Artigo: ‘O crescimento de 39,6% no número de cervejarias em 2016 é espetacular’

30/05/2017 12:22

por Carlo Enrico Bressiani*

O mercado brasileiro de cerveja é o terceiro maior do mundo, ficando atrás apenas da China e EUA. Com uma produção de mais de quase 14 bilhões de litros, o consumo médio no Brasil é de mais de 68 litros por habitante/ano, muito a frente dos nossos vizinhos da América Latina. Para se ter uma ideia, o consumo do Chile é de 49 litros, da Argentina 47 e do Uruguai, apenas 30 litros por habitante/ano. Claro que se compararmos à República Tcheca, com 143 litros ou Alemanha com 106 litros por habitante/ano, ainda há espaço para o crescimento.

Com a revolução da cerveja artesanal que tem como lema o “beba menos, beba melhor”, a tendência não é de incrementos significativos no volume total de cerveja consumida no país, e sim uma migração de cervejas mainstream (convencionais), que buscam apenas o volume de consumo, para cervejas especiais, que trazem outras sensações de aroma, gosto e textura.

A tendência de diversificação da alimentação é mundial, assim com um retorno aos produtos locais após uma onda massificante nos anos 1990 e início da década dos 2000. Desta junção de tendências globais, emerge a força do mercado de cervejas artesanais brasileiras.

Em 2016 foram registradas 148 novas cervejarias segundo o MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – chegando a um total de 522 cervejarias no Brasil em dezembro de 2016. O crescimento de 39,6% no número de cervejarias no Brasil é inédito e espetacular. Nós que estudamos o mercado há anos esperávamos a metade deste crescimento para 2016. O que explica este fenômeno?

Há três grandes motores por trás desta onda empreendedora. De um lado está o incremento de pessoas que consomem cervejas especiais e muitos deles produzem artesanalmente e sonham com seus negócios próprios. De outro, estão investidores ávidos por mercados de alto crescimento, como por exemplo, este que cresce a taxas de cerca de 20% há quase uma década. E o terceiro impulso é a crise que assola o país desde 2014 e faz com que muita gente procure alternativas de trabalho.

A maior parte destas cervejarias ainda está localizada no eixo Sul-Sudeste, com mais de 90% de concentração de mercado, mas há movimento em todos os estados brasileiros. Apesar do mercado de cerveja artesanal ainda não ter rompido a barreira do 1% de participação – estimamos hoje uma produção total em torno de 124 milhões de litros por ano –, ele segue a passos firmes neste caminho.

Países como Uruguai e Argentina já romperam a barreira do 1% de participação de mercado e os EUA já passaram dos 12%. Estamos com o número de cervejarias que os EUA tinham em 1994, em 1998 eles já tinham triplicado este número. Estamos no mesmo caminho?

Ainda há barreiras muito grandes para o crescimento da cervejaria artesanal brasileira. Por parte das grandes cervejarias há casos muito fortes de concorrência desleal, dumping e isenções tributárias injustas e prejudiciais à competitividade dos pequenos. Por parte do mercado, há questões relacionadas ao desconhecimento e aos altos preços da cerveja artesanal à disposição do consumidor. Internamente às microcervejarias os maiores entraves são o baixo nível de produtividade dos equipamentos e mão de obra, associados a problemas logísticos de distribuição e altos impostos.

Quanto ao tamanho médio das cervejarias, são fábricas que produzem em média 20 mil litros por mês, a segunda maior média da América Latina. Países como Equador e Peru, por exemplo, têm cervejarias que produzem em média pouco menos de 2 mil litros por mês, Chile e Argentina menos de 6 mil litros mês, e Uruguai menos de 10 mil litros mês.

As boas notícias para 2017 e 2018 são a possibilidade de entrada de pequenas cervejarias no regime tributário do Simples Nacional a partir de 2018 e a crescente profissionalização dos trabalhadores e empreendedores do setor. Há um mundo de apaixonados trabalhando a cada dia para fazer melhores cervejas, reduzir custos, criar eventos, disseminar cultura cervejeira e ouvir com atenção o consumidor. Muita gente boa dedicando seu tempo e dinheiro a fazer este mercado ultrapassar a barreira do 1% de participação. Prevemos melhores dias, crescimento sustentável e a possibilidade de beber a cerveja da sua região a cada um dos brasileiros que apreciam este precioso líquido, que é arte, ciência, história, gastronomia e cultura.

*Diretor Geral Escola Superior de Cerveja e Malte e Faculdade Épica

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