Boldrini espera Anvisa para comprar remédio
Publicado 02/05/2017 – 20h31 – Atualizado 02/05/2017 – 20h31
Por Rafaela Dias
O Centro Infantil Boldrini aguarda desde a última sexta-feira a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a compra de 500 frascos do princípio ativo asparaginase, fabricado pela Medac Phama e utilizado para o tratamento de 40 crianças com leucemia. O hospital usa a medicação de procedência alemã ou americana que tem eficácia de 90%, mas o Ministério da Saúde entregou um lote do medicamento chinês fabricado pelo laboratório Beijing SL Pharmaceutical em fevereiro para ser usado no lugar.
“Isso é um descaso com os pacientes e suas famílias. Pedimos uma comprovação do Ministério da Saúde de que a medicação já tenha sido testada em crianças chinesas e qual o resultado. Não recebemos resposta, diante disso nos restou fazer a importação por conta própria, já que os pacientes não podem ter o seu tratamento interrompido nem por um dia e não devem ser submetidos a testes. O estoque do remédio terminou no final do mês passado e, só nas últimas semanas, apareceram três novos casos da doença. O prazo já passou e a Anvisa ainda não autorizou nossa compra, conforme prometido e sem um motivo claro”, informou a presidente do Boldrini, Silvia Brandalise.
“Hoje as crianças brasileiras com leucemia têm apenas 47% de chance de cura em 5 anos de evolução da doença. No mundo todo, esse índice chega a 80%. Não podemos permitir que o uso irresponsável de um novo medicamento diminua ainda mais as chances dessas crianças. Entraves burocráticos também não podem arriscar vidas”, disse.
Ainda segundo a médica, enquanto a medicação alemã ou americana custa US$ 224 o frasco, chinesa custa US$ 38. “Não podemos, sem exata comprovação, substituir o fabricante de remédio essencial apenas pela queda no preço”, disse. Em nota, o Ministério da Saúde informou que a compra do remédio chinês cumpriu exigências da lei de licitações e não sofreu impugnações. A reportagem entrou em contato com a Anvisa sobre a autorização esperada pelo Boldrini, mas não teve resposta até o fechamento da edição.
Ainda esta semana, o Conselho Federal de Medicina (CFM) apresentou um pedido ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para que avalie junto ao Ministério da Saúde as denúncias sobre a falta de segurança e eficácia do medicamento chinês. O presidente do CFM, Carlos Vital, defende a avaliação rigorosa da qualidade do medicamento e que o Ministério Público deve dar uma especial atenção ao fato do próprio Ministério da Saúde ter pedido a avaliação de qualidade do produto, já distribuído para centenas de hospitais pelo País.
Para o Conselho, a medicação anteriormente utilizada e atestada para o tratamento da leucemia deve ser continuada em caráter emergencial. “Janot é uma pessoa pública que inspira confiança, ética e integridade. É uma excelente iniciativa. Temos a confiança de que a Procuradoria tome alguma providência”, disse Silvia Brandalise.
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