Sabor artesanal
Público cervejeiro escolhe a produção caseira e artesanal como alternativa para experimentar novos sabores. Mercado especializado segue crescendo em Fortaleza
A paixão pela cerveja artesanal começou com um encontro informal entre amigos. O publicitário Bruno Biú, 32, tornou hobby a experiência de degustar um produto que passava longe do processo de industrialização da bebida, até que ele e os amigos se interessaram pelo processo de fazer cerveja em casa.
"Isso já tem um pouco mais de dois anos. Começamos, entre a gente, a cozinhar e beber, e passamos a colher opiniões com amigos, arriscar nas receitas, e o feedback foi positivo", lembra.
Foi o que motivou Bruno e os amigos a encararem a cerveja também como um negócio e assim a cervejaria Luzterr (@luzterr) está em fase de implementação. "De uns seis meses para cá, a gente criou a marca, estabelecendo não mais só como hobby. Temos participado de eventos com a nossa cerveja e parcerias com restaurantes locais", conta.
Em estados como São Paulo e Rio Grande do Sul, o mercado cervejeiro já está estabelecido há mais tempo, mas no Ceará ainda é preciso enfrentar burocracia para elevar a marca a uma microcervejaria. "Toda a legislação é complicada para o microcervejeiro, mas estamos tentando oficializar a luzterr como cervejaria mesmo, dentro dos requisitos. Enquanto isso, estamos trabalhando a marca. Queremos abrir a cervejaria e aumentar a produção", afirma Bruno.
O espaço que a cerveja caseira ou artesanal recebeu nos últimos anos vem muito da paixão que configura a "cultura cervejeira", que enxerga a bebida não apenas como um elemento de socialização e divertimento, mas também como uma experiência mais ampla. "Vem muito da paixão, está muito ligada a isso, à questão sensorial, do paladar, olfato, provar um sabor novo. Acaba que a gente sempre se diverte fazendo. Não deixamos de fazer reuniões de amigos, mas passou a ter uma projeção maior", reflete Bruno.
O empresário faz uma comparação do "boom" da cerveja com o que aconteceu com o vinho. O sabor muda por ter um processo de produção mais refinado, com ingredientes que a bebida industrializada não comporta. "Por isso o processo é interessante para quem cria, porque se aproxima da gastronomia, como para quem prova. A experiência de beber é mais rica, tanto que as pessoas que se interessam tendem a guardar rótulos, igual ao vinho".
A empresária Carol Zilles aposta na variedade de sabores artesanais no cardápio oferecido pelo Bru – Cerveja & Café
Mercado
A empresária Carol Zilles, 37, faz a diferenciação fundamental entre as nomenclaturas que se usa para a produção da bebida. "A cerveja caseira é a que a gente faz como hobby, não precisa de registro nem pode ser comercializada. Já a artesanal, as microcervejarias produzem e têm registro para a comercialização", define.
Carol bebeu sua primeira cerveja artesanal em 2012, ainda quando morava no Rio de Janeiro, por influência de um amigo, que se tornou seu marido. Ele começou a fazer cerveja caseira e a paixão dos dois aumentou. Em 2013, Carol fez um curso de sommelier no Science of Beer, em Ribeirão Preto, São Paulo. O casal veio para Fortaleza "para viver de cerveja" e abriu o Bru – Cerveja & Café, localizado na Varjota.
"Só temos cervejas artesanais, quatro torneiras de chope, 75 rótulos de cervejas diferentes. A única cerveja de marca que eu tenho é a Heineken. Vindo para Fortaleza ano passado, eu me tornei diretora da Associação dos Cervejeiros Artesanais do Ceará (Acerva) e me tornei professora de beer sommelier do Senac", conta.
Com mais adeptos, o mercado da bebida artesanal se desenvolve de forma mais substancial não só no Brasil, mas na América do Sul.
"Nos Estados Unidos, há mais de 30 anos isso vem crescendo. É uma questão de qualidade e variedade. A artesanal é feita para ser boa, os insumos usados são de qualidade, os processos de produção são artesanais, normalmente não tem aditivo químico. Uma cerveja artesanal te abre para uma experiência sensorial, gastronômica, não tem igual. As cervejas de marcas não-artesanais têm seu valor, elas são refrescantes e baratas, mas existe um universo atrás das cervejas", diz.
Carol conta que, em Fortaleza, é um momento promissor para a produção artesanal porque "todos estão unidos para fazer esse mercado crescer e divulgar a cultura cervejeira". Mesmo dentro de um processo de produção mais demorado, específico e, claro, mais caro para o consumidor, a ideia das cervejarias e bares é que o cliente possa beber menos, mas com mais qualidade.
O espaço foi conquistado também pela preocupação com a alimentação, que tem sido tópico relevante em tempos de vida saudável. "Prestar atenção na alimentação, buscar produtores regionais e qualidade dos alimentos. A cerveja está na mesma pegada. Quem começa a tomar cerveja artesanal e pega gosto, quer provar mais, harmonizar, e perceber que existem variedades", conta Carol.
Mulheres
O Bru também realiza eventos para promover a cultura cervejeira, entre eles a Brassagem Feminina, agendada para o dia 1º de julho, das 10h às 18h, grátis. "É uma maneira de chamar mulheres para esse universo, ampliar as possibilidades em um universo normalmente masculino. A gente só comercializa microcervejarias com registro, mas faz cerveja por hobby", afirma a empresária.
Carol também lembra do grupo Confradelas (@confradelas), confraria feminina para beber e estudar cerveja. "É um grupo consolidado, não só meu, estamos como 35 mulheres. Elas podem se inscrever para entrar no grupo, tem uma semestralidade a pagar e uma vez por mês existe um encontro que a gente estuda e bebe cerveja juntas", finaliza.
Onde beber – Cervejarias
Bru – Cerveja & Café
Av. Julio Abreu 160, loja 18, Varjota. (3067.1384)
5Elementos Cervejaria Artesanal
Av. Cel. José Philomeno Gomes, 1152, Luciano Cavalcante (3085.5070)
Hey Ho Beer Pub
Rua Nunes Valente, 1247, Aldeota (3393.8760)
Owl Beer Pub
Rua Ieda Pereira, 534, Parque Manibura (3120.0707)
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