Remédios para sintomas de infecção urinária, como Cystex e Pyridium, oferecem riscos?
Os analgésicos são usados para aliviar dores e desconfortos causados pela cistite. Se usados sem orientação, podem agravar essa e outras infecções
RAFAEL CISCATI
28/07/2017 – 11h19 – Atualizado 28/07/2017 11h56
A dúvida
É verdade que medicamentos para infecção urinária, tipo Cystex e Pyridium, podem piorar a infecção?
Lúcia Assis, de Campo Largo, PR
As infecções do trato urinário – no plural, porque podem afetar a uretra, a bexiga, caso da cistite, ou, em alguns casos, até os rins – estão entre os problemas de saúde mais comuns entre as mulheres. Estima-se que 50% delas vão enfrentá-las ao menos uma vez na vida. E que, dessas, 25% terão infecções recorrentes, mais de três vezes ao ano. “Mas elas não são nenhum bicho de sete cabeças”, diz Jorge Haddad, chefe do setor de uroginecologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).
As diretrizes da Associação Médica Brasileira (AMB) recomendam que o tratamento desses problemas seja feito com antibiótico, receitado pelo médico. É ele que vai solucionar a infecção, combatendo a bactéria invasora – geralmente, a E. coli, um microrganismo que habita o intestino humano, mas que é prejudicial em outros contextos. É comum também os médicos receitarem analgésicos para o trato urinário. Eles amenizam os sintomas típicos dessas infecções – como ardor ao urinar, o desejo constante de ir ao banheiro e as dores abdominais. E são usados junto com o antibiótico por tempo limitado. A recomendação é de que não sejam consumidos por mais que dois dias.
Os analgésicos para trato urinário mais comuns são os compostos baseados em metenamina e fenazopiridina – os princípios ativos que compõem o Cystex e o Pyridium, respectivamente, os remédios de que a Lúcia falou. Apesar de largamente utilizados, eles não têm função na cura da doença: “Apenas aliviam os sintomas”, diz Haddad. “Depois de 48 horas, quando os antibióticos começam a fazer efeito, deixam de ser necessários.”
A metenamina e a fenazopiridina acompanham o tratamento das infecções urinárias desde a primeira metade do século XX. A fenazopiridina chegou ao mercado em 1914, antes da descoberta dos antibióticos. E por muito tempo pensou-se que era capaz de resolver, sozinha, o problema. A comunidade científica começou a duvidar dessa capacidade por volta da década de 1930 – mas poucos trabalhos foram feitos para analisar a ação da fenazopiridina no organismo humano. Um dos primeiros estudos a questionar a eficiência do composto foi feito em 1975, por pesquisadores da Universidade de Dusseldorf, na Alemanha. Os cientistas recrutaram 392 pacientes – homens e mulheres – que sofriam com infecções urinárias. Ministraram um tratamento com fenazopiridina a 193 deles. Aos outros 199, deram um antibiótico – o flavoxato. O antibiótico se provou mais eficiente.
No caso da metenamina, há sinais de que além de funcionar como analgésico, ela também é eficaz quando usada em terapias destinadas a prevenir a infecção urinária recorrente. A conclusão é de um time do Hospital Príncipe de Gales, na Austrália. Em 2012, os pesquisadores analisaram 13 estudos a respeito desse uso específico da substância. Eles, no entanto, fazem algumas ressalvas – individualmente, os estudos envolviam número pequeno de participantes, o que pode ter comprometido a qualidade dos resultados [Continua depois da imagem].
De todo jeito, nenhum desses dois compostos se mostrou eficaz para o tratamento das infecções urinárias. Nem todos os pacientes sabem disso. Nos Estados Unidos, uma pesquisa da Universidade da Califórnia em San Diego e em Los Angeles entrevistou 434 mulheres que haviam adquirido fenazopiridina entre 2000 e 2001. O objetivo era avaliar o conhecimento dessas pessoas acerca da droga. Quase metade delas (47%) disse achar que a substância tinha propriedades bactericidas, e que podia curar. Esse equívoco é um problema de saúde em potencial.
No Brasil, nos Estados Unidos e em outras partes do mundo, essas duas drogas podem ser adquiridas sem receita médica. Quando compra a droga por conta própria, e sente os sintomas amenizar, há quem postergue a visita ao médico: “A pessoa pensa que o problema foi resolvido”, diz Haddad. Não foi – e a demora pode fazer com que se agrave. O mais comum é que a infecção urinária afete a uretra e a bexiga. Se há demora no tratamento, diz Haddad, aumentam as chances de os rins serem afetados: “É um quadro mais grave”.
E o que eu faço?
Essas duas drogas são recomendadas apenas como acompanhamento ao tratamento com antibióticos, porque aliviam as dores associadas às infecções urinárias. Elas disfarçam os sintomas, mas não tratam as causas da infecção. Por isso, há um risco importante de ela se agravar se um médico não for consultado para fazer o diagnóstico correto e prescrever o medicamento mais adequado para combatê-la.
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