Remédio para transplantados está em falta

30/09/17 | Regina Helena Santos – regina.santos@jcruzeiro.com.br

Na semana do Dia Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos, lembrado no último dia 27 de setembro, transplantados de Sorocaba e de todo o País estão sofrendo com a falta de distribuição de um medicamento essencial para sua sobrevivência. O Tacrolimo é um remédio que deve ser usado por todas as pessoas que receberam rins ou fígados em transplante, com o objetivo de evitar a rejeição do órgão. Há alguns meses, sua distribuição, feita pela farmácia de alto custo do Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS), vem apresentando falhas.

No mês de setembro muitos pacientes sequer conseguiram acesso ao medicamento. "Esse mês fui buscar, falei na ouvidoria, mas não consegui pegar", contou Mauri Antunes de Barros, de 72 anos, que há dez vive com um rim transplantado. A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo alega que a compra e distribuição do Tacrolimo é de responsabilidade do Ministério da Saúde, que tem enviado irregularmente o produto desde o início deste ano, "descumprindo os prazos previstos em portaria federal e entregando quantitativos parciais".

Segundo o Estado, dos 8,2 milhões de comprimidos solicitados ao governo federal para abastecer os pacientes paulistas no terceiro trimestre deste ano (de julho a setembro), foi aprovada a liberação de 6,2 milhões de comprimidos, dos quais foram entregues somente cerca de 4,4 milhões. O Ministério da Saúde foi questionado pela reportagem sobre os atrasos, porém não houve resposta até o fechamento desta matéria. Nenhum dos dois órgãos estabeleceu um prazo para que o problema seja solucionado.

Mauri conta que teve uma consulta com sua médica, há alguns dias, e lá conseguiu três cartelas do comprimido. Como ele toma a medicação três vezes ao dia, o volume dará para cerca de 15 dias. "A gente começa a ficar preocupado", comenta, mostrando as marcas no corpo deixadas pelos oito anos de hemodiálise, antes do transplante. Sua filha, Aline de Barros, conta que o pai nem está conseguindo dormir direito. "Só quem está vivendo esse problema sente."

Morador próximo de Mauri, na Vila Haro, José Carlos de Campos vive com um fígado transplantado também há uma década. Como sua dose é um pouco mais baixa, ele contou ter uma quantia em casa que ainda conseguirá dar conta de sua necessidade por algum tempo. "Mas eu fui buscar outros medicamentos e realmente disseram que está em falta. Liberei para que assim que chegarem possam entregar para outros pacientes." Mesmo tendo doses em casa, ele se mostra temeroso com ameaça de um dia não tê-lo. "A gente não sabe o que pode acontecer se ficar sem tomar."

Aline relata que o medicamento custa caro e mesmo nas farmácias está em falta. O custo varia de R$ 600 a R$ 1.200 a caixa com 100 comprimidos, dependendo do fabricante.

O presidente da Associação dos Pacientes Doadores e Transplantados Renais de Sorocaba e Região (Transdoreso), Leomar Gregório, diz que é grande a quantidade de pacientes que estão procurando a entidade em busca da medicação. "O mês fechou e o remédio não veio. Quem foi no começo do mês conseguiu, mas alguns pacientes não conseguiram retirar nada. Quando temos, a gente arruma, mas não dá para todo mundo."

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