Médicos preferem não receitar a fosfoetanolamina

Os poucos especialistas que concordaram em falar com o Pioneiro dizem que a substância não é um medicamento e orientam para não utilizar

Ivanete Marzzaro
ivanete.marzzaro@pioneiro.com

Boa parte dos oncologistas de Caxias do Sul preferem não falar sobre o assunto. As duas especialistas que falaram com a reportagem afirmaram que preferem não prescrever a fosfoetanolamina para seus pacientes com câncer. A oncologista Janaína Brollo diz que não receitaria, pois até o momento não há dados de segurança e eficácia comprovados em seres humanos.

— Julgo o câncer uma doença extremamente complexa para indicarmos tratamentos sem respaldo científico, principalmente quando temos outras opções testadas e comprovadas em estudos clínicos — defende a médica.

A oncologista Patrícia Moretto compartilha da mesma posição. Segundo ela, mesmo sendo caracterizado como um suplemento alimentar, não há definições científicas de quais são os eleitos colaterais da substância.

— Suplemento alimentar não é medicamento. Por isso, prefiro não prescrever —destaca a oncologista Patrícia.

Janaína Brollo explica que a fosfoetanolamina é uma substância sintética que mostrou eficácia contra o câncer em estudos realizados com animais, portanto, ainda experimental. Um estudo feito pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) demonstrou que não houve eficácia dessa droga em humanos com diferentes neoplasias.

— Mesmo como suplemento alimentar, eu não receitaria— ressalta a especialista Janaína.

A polêmica que envolve a pílula azul e branco

Muita polêmica envolveu a fosfoetanolamina. Sua venda foi suspensa judicialmente várias vezes. A substância ganhou destaque no final de 2015 devido a seu possível potencial de utilização no combate ao câncer.

Desenvolvida pela USP para o tratamento de tumores malignos, a fosfoetanolamina poderia ser usada no tratamento dos pacientes por "livre escolha", mediante laudo médico que atestasse a doença e assinatura de termo de responsabilidade, de acordo com o texto do projeto de lei. Houve uma enxurrada de liminares para conseguir usar o medicamento em pacientes com a doença.

Em fevereiro deste ano, a fosfoetanolamina passou a ser vendida como suplemento alimentar. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirma que não há, até agora, nenhuma comprovação científica de que a substância funcione, de fato, no combate ao câncer.

Dois laboratórios produzem a substância: o Federico Dias, no Uruguai, e o Quality Medical Line, na Flórida (EUA), e só pode ser comercializada via internet. No site, o produto é anunciado como um suplemento que melhora a qualidade de vida.

A fosfoetanolamina é uma substância produzida naturalmente pelo corpo humano nas células de alguns músculos específicos e no fígado. Há poucas informações sobre como a substância atuaria no tratamento do câncer. O pouco que se sabe é que ela poderia agir dentro da carcinogênese, ou seja, poderia ter alguma influência na formação do tumor.

Outra hipótese é que teria ação anti-inflamatória e apoptótica, em outras palavras, seria capaz de "matar" as células cancerígenas. Porém, todas essas teorias não foram comprovadas e ainda estão no campo da suposição.

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