Os vasilhames estão de volta
Trocar o vasilhame antigo por desconto no preço da nova bebida. Cada vez mais, essa mensagem será usada para convencer o consumidor a aderir aos retornáveis. Faz parte da estratégia para chegar às metas de destinação correta de embalagens pós uso de empresas de refrigerantes e cervejas.
A Ambev, empresa mais valiosa da América Latina e dona de 30 marcas de cerveja, tem a primeira PET feita 100% com material reciclado e afirma que 40% de todas as embalagens PET são produzidas com reciclados. Os vasilhames de vidro são feitos com 60% de cacos das próprias cervejarias ou vindos de cooperativas associadas.
Com incremento dos retornáveis, ampliação do uso de resina reciclada na produção de garrafas e apoio a 200 cooperativas de reciclagem, a Coca-Cola passou de um índice de destinação correta de 36% de suas embalagens em 2016 a 51% em 2017. Até 2020, quer atingir 66%. Para isso, afirma que vai investir R$ 1,2 bilhão. O valor será aplicado em maquinário para produzir novas linhas de retornáveis, os novos vasilhames propriamente ditos, campanhas para vender a ideia e investimento em cooperativas de catadores.
Até 2030, a meta global é de ter 100% de embalagens destinadas corretamente, ou seja, tudo deverá ser recolhido, reciclado ou reincorporado à linha de produção.
A empresa é a maior produtora de bebidas não alcoólicas do Brasil, com atuação em água, café, chás, refrigerantes, sucos, bebidas lácteas e energéticos. Hoje, do total de embalagens vendidas em todos esses segmentos, apenas 20% são retornáveis. São 10% em vasilhames de vidro e 10% em RefPET, que são PETs mais duráveis. Eles têm 25 vidas e taxa de retorno de 98%: voltam para a fábrica, são lavados e entram de novo na esteira de envasilhamento. "Até 2020, a taxa de retornáveis deve subir de 20% para 30%", diz Thais Vojvodic, diretora de sustentabilidade da empresa.
Além de aumentar o uso dos retornáveis, a empresa quer intensificar a porcentagem de material reciclado incorporado à produção das embalagens. Hoje, do total das vendas, 24% das embalagens têm reciclados na composição. Na composição do alumínio das latas, 60% é proveniente de material reciclado. Os 40% restantes são de material virgem, o que exige extração de bauxita. No vidro, também 60% provém de reciclados. Nos PETs, apenas 35% vêm de resina reciclada.
Um dos motivos do uso restrito de reciclados na composição de alumínio e vidro é, segundo Thais, a falta desses materiais no mercado. O alumínio, por exemplo, é disputado por outras indústrias que o usam como matéria-prima.
Já em relação ao PET, a cadeia de reciclagem é mais recente e, por isso, menos estruturada. "O uso do reciclado no PET foi aprovado só em 2010, bem depois do vidro e do alumínio. A empresa tem apenas uma indústria de reciclagem homologada para esse serviço", afirma Thais. "Não é qualquer indústria recicladora que obtém a qualidade exigida, compatível com as exigências sanitárias, por se tratar de alimento e bebida." Para atingir a meta de 66% de destinação correta em 2020, o índice de resina reciclada utilizada nas embalagens tem de passar de 24% para 32%. De todas as embalagens que chegam ao mercado com bebidas produzidas pela empresa, 7% são triadas por 200 cooperativas que recebem apoio técnico e de infraestrutura. Para atingir a meta de 2020, o percentual terá de ser de 14%.
Segundo Thais, esse incremento será alcançado por uma ampliação do número de cooperativas atendidas e pelo maior investimento em profissionalização das pessoas que trabalham nessa atividade. Coca-Cola e Ambev anunciaram, em outubro de 2017, acordo para unificar suas iniciativas de reciclagem. "Decidimos parar de sobrepor investimento, chegamos à conclusão que era necessário unir esforços para estruturar a cadeia, que é muito desordenada", diz.
No Brasil, existem cerca de mil cooperativas de reciclagem, mas há muitos catadores independentes. Segundo Thais, a informalidade e a atuação de "atravessadores" entre os catadores e as recicladoras de PET dificulta o aumento do uso da resina reciclada na produção de embalagens.
"Os atravessadores armazenam PETs em grandes quantidades e por muito tempo, para conseguir preços maiores. O problema é que o PET vai perdendo a qualidade conforme o tempo passa. Ele fica pior e mais caro", relata. Por causa dessa inflação do preço, as empresas que produzem ou engarrafam bebidas acabam optando por recorrer às matérias-primas virgens para as embalagens, o que não se justifica do ponto de vista ecológico.
Para organizar a cadeira, as empresas estão estudando todos os fluxos atuais do setor. "A ideia da união das empresas é atuar como organizadoras de logística, porque elas têm expertise nisso. Vão entrar na cadeia sem colocar a margem de lucro que os atuais atravessadores têm e organizar o ciclo de forma compartilhada, para não perder valor."
Segundo Thais, além de Coca-Cola e Ambev, a iniciativa deve incluir mais quatro grandes indústrias, que já manifestaram interesse em aderir. "Nosso objetivo é engajar todos, ter resina reciclada com valor mais baixo e aumentar o valor pago pelo material aos catadores", afirma. "Não queremos perpetuar o trabalho da catação, e sim profissionalizar a cadeia", diz.
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