Falta de medicamentos nas Farmácias Básicas causa indignação
Vigilância em Saúde esclarece que houve problema na entrega das medicações Leandro Domingos 25/04/2017 14:36 25/04/2017 14:37
Em tratamento para um câncer na garganta, dona Alcenira Neuza Felizardo já cansou de sair de casa, no bairro Mathias Velho, para ir à Farmácia Básica do Município, que fica no Marechal Rondon, procurar medicação. O problema é que o tratamento consiste em um verdadeiro coquetel de remédios. E a aposentada de 67 anos, sem condições de comprar a maioria, fica para lá e para cá e mesmo assim não garante a medicação. Quanto foi flagrada por nossa reportagem saindo do endereço na Santos Ferreira ontem à tarde, a idosa reclamava da falta de Amoxicilina. "Já vim duas ou três vezes só na semana passada", conta. "Aí dizem que vai chegar, dizem que vem, mas parece só enrolação", dispara. "Porque no ano passado não faltavam tantos remédios como está faltando este ano. Alguma coisa tem de errado."
É o que pensa também a dona de casa Cleusa Rosa dos Santos, que debaixo de chuva foi até a farmácia ontem atrás de Amitriptilina, remédio para "os nervos" que é essencial para o tratamento que vem fazendo. A moradora do bairro Estância Velha inclusive disse ir até a farmácia dia sim, dia não, na tentativa de garantir os comprimidos. "Eles só sabem dizer que não tem previsão de chegada, que não sabem quando vem, é sempre a mesma coisa", desabafa. Aliás, a medicação é uma das mais procuradas conforme constatou nossa equipe. "É um remédio controlado que é difícil de achar", aponta Luis Eduardo Queiroz. "Eu moro aqui perto e seguidamente passo para ver se chegou, mas já faz bastante tempo que não acho."
Pegar ficha para quê?
Uma ida até a Farmácia Básica já não é nenhum passeio. Quem vai é porque tem alguma enfermidade. Ou está indo pegar medicamentos para alguém. Agora, facilitaria um pouco se houvesse uma lista dos medicamentos "faltantes" na porta do estabelecimento. Quer dizer, ao ler a lista, a pessoa evitaria pegar uma ficha e esperar até o atendimento no guichê para ser informada que "não tem." "Peguei ficha para quê? Só para sentar e ouvir que não chegou o remédio", reclamou Neraci Rosada. "Depois a gente fica brava e não sabem por quê? Se colocassem uma listinha, eu nem esquentava banco. Acham que a gente não tem mais coisas para fazer?"
Muita reclamação no Guajuviras
O problema não se restringe apenas a unidade central na Santos Ferreira. O problema tem ocorrido desde o início do ano, conforme relatos. Neuza Maria da Luz se recupera de um AVC. Ela foi até o posto no meio da tarde de ontem e não encontrou nem um AAS para tomar. "Preciso tomar Sinvastatina, mas não consigo já faz um tempão", diz. "Pior que nem o AAS eu encontrei desta vez."
O problema da dona de casa Cátia Senna, entretanto, é a asma do filho de 5 anos. Ela tentou conseguir Aerolin e Prednisolona na farmácia, mas saiu com as mãos abanando. "O Aerolin eu acho que consigo de graça nas farmácias no Centro, mas o Prednisolona eu vou ter que pagar, porque se depender aqui da farmácia, meu filho vai ficar doente."
Portas fechadas aos domingos
Foi na semana passada que a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) anunciou o fechamento da Farmácia Básica do Município aos domingos. A decisão foi tomada depois que um estudo mostrou que a procura era em média de 15 pessoas por domingo, chegando a cair para quatro em alguns dias. O mesmo levantamento apontou que na primeira quinzena de abril houve mais de 330 atendimentos diários de segunda-feira a sábado. A medida, segundo a SMS, resultará em uma economia anual de aproximadamente R$ 35 mil aos cofres públicos.
Problema com os dias contados
De acordo com Vigilância em Saúde, o problema está com os dias contados. Diretora da Vigilância, Vanessa Dornelles esclarece que não houve problema na compra ou na encomenda, mas sim na entrega das medicações, que teriam acabado de chegar nos depósitos da Prefeitura de Canoas. "Até quarta-feira os postos serão reabastecidos", garante.
Assim, Amoxicilina, AAS, Paracetamol, Prednisolona, Aerolin, Amitriptilina, entre outros medicamentos tidos como "faltantes" devem estar novamente à disposição da população a partir de quarta. A exceção fica por conta de medicamentos como o Anlodipino, indicado para a pressão, que só deve estar novamente nas farmácias na próxima semana.