passar por uma reestruturação antes de atrair a atenção da Pfizer, em 2010.
Procurada, o laboratório Teuto/Pfizer não retornou os contatos da reportagem.
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