Professor da Ulbra quer estudar os efeitos terapêuticos do Canabidiol
Fabricia Albuquerque 9 de março de 201810 de março de 2018
O neurologista e docente do curso de Medicina da Ulbra (Universidade Luterana do Brasil), doutor Jorge Luiz Wincler, um dos idealizadores da iniciativa, detalha uma série de dados sobre o tema e conta sobre os projetos que vem desenvolvendo para analisar o efeito de pastas e óleos à base de cannabis em pacientes com as mais diversas doenças.
1) Quais são os benefícios medicamentosos do uso do Canadibiol? São muitos, por exemplo, ao ser ministrado para pacientes com epilepsia refratária, que não respondem a nenhum medicamento existente, o canadibiol elimina em até 100% as convulsões. Em casos de pessoas com a Doença de Parkinson, ele ajuda a reduzir os distúrbios involuntários de movimento. Sem falar na inibição de náuseas provocadas pela quimioterapia, em pacientes com câncer, ou na redução da fadiga sentida por doentes com esclerose múltipla.
2) Como se obtém essa substância? Ela possui efeitos colaterais alucinógenos, como os da maconha? A cannabis sativa precisa ser depurada em laboratório para a extração do canadibiol e eliminação do THC (composto ativo da erva que confere propriedades alucinógenas à maconha). Apesar de ainda contar com alguns resíduos de THC, tanto o óleo como a pasta não possuem efeito psicotrópico, logo, não alteram o nível de consciência do paciente. Vale a pena lembrar que o nosso organismo produz uma molécula que possui efeitos semelhantes ao do canadibiol, mas em quantidade muito pequena para reduzir efetivamente o limiar da dor e controlar a ansiedade.
3) Recentemente, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou a prescrição de remédios à base de maconha, a produção desse tipo de medicamentos no Brasil passa por uma série de entraves, como o senhor percebe isso? A Agência Nacional de Vigilância Sanitária liberou a comercialização de medicamentos à base de canadibiol em 2016. Hoje, é possível encontrar no mercado pastas e óleos sintetizados a partir do composto ativo da maconha, mas o acesso a esse tipo de remédio ainda é muito restrito, pois é necessário importá-lo, o que aumenta o custo do tratamento no país. Um frasco de óleo de canadibiol chega a custar U$$ 250,00 dólares, um valor que afasta as camadas mais pobres da sociedade. Para que possamos deixar de importar e passar a fabricar esse tipo de medicamento, é necessário vencer uma série de preconceitos, entre eles a legalização da droga e sua descriminalização por parte do poder público.
4) O senhor está dizendo que a regulamentação do uso da maconha para uso medicinal e recreativo no Brasil é o que necessita ser aprovado para que o canadibiol passe a ser produzido em território nacional. Você acha que atualmente exista um ambiente propício para isso no País? Acho. Por que não? Se o Uruguai já produz, se o estado norte-americano da Califórnia já produz, por que não aqui? Mas isso é uma grande polêmica, pois a maconha sempre foi ilegal no Brasil, então é necessário fomentar o debate sobre o tema, e nisso a academia pode ajudar.
5) O uso do canadibiol é um tema recorrente nos congressos de Medicina realizados no Brasil? Nos encontros de neurologia é possível assistir a uma ou outra palestra sobre o assunto, mas o que queremos mesmo é promover um estudo mais aprofundado. O que almejamos, com o apoio de uma empresa norte-americana que produz óleo de canadibiol, é desenvolver um grupo de estudos sobre o uso da substância como medicamento. A nossa ideia é centralizar essa pesquisa aqui dentro do campus da Ulbra. Logo devemos submeter esse projeto para o comitê de ética da Universidade e, após sua validação, podemos iniciar testes com voluntários aqui e na região metropolitana de Porto Alegre.
6) Sobre o que o senhor vai falar no Congresso que ocorre na Universidade?
No dia 19 de março, pretendo apresentar um projeto para o desenvolvimento de um estudo clínico inédito sobre o efeito do canadibiol em pacientes com doença de Parkinson, uma iniciativa que concebi em parceria com o doutor Kelson James Almeida, neurologista e diretor técnico do CEIR (Centro Integrado de Reabilitação do Piauí).
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