Thiago Bastos / O Estado 24/11/2017
Até o momento, de acordo com a Liga Canábica, apenas cem pacientes no Maranhão possuem autorização para o uso do medicamento feito a partir da manipulação da maconha.
SÃO LUÍS – O uso do canabidiol, medicamento feito a partir da maconha para o tratamento de pacientes com microcefalia no Maranhão, foi o tema principal do debate intitulado Uso Medicinal da Cannabis, realizado na tarde de ontem no Centro Pedagógico Paulo Freire, no campus da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em São Luís.
Durante o evento, a Liga Canábica – grupo local que defende a liberação do remédio para fins de tratamento de saúde – informou que, até o momento, apenas 100 pacientes no estado possuem autorização para o uso do medicamento.
O destaque do debate foi a exposição feita pela líder do Grupo de Pesquisa em Cannabis Medicinal da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Katy Lísias de Albuquerque. Ela mencionou os dados positivos de pacientes que usaram o canabidiol a partir de estudos feitos na Paraíba. Segundo ela, em 55% dos casos, não houve registro de efeitos colaterais. E em apenas 5% dos casos, foi registrado apenas um desconforto gástrico. “São resultados expressivos e que, portanto, nos levam a acreditar na eficácia do tratamento”, disse.
Validação
A representante da Liga Canábica no Maranhão, Mary Coely Tavares, informou que a meta da entidade é validar a pesquisa medicinal da maconha no território maranhense, evitando assim o uso – por parte de parentes de pacientes com microcefalia – de métodos considerados menos confiáveis. “Há o registro do uso, por exemplo, de medicamentos feitos a partir dos conhecimentos indígenas, cuja eficácia ainda não é comprovada. Logo, a ideia é autorizar o uso da maconha para este fim medicinal no Maranhão”, disse.
Segundo ela, na Paraíba – estado considerado referência nos estudos da maconha para fins de tratamento – a manipulação da maconha no tratamento de pacientes foi autorizada judicialmente. No Maranhão, a Defensoria Pública do Estado (DPE) acompanha o caso. “Tivemos reuniões na defensoria este ano para definir quais mecanismos precisamos seguir para, enfim, dar este alento às famílias com pacientes nestas condições”, frisou Mary.
Além da microcefalia, o canabidiol também é usado no tratamento de pessoas com mal de Parkinson e autismo. Enquanto que no Brasil a oferta do medicamento ainda é restrita, por questões legais, em outros países como nos Estados Unidos, o canabidiol é usado para intuitos medicinais como, por exemplo, nos cães no combate a dores nos ouvidos.
Mais
Em janeiro deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro do Mevatyl para o tratamento da esclerose múltipla. O medicamento, aprovado em cerca de 28 países, atua na minimização dos efeitos de rigidez muscular. No caso da microcefalia, a Anvisa informou que, no momento, o Mevatyl não pode ser usado pela possibilidade de agravamento das crises epilépticas, comuns nos pacientes.
Frase
“São resultados expressivos e que, portanto, nos levam a acreditar na eficácia do tratamento"
Katy Lísias de Albuquerque
Líder do Grupo de Pesquisa em Cannabis Medicinal da UFPB