Alexandre Bompard fará mudanças e pretende contar com confiança da equipe

Provavelmente, dizem especialistas, ele deve seguir a cartilha básica do varejo alimentar: transformar redução de custos em eficiência e transferir isso para os preços, ampliando escala

O mercado pode esperar mudanças visíveis na operação do Carrefour – tanto nos corredores da sede da varejista francesa quanto do portão para fora. Se irão funcionar ou não, a história é outra.

Alexandre Bompard, ex-CEO da Fnac, à frente do Carrefour a partir de julho, terá que tratar questões internas delicadas no curto prazo, e outras, especialmente ligadas à estratégia e à gestão do grupo, que devem ter efeito maior em 2018.

Num primeiro momento. Bompard, jovem, com 44 anos, carismático e astuto – conseguiu driblar as pressões públicas sobre os efeitos à Fnac, caso abandonasse a rede, após bônus recordes – vai ter que usar de alguma habilidade para não "queimar pontes". Com base em seu histórico, é provável que já esteja trabalhando para trazer parte do time para perto dele, especialmente considerando que o francês nunca trabalhou no varejo alimentar.

Vai depender de sua capacidade para ganhar a confiança da equipe, alguns na faixa dos 60 anos (Georges Plassat, o atual CEO que deixa o cargo, tem 68) e muitos há mais de meia década na empresa.

Parte deles, inclusive, andou muito perto da cadeira do novo chefe. Plassat defendia publicamente a escolha de um nome interno para o cargo, mas venceu a aposta dos sócios Philippe Houzé e Abilio Diniz em um executivo do mercado. Chegaram a ter seus nomes mencionados para a função Pascal Clouzard, executivo do Carrefour na Espanha; Noël Prioux, diretor-executivo do grupo na França e Pierre-Jean Sivignon, diretor financeiro.

Este último, é talvez um dos que ficará mais próximo de Bompard daqui para frente. Isso se mudanças não ocorrerem na equipe.

Apesar de Bompard precisar estabelecer uma rede de confiança próxima, tem circulado informações no setor de que ele poderia indicar nomes de fora para o Carrefour, inclusive na área financeira. O tema é sensível e Bompard tem algum histórico nisso.

Após ter entrado na Fnac em 2010, ele trocou mais da metade da diretoria executiva da empresa. Em 2016, apenas 5 dos 12 diretores restavam na liderança. "Uma das prioridades de Bompard será fazer o time embarcar em seu plano de negócios. Isso irá requer muito de sua habilidade pessoal", escreveu em relatório o analista do UBS, Daniel Ekstein.

Se mudanças internas podem ocorrer nos próximos meses, os ajustes estratégicos devem começar a mostrar resultados após a segunda metade de 2018, pelos cálculos de analistas.

Bompard vai ter que seguir um caminho diferente daquele traçado por Plassat, se quiser bater expectativas já colocadas na mesa do executivo. Se Plassat teve que avançar no plano de reinvenção dos hipermercados, com foco maior em serviços, atendimento, conveniência e na integração dos diversos canais de compra, Bompard provavelmente não deve focar, agora, neste caminho.

O novo presidente terá que lidar com queda na participação de mercado na França, perda de competitividade em termos de preço (especialmente para a rival Leclerc) e, em termos mundiais, deve voltar o olhar para a necessidade de reduzir estruturas e custos. É o que o relatório do Barclays, de 12 de junho, resume em uma linha "Novo CEO, mesmos desafios". As despesas operacionais em relação à receita foram a 18% no grupo em 2016 (acima da faixa história de 16% a 17%). Na era de Bompard na Fnac, a empresa acumulou € 290 milhões em corte de custos entre 2012 e 2016, calculou Ekstein.

Provavelmente, dizem especialistas, ele deve seguir a cartilha básica do varejo alimentar: transformar redução de custos em eficiência e transferir isso para os preços, ampliando escala. Na Fnac, com Bompard, o "gap" de preços entre a rede e a Amazon, caiu de 10% em 2011, para entre 2% e 3%.

Sobre o Brasil, analistas tentam entender o que Bompard pensa sobre a oferta pública inicial de ações no país. "Questionamos se ele irá continuar com o IPO no Brasil neste ano, dada a visibilidade limitada sobre a economia brasileira", escreveu em relatório Nicolas Champ, analista do Barclays.

Fonte: Valor Econômico

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