Doce de leite Rocca vai de ‘último recurso’ a sucesso de vendas
Empreendimento da família Barbosa surgiu do desalento e hoje fatura R$ 1 milhão por ano
Letícia Fontes
O primeiro investimento da família Barbosa, em Pouso Alegre, no Sul de Minas, foi de R$ 20 mil na compra de maquinários para a fazenda. A aplicação era a última opção da filha do “seu José”, Rosiane Barbosa, para recuperar os negócios da família. Produtora de leite há mais de meio século na cidade, a família fundou em 2014 a Rocca, que surgiu no mercado pensando na versatilidade do sabor caseiro e tipicamente mineiro do doce de leite. A estratégia parece ter dado certo. Menos de três anos após seu nascimento, o rendimento anual da empresa é de R$ 1 milhão.
“Meu pai já estava pensando em desistir do negócio porque estávamos acumulando prejuízo. O leite estava sendo vendido muito barato e como commodity. Não conseguíamos nos programar. O principal objetivo era agregar valor ao leite como matéria-prima e fazer com que as pessoas provassem um sabor único e diferenciado”, explica Rosiane, uma das sócias da empresa.
Considerado semiartesanal, visto que ainda depende do recurso humano para atingir o ponto ideal, o doce de leite Rocca é fabricado somente com leite da fazenda da família. Um dos diferenciais da empresa, segundo Rosiane, é acompanhar as tendências do mercado. De acordo com a sócia, os animais são criados no pasto e a receita leva poucos ingredientes.
“Há um controle total da origem de cada ingrediente e de todos os processos, até a distribuição. Muitas empresas utilizam em sua receita amido e glicose de milho, o que reduz o custo dos fabricantes, mas descaracteriza a tradição do produto. Acreditamos em rótulos mais limpos e jovens”, ponderou.
Expansão
Atualmente são produzidos 9.000 potes de doce por mês e 400 litros de leite por dia. A produção ainda é pequena, mas o desafio, segundo os sócios, é desenvolver um produto já tradicional em um Estado também tradicional. “O diferencial é que tiramos o leite e mandamos direto para a fábrica. Vamos crescendo aos poucos, não queremos perder nossa essência. Assim como demoramos um ano para chegar à receita que utilizamos hoje, estamos dando um passo de cada vez”, avaliou o sócio e marido de Rosiane, Raphael Figueiredo.
Vendendo o produto somente em Minas Gerais, a empresa tem como meta conquistar o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF) até o primeiro trimestre de 2018, o que lhe permitirá comercializar além das divisas de Minas. Os produtos já são certificados pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). “Estamos investindo R$ 50 mil para obter a estruturação necessária para conseguir essa certificação de nível federal. Até por isso, nosso foco comercial é Minas Gerais e Belo Horizonte, especificamente, por enquanto. Os consumidores já nos encontram em dois supermercados importantes da cidade – Verdemar e Super Nosso –, além de municípios turísticos mineiros como Monte Verde, Tiradentes e Gonçalves, entre outros”, frisou Figueiredo.
Sorveterias ajudam
De acordo com os sócios da empresa, a demanda pelo doce de leite sofre uma certa sazonalidade no mercado, sendo mais procurado nos meses de inverno. Procurando driblar e amenizar a crise no consumo, a empresa é participante ativa de ações do Sebrae, sendo vinculada ao projeto Origem Minas, que divulga e promove o agronegócio mineiro.
Presença constante nas feiras e exposições organizadas pela instituição no Estado, a empresa fez uma parceria com algumas sorveterias mineiras que oferecem sorvetes também com a mesma proposta da Rocca, utilizando poucos ingredientes e receitas originais.
“Graças a essas parcerias conseguimos o que sozinhos jamais conseguiríamos. Percebemos que nosso público é formado por consumidores que são adeptos a produtos diferenciados, e buscar esses clientes foi a estratégia. Até chegar neste ponto perdemos uns R$ 30 mil”, avalia a sócia Rosiane Barbosa.
“Começamos do zero, e quem conseguiu se destacar em nível de preços e qualidade se destacou no cenário em que estamos vivendo”, complementa seu marido e sócio, Raphael Figueiredo.
Minas Gerais
O doce de leite tem sido um dos destaques da balança comercial do Estado. No ano passado, Minas foi o Estado que mais exportou doce de leite no país (US$ 106,42 mil).