Pressão das gigantes não desestimula os menores
Publicação: 2017-08-270:00:00 0
Se, por um lado, a chegada das grandes redes de drogarias e farmácias em Natal pode ajudar a aquecer a economia local, de outro, se modifica a atuação dos comércios de medicamentos de menor porte, principalmente localizados em bairros afastados dos pólos comerciais. Para que eles se mantenham no mercado, uma alternativa são as associações, ao permitirem negociação de medicamentos com amplas margens de desconto ao consumidor, o que drogarias e farmácias não ligadas às grandes redes não alcançariam sozinhas. Além disso, a tradição da marca e a inserção dos proprietários no dia a dia da vizinhança são fatores que garantem a continuidade dos negócios.
Exemplo disso é a drogaria administrada pela pedagoga Maria de Lourdes, no bairro Bom Pastor, zona Oeste de Natal. Ela adquiriu o ponto comercial em 2007, mas a farmácia já funcionava no local desde 1994. Maria de Lourdes acredita que a ampliação das grandes redes, mesmo que disponham de mais estrutura física, tecnológica e preços atrativos não provocou migração significativa dos seus clientes. A empresária garante que a clientela se mantém fiel e atribui isso à vantagem dos preços praticados sobre os genéricos – que tendem a ser mais baratos.
No Bom Pastor, zona Oeste de Natal, a drogaria de Maria de Lourdes tem clientes que se tornaram amigos ao longo dos anos
"Nós conseguimos manter boas vendas com medicamentos genéricos, que tem uma procura muito grande. A concorrência maior está na venda dos produtos éticos, que são os produtos de marca. Esses não conseguimos negociar com descontos iguais às das maiores drogarias", explica. A pequena drogaria é filiada a uma associação com atuação em todo o Rio Grande do Norte, o que, conforme esclarecido por Maria de Lourdes, ajuda a garantir os descontos junto a fornecedores.
Na tarde da quinta-feira passada, a pequena drogaria estava com o balcão cheio de clientes. Poucos, devido ao espaço, mas a relação entre atendentes e consumidores não se restringia apenas ao aspecto comercial. "Lourdes já é da família. Sempre compro com ela pois gosto do atendimento e os preços são bem em conta", afirma a assistente social Joana Karla, de 27 anos.
Raphaelle Cavalcante, proprietária de outra drogaria no mesmo bairro aponta que a dificuldade de negociação sobre os medicamentos éticos aumentam a vantagem das maiores drogarias sobre as menores. "Enquanto tem drogaria grande que consegue margem de 50% de desconto diretamente com o laboratório, eu não passo de 35%, pois compro com o distribuidor", lamenta.
Raphaelle lamenta impossibilidade de ampliar negociação
Ela acredita que a força e lembrança da marca pelos consumidores contribui para a fidelização dos clientes e geração de receitas para o empreendimento, o que ajuda a manter o negócio. Raphaelle evita aderir a associações para competir com as gigantes do segmento. "Não vejo vantagem na filiação. O valor do medicamento vendido diretamente às drogarias e às associações não tem muita diferença", pondera.
Redes investem em análises mercadológicas
Presente no Rio Grande do Norte desde 1993, a Rede de Farmácias Pague Menos não deixou de crescer nos últimos dois anos em decorrência da crise financeira que assolou o Brasil. "Estamos enfrentando esse cenário com crescimento robusto em vendas, bem superior à média de mercado, e um agressivo programa de expansão, com grandes investimentos em pessoas, processos e tecnologia", diz o diretor-presidente do grupo, Mário Queirós.
Segundo o Ranking Abrafarma 2017, as Farmácias Pague Menos figura como a terceira colocada no faturamento e de pontos de vendas em 2016. A empresa conta com mais de 800 colaboradores diretos em todo o país. O principal perfil de clientes são mulheres na faixa etária de 55 anos. No entanto, a rede de drogarias explica que o nicho predominante de cliente, nem sempre, representa o consumo final.
A aquisição dos produtos são destinados a familiares de maior idade. Para tal, são realizados investimentos que visam a identificação das principais necessidades do público. "Investimos em consultoria e programas para entender melhor o comportamento do cliente, com foco no aperfeiçoamento da experiência de compra e do atendimento nos pontos de vendas", destaca Mário Queirós.
Muito além dos remédios, pequenas conveniências
Ir a uma drogaria, hoje, representa, não somente, a possibilidade de compra de medicamentos. É cada vez mais comum clientes se depararem com produtos diversificados. Cosméticos, perfumaria, itens de cuidados pessoais, doces, salgadinhos, e até serviços de venda e recarga de celular são oferecidos.
A estratégia é mais uma do setor para garantir a sobrevivência das drogarias, independentemente do porte. Pois, diferente dos medicamentos, tais produtos não se submetem a controle de preços do governo.
“A parte de medicamentos propriamente dito é a que ocupa menos espaço nas farmácias. A maior área é com beleza e cuidados pessoais. Essa área tende a crescer. Com a retomada da economia, esse segmento deve se fortalecer", explica o economista Aldemir Freire.
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