Automedicação pode encobrir doenças e mascarar sintomas

Abusos de analgésicos e anti-inflamatórios são os mais comuns

Franco Malheiro

O uso indiscriminado e sem consulta médica de antibióticos para tratar de crises de sinusite crônica levou a fotógrafa Ariane Faria ao hospital.

“Eu desmaiei, tive vômito, meu estômago foi completamente atacado”, relata a fotógrafa que estocava remédios em casa, por não completar os tratamentos prescritos pelos médicos. “O problema se agravou quando eu tomei com um intervalo menor do que o usual”.

De acordo com especialistas, uma das principais complicações da automedicação é ela encobrir um diagnóstico, o que pode causar danos desde intoxicações e até mascarar sintomas de doenças graves.

“Chamamos sempre atenção para o erro de diagnóstico. As pessoas acreditam estar tratando de uma doença, mas estão, na verdade, com outra e acabam utilizando medicamentos errados”, chama a atenção o médico Oswaldo Fortini, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, regional Minas Gerais.

O médico alerta para os riscos de mascarar os sintomas. “A pessoa aparece com uma dor forte no estômago e entra com medicamento sem consultar o médico, e aquela dor pode ser, por exemplo, uma apendicite que, se não cercada logo, pode se agravar muito”, destaca Fortini.

De acordo com o clínico geral, os abusos mais frequentes são de remédios como analgésicos e anti-inflamatórios. “Esses remédios mais corriqueiros e de fácil acesso, as pessoas abusam mais”, relata. Ele ressalta que, se utilizados de forma indiscriminada e por períodos prolongados, esses medicamentos podem causar sérios danos à saúde. “Anti-inflamatório com uso prolongado pode causar no paciente problemas renais, e analgésicos podem afetar o sangue, aumentando a probabilidade de hemorragias”, alerta.

A advogada Carolina Parreira, 25, sofre de enxaqueca e, por isso, sempre abusou do uso de analgésicos. “Chegou a um ponto em que a minha dor de cabeça estava muito frequente e cada vez mais intensa, além de não passar facilmente, mesmo com o uso de remédios”, conta a advogada. Ela comenta que precisou ficar um tempo sem fazer uso de analgésico, e com isso as crises de enxaquecas foram diminuindo. “Eu tomava todo dia. Sentia uma pontada e já tomava um comprimido. Precisei ficar um tempo sem tomar. Hoje, tenho menos crises, mais quando fico sem meus óculos”, completa.

Mistura. Os especialistas alertam para os riscos de interações medicamentosas. Alguns pacientes crônicos, que fazem uso de determinados medicamentos, correm o risco de intoxicação com automedicação.

Estatísticas. A cada quatro brasileiros que vão às farmácias comprar remédios, três o fazem sem receita médica, mostra pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Continuada da Federação Brasileira de Farmácias (Ifepec).

Remédios para nariz trazem risco à saúde

Nesse período do ano, devido ao tempo seco, é comum que as pessoas fiquem com o nariz ressecado e congestionado. Com isso, passam a recorrer ao uso de soros, e remédios de aplicação nasal.

O médico Oswaldo Fortini alerta para o grande risco que esses remédios oferecem. “Muitos desses remédios possuem efeito de vasoconstrição, prejudicando a circulação sanguínea, podendo causar até mesmo infarto”, ressalta.

A advogada Carolina Parreira fazia uso abusivo de um desses descongestionantes nasais, o que lhe causou dependência. “Meu nariz foi totalmente corroído pela química do remédio, e parei de sentir cheiro”, conta.

“Precisei ficar sem usar e, para isso, usava apenas algumas horas do dia, e fui diminuindo a dosagem até ficar apenas com o soro fisiológico”. De acordo com especialistas, é recomendável, nesta época do ano, o uso apenas de soro fisiológico puro.

Problemas medicamentosos

Anticoagulantes com anti-inflamatórios: Pode causar hemorragias.

Paracetamol com álcool: O paracetamol é bastante agressivo ao fígado. Usado para curar dores de cabeças de ressacas alcoólicas, pode envenenar fígado e rins.

Antibióticos: O mau uso pode criar resistência em bactérias, intensificando as infecções.

Descongestionantes nasais: Esses remédios podem causar dependências e problemas cardíacos sérios.

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