Brasil terá 1º medicamento nacional contra o câncer

Hospital de Câncer de Barretos participa de projeto que testará novo fármaco em breve

Elton Rodrigues

O Brasil está prestes a testar o que pode ser o primeiro medicamento totalmente brasileiro para o tratamento do câncer. A novidade foi anunciada pelo médico Luis Eduardo Rosa Zucca, mestre em Oncologia e coordenador médico do Departamento de Oncologia Clínica do Hospital de Câncer de Barretos (HC), durante o Seminário "Câncer – Prevenção, Tratamento e Pesquisa".

Explicando que ele ainda não poderia dar detalhes sobre a nova droga, ele comentou que o medicamento foi desenvolvido pelo Instituto Butantan e será testada em breve no HC de Barretos e em um hospital de São Paulo. Já existem no hospital de Barretos 75 estudos clínicos de medicamentos contra o câncer. Um medicamento desse demora de dez a 15 anos para ser desenvolvido, testado e aprovado.

Luiz Zucca abriu o Seminário falando sobre "Bate papo sobre pesquisa clínica". Ele comentou que há muitas fórmulas caseiras usadas popularmente para tratar o câncer e que precisam ser efetivamente pesquisadas para se definir se há real capacidade terapêutica ou não.

“Já me perguntaram de babosa ou outras ervas medicinais funcionam. A resposta é que não sei. Elas nunca foram testadas. Nunca houve pesquisa clínica para ver se é segura e eficiente. Muitas coisas são vendidas como promessa de que curar o câncer e esses comerciantes se apegam ao fator emocional do paciente”, disse.

O especialista afirma que estudos mostram que algumas plantas são eficientes, inclusive dando origem a medicamentos. É o caso da vinca (gênero de erva lenhosa, da família das apocináceas) e do teixo (planta de origem europeia, da família das taxáceas).

“São produtos que passaram por estudo em laboratório e depois foram para pesquisa clínica (nos pacientes). Hoje sabemos que dão origem a quimioterápicos. Minha crítica é para medicamentos que não foram totalmente testados, como é o caso da fosfoetanolamina. Ela só tinha passado pela fase pré-clínica, sem ser testada em humanos”, afirmou.

A fosfoetanolamina é um medicamento que vinha sendo anunciado como promessa para tratamento do câncer, mas o remédio não passou por todas as etapas de validação e liberação. Em março deste ano o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) anunciou que decidiu suspender a inclusão de novos pacientes nos testes clínicos devido à ausência de “benefício clínico significativo” nas pesquisas realizadas até o momento.

Zucca explicou que, para que um medicamento possa ser comercializado, ele é submetido a

um rigoroso processo de pesquisa, desenvolvimento e testes de segurança para só depois passar para a fase clínica, que é quando começa a ser testado em humanos. “Nosso estudo é muito sério. Todos passam por um comitê de ética. Primeiro tem a fase de tolerância, depois de toxicidade e por último é comparado com o que há de mercado para saber se é mais eficiente ou não”, disse.

De acordo com o especialista, os pacientes do HC têm a vantagem de poder receber essas drogas antes que passem a ser comercializadas. “Na semana passada foi aprovado mundialmente um medicamento para tratamento de câncer de bexiga que foi testado no HC. Já recebemos mais de 300 remédios para estudo e muitos viraram medicação”, afirmou.

Burocracia

O oncologista explica que o Brasil responde por apenas 3% das pesquisas mundiais de medicamentos de combate ao câncer e que esse baixo número está relacionado à burocracia brasileira. “Nos Estados Unidos demoram três meses para conseguir uma autorização, enquanto aqui tem de esperar um ano”, disse.

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