Nos últimos dez anos, o volume passou de 51,3 mil toneladas para 280 mil toneladas, incremento de 484%
Michelle Valverde
O trigo mineiro chega ao mercado durante a entressafra e o produtor consegue melhor remuneração
Com a demanda interna maior que a produção e condições produtivas favoráveis, o plantio de trigo em Minas Gerais tem grande potencial de crescimento. Na safra 2016/17, a produção estadual deve chegar a 300 mil toneladas, cerca de 30% maior frente ao ano anterior. Já para os próximos cinco anos, a expectativa é alcançar 500 mil toneladas.
De acordo com o vice-presidente da Associação dos Triticultores do Estado de Minas Gerais (Atriemg), Eduardo Elias Abrain, a produção de trigo no Estado tem vantagens em relação às demais regiões produtivas, principalmente ao Sul do País. A estimativa da associação é colher entre 280 mil e 300 mil toneladas na safra 2016/17, que foi afetada pela estiagem e rendeu 230 mil toneladas. A colheita do trigo mineiro está em fase final.
“Nossa produção é a primeira a ser colhida no Brasil. Por isso, nosso trigo chega ao mercado durante a entressafra e o produtor consegue melhor renumeração. Outra vantagem é o clima. Nosso inverno é frio e seco, o que contribui para uma menor incidência de pragas e doenças, quando comparado com o Sul do Brasil, onde o inverno é chuvoso”.
O trigo tem se tornado uma opção vantajosa para o produtor no período da safrinha e vem conquistando espaço nos campos mineiros. Nos últimos 10 anos, por exemplo, a produção estadual, que era de 51,3 mil toneladas, deve encerrar 2017 variando entre 280 mil e 300 mil toneladas, um aumento de 484%. Na última década, a área destinada ao trigo cresceu de 11,7 mil hectares para 85 mil hectares, incremento de 629%.
Para o vice-presidente da Atriemg, a tendência é crescimento contínuo. “Nos próximos quatro ou cinco anos, nossa produção deve alcançar 500 mil toneladas. Além do nosso trigo chegar ao mercado antes da safra nacional, a Anvisa reduziu o limite máximo tolerado (LMT) de microtoxinas produzidas por fungos em alimentos e produtos de trigo. A decisão deve afetar algumas regiões produtoras do Sul do País. Como nosso inverno é seco, temos pouca incidência deste problema em Minas, o que pode estimular a demanda pelo nosso produto”.
ICMS – O incremento na produção pode ser ainda maior caso ocorra a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) para as vendas fora do Estado. De acordo com a Abrain, atualmente o ICMS incidente sobre o trigo mineiro que é comercializado para São Paulo, principal consumidor do produto, é de 12%, enquanto o ICMS de São Paulo para Minas Gerais é de apenas 2%.
“Até o último governo, o trigo tinha um regime tributário especial e o ICMS era de 2%. Com o novo governo estadual, perdemos este benefício e o imposto subiu para 12%. A alta carga tributária desestimula a produção. Precisamos de apoio para que resolver este problema, que afeta principalmente o Sul do Estado. A região tem logística bem desenvolvida para a entrega do trigo em São Paulo, que é o principal mercado”.
De acordo com o superintendente de Abastecimento e Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), João Ricardo Albanez, a demanda nacional de trigo é bem superior à produção.
“A produção nacional de trigo gira em torno de 5,2 milhões de toneladas e o País importa cerca de 7 milhões de toneladas por ano. Dessa forma temos um consumo total na ordem de 11,5 milhões de toneladas ao ano. Temos aí uma dependência muito grande das importações, já que importamos 61% do trigo consumido. A produção mineira tem muito espaço para crescer”, explicou.
Comercialização – Até o momento, cerca de 60% da safra mineira de trigo já foram comercializadas. Os primeiros lotes da nova safra, dentro dos moinhos, foram negociados em torno de R$ 850 por tonelada, preços que hoje já estão em torno de R$ 730 por tonelada nos moinhos.