Reclamações de consumidores sobre embalagens menores aumentam 30% em um ano

A prática muita gente já conhece: o preço sobe e o tamanho desce. Desde terça-feira, o EXTRA mostra casos de empresas que diminuem os conteúdos de embalagens, cobrando o mesmo preço ou até aumentando o valor. No portal Reclame Aqui, queixas desse tipo subiram quase 30% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado.

No Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), as críticas sobre o assunto viraram rotina. Nos dois casos, artigos de limpeza, higiene pessoal e alimentos são as categorias recordistas de denúncias.

O problema é que a tática, em si, não é ilegal. Qualquer fabricante pode modificar o volume de seus artigos, desde que obedeça à lei e informe de forma clara e precisa, na embalagem, o peso anterior, o novo peso e a diferença percentual entre os dois.

— A indústria vem utilizando alternativas e, em resumo, quem paga a conta é o consumidor — explica Flávio Siqueira, advogado do Idec.

Diretor de operações do Reclame Aqui, Diego Campos acredita que o número de queixas sobre o assunto aumentou porque a estratégia se tornou mais recorrente:

— As pessoas consideram um abuso por parte da empresa e quem se sente prejudicado tem que procurar o site ou o SAC do fabricante.

Professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Roberto Kanter acredita que a opinião dos consumidores depende muito da transparência adotada pela empresa.

— Se o fabricante cria uma embalagem nova e informa o peso atual não deixa de ser uma maneira de oferecer um preço competitivo. Mas, diminuir e avisar em letras pequenas é uma má prática.

A dona de casa Maria do Carmo Silva, de 57 anos, diz que bombons e biscoitos estão cada vez menos frequentes em casa.

— Faço pesquisas em diversos supermercados para achar minha marca preferida, com valores mais baixos. A gente perde muito com isso, pacote menor e preço maior.

Troca de marca ou desistência da compra

A administradora Luana Ribeiro, de 35 anos, percebeu que algumas embalagens de creme dental diminuíram de 90 para 70 gramas. Ela reparou ainda que outros itens de higiene também reduziram o tamanho, como por exemplo sabão em pasta e xampu.

— Para economizar, eu tento trocar de marca, ou simplesmente comprar menos — conta Luana.

Jean Pontara, sócio da J Pontara Consultoria, especializada nos mercados de varejo e food service, defende a atitude das companhias:

— Com essa recessão, que trouxe menos disponibilidade de recursos do consumidor, essa foi a maneira da indústria não aumentar os preços. O consumidor quer gastar pouco, o que tem no bolso. Por isso, procura as embalagens menores, mesmo que saiba que ali o litro ou quilo é mais caro.

O consultor lembra que, antes, a tendência era de embalagens econômicas grandes.

— Agora ele faz a conta e vai decidir pelo menor desembolso na hora, não pode pensar mais a longo prazo. Não é momento de estocar, é de atender às necessidades urgentes.

Na direção contrária

Na contramão, a gigante de biscoitos e massas Piraquê garante que nunca adotou a estratégia da redução.

— Os biscoitos Piraquê têm o mesmo tamanho há 67 anos. Quando queremos lançar algo com preço mais acessível, lançamos uma linha alternativa, menor, mas sem tirar o original de linha. Apesar da crise, o Rio concentra 60% das nossas vendas. Percebemos uma migração para os produtos mais baratos e de embalagens menores, mas o consumidor se sente respeitado e com direito de escolha — disse o diretor comercial da Piraquê, Alexandre Colombo, que é também presidente da divisão de biscoitos da Abimapi (Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias, Pães e Bolos Industrializados).

— O produto fica mais caro, e o custo com embalagem continua o mesmo. É um tiro no pé — opina Colombo.

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