Seminário debate comunicação do efeito de drogas psiquiátricas

Informe Ensp

O aumento do diagnóstico de distúrbios mentais e o incremento uso de drogas psiquiátricas não levaram a uma redução das doenças mentais, mas sim ao seu crescimento; e de forma dramática. Essa foi a grande conclusão do seminário internacional A Epidemia das Drogas Psiquiátricas: Causas, Consequências e Alternativas, realizado durante três dias (30 e 31/10 e 1º/11), na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), e com a participação de diversos palestrantes nacionais e internacionais com experiências e evidências científicas concretas de alternativas viáveis e seguras à "desmedicalização". A conferência de abertura foi proferida pelo jornalista norte-americano e autor do livro Anatomia de uma Epidemia, Robert Whitaker. O evento internacional teve coordenação do pesquisador Paulo Amarante, do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial da Ensp/Fiocruz.

A necessidade de reavaliar as práticas de cuidado à saúde mental já está na pauta das Organização das Nações Unidas. Em relatório publicado em junho deste ano, a ONU pediu uma mudança radical nos cuidados de saúde mental em todo o mundo. O documento diz que "há uma evidência inequívoca das falhas de um sistema que depende muito do modelo biomédico, incluindo o uso excessivo de medicamentos psicotrópicos”. O texto também afirma que há necessidade de revolucionar os cuidados de saúde mental para encerrar “décadas de negligência, abuso e violência” e que os representantes da psiquiatria biológica, apoiados pela indústria farmacêutica, aderem a dois conceitos desatualizados: “de que as pessoas que sofrem de problemas mentais e diagnosticadas com transtornos mentais são perigosas e que as intervenções biomédicas são medicamente necessárias em muitos casos”. 

Na opinião de Whitaker, o modelo vigente ganhou força em 1980, quando a American Psychiatric Association (APA) adotou um “modelo de doença” para categorizar transtornos mentais e exportou esse padrão não só para o Brasil, mas para grande parte do mundo. O público, então, passou a ser ensinado que depressão, ansiedade, TDAH e esquizofrenia eram doenças do cérebro, causadas por desequilíbrios químicos, e que uma nova geração de drogas psiquiátricas havia sido desenvolvida para “corrigir” esses desequilíbrios cerebrais.

“Essa história passou a ser contada como um notável avanço científico. As causas dos transtornos mentais finalmente passaram a ser conhecidas, e vinham sendo descobertas drogas que poderiam resolver esses problemas biológicos. Porém, com o público informado com essa história, a prescrição de drogas psiquiátricas, para todas as idades, aumentou dramaticamente”, afirmou o palestrante internacional.

Apesar disso, o uso das drogas psiquiátricas não reduziu a doença mental; pelo contrário. Segundo o jornalista, o número de pessoas “incapacitadas” por transtornos mentais e, consequentemente, inaptas a trabalhar, aumentou quatro vezes nos Estados Unidos nos últimos 30 anos. “E esse aumento na ‘incapacidade’ tem sido observado em muitos outros países que adotaram esse mesmo paradigma de assistência”, informou.

Uma revisão da literatura científica realizada pelo palestrante revela que, embora os medicamentos psiquiátricos possam aliviar os sintomas no curto prazo (melhor que o placebo), num período maior aumentam o risco de uma pessoa se tornar cronicamente doente e prejudicada funcionalmente. Esses efeitos, porém, têm sido observados com mais frequência pelos pesquisadores, que argumentam a necessidade de se repensar profundamente o uso de drogas psiquiátricas, com o pensamento de que elas precisam ser usadas com muito mais cautela, e que devem ser criados modos alternativos de tratamento.

Antes de terminar sua apresentação, o jornalista americano apesentou o que considera o melhor e maior estudo de longo prazo dos Estados Unidos com pacientes psicóticos e esquizofrenia, desenvolvido na Universidade de Illinois. A pesquisa analisou 145 pacientes (64 com esquizofrenia e 81 psicóticos) em dois hospitais de Chicago, um público e um privado, que receberam tratamento convencional com drogas e os acompanhou após 2 anos de tratamento, 4 anos e meio, 7 anos e meio, 10 anos, 15 anos e 20 anos. 

Após 15 anos, os autores do estudo dividiram os grupos em três perfis: recuperados, bom estado ou em pior estado. Para o grupo que abandonou o medicamento, 40% estavam recuperados, 44% apresentaram-se em bom estado e 16% pioraram. Com relação aos pacientes que ainda faziam uso dos medicamentos, apenas 5% estavam curados, 46% encontravam-se em bom estado e 49% pioraram. 

“Há provas dos efeitos adversos do tratamento. É necessário ter uma comunicação honesta sobre o real efeito dos medicamentos. A OMS e a ONU já se posicionaram sobre o assunto. A agenda neoliberal e o norteamento do mercado não estão funcionando”, concluiu.

Mesa de abertura

A mesa de abertura teve participação da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, do diretor da Ensp/Fiocruz, Hermano Castro, do coordenador do Laboratório de Saúde Mental e Atenção Psicossocial da Ensp, Paulo Amarante, e do presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Rogério Giannini.

A presidente da Fiocruz afirmou que o seminário já era esperado há muito tempo, e é fruto da ação de diversos pesquisadores e entidades que militam contra a hospitalização e a epidemia das drogas psiquiátricas. Nísia disse que é necessário lutar a favor de uma atenção no campo da saúde mental que respeite os direitos da população e com alternativas de tratamento.

Hermano Castro lembrou o debate sobre o trabalho escravo e os diversos ataques aos direitos dos cidadãos. “Vivemos uma crise política, econômica e de grande desemprego – que impacta a saúde mental de todos. São nesses momentos que a indústria cresce e atua na venda dos medicamentos. Aí devem estrar as políticas de saude mental. Avançamos mas ainda temos muito a melhorar e criar caminhos para efetivamente atendermos a nossos trabalhadores e usuários do sistema de saúde.

Coordenador do seminário, Paulo Amarante celebrou a possibilidade de discutir com os países vizinhos da América Latina e absorver as experiências bem-sucedidas da Europa. Para ele, o evento é um momento histórico e representa o início de uma nova era da reforma psiquiátrica. “Nosso modelo ainda não enfrentou a questão da patologização e da medicalização da vida. O seminário tem o objetivo de inverter essa lógica dominante da epidemia das drogas psiquiátricas. Queremos demonstrar como as drogas podem causar danos gravíssimos, dependências, síndromes de abstinência de diversos outros problemas. Nosso compromisso é com a saúde pública e a saúde coletiva; não com a indústria”.

Presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Rogério Giannini disse que a forma como uma sociedade cuida das pessoas que estão em sofrimento mental intenso revela sua natureza. “É um tema que nos define como sociedade, como civilização.” Falou, ainda, que as drogas psiquiátricas são uma mercadoria. “Têm uma lógica de mercado e, caso não tomemos cuidado, fundos públicos são construídos e usados para capitalizar investimentos privados.” Ele lembrou também o protagonismo que as psicólogas adquiriram com a Reforma Psiquiátrica, fato inexistente no modelo manicomial.

Assista ao seminário na íntegra. 

Na AFN

Células modificadas podem beneficiar pacientes do SUS com leucemia

Pesquisa com células geneticamente modificadas apresenta novos resultados para o combate à leucemia linfoide

Por Redação – Editorias: Ciências da Saúde

Pesquisadores do Hemocentro de Ribeirão Preto estão desenvolvendo uma plataforma de expansão de células T geneticamente modificadas para tratamento de pacientes com leucemias e linfomas. Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) indicam que foram registrados mais de 23 mil novos casos dessas doenças em 2016.

Essa terapia poderá beneficiar pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). O Hemocentro de Ribeirão Preto sedia o Centro de Terapia Celular (CTC) da USP, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e o Instituto Nacional de Células-Tronco e Terapia Celular no Câncer (INCTC) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que têm aporte financeiro de R$ 7 milhões para pesquisas em terapias celulares e genéticas do câncer. A equipe também possui parceria com a GE Healthcare Life Sciences para o desenvolvimento do projeto.

Esse tipo de imunoterapia foi desenvolvida por pesquisadores pioneiros da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e posteriormente licenciada à indústria farmacêutica Novartis. Conhecida como CAR-T cell therapy, a terapia é totalmente personalizada e associa a imunoterapia celular à engenharia genética e biotecnologia.

O estudo americano, conduzido com essa terapia, mostrou que uma dose única de células T geneticamente modificadas fez desaparecer por completo as células cancerígenas em 83% dos pacientes com leucemia linfoide aguda tratados. Os resultados foram considerados impressionantes pelos oncologistas e um grande avanço para esses pacientes que não tinham mais opções terapêuticas.

As células T são coletadas do próprio paciente e modificadas em laboratório para atacar suas células cancerígenas. Uma vez modificadas, as células T tornam-se mais “potentes”, ou seja, mais capazes de reconhecer e destruir as células cancerígenas. Após a modificação e expansão em laboratório, as células T geneticamente modificadas são reintroduzidas na corrente sanguínea, onde se multiplicam e começam a combater as células cancerígenas.

Uma única célula T modificada é capaz de destruir até 100 mil células cancerígenas. Ao contrário dos medicamentos disponíveis atualmente, cada dose é customizada para o paciente e, para isso, há uma logística complexa e elevado custo. Apesar de promissora, a nova terapia pode ter efeitos colaterais graves. O mais frequente é a resposta exacerbada do sistema imunológico, que causa febre muito alta e queda súbita de pressão arterial.

Até o fim deste ano, está prevista a submissão de um estudo clínico experimental para apreciação pelo Comitê Nacional de Ética em Pesquisa e aprovação das agências reguladoras brasileiras.

O projeto é liderado pelos professores Dimas Tadeu Covas e Rodrigo Calado, ambos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. A equipe é formada pelas pesquisadoras Virginia Picanço e Castro, Kamilla Switch e Kelen Malmegrim de Farias, também do campus da USP em Ribeirão Preto.

Marcos de Assis / Assessoria de Imprensa do Hemocentro de Ribeirão Preto

Datamatrix do Cristália é premiado na 41º edição do Prêmio Automação GS1

Fonte: Cristália

Mais uma vez, as iniciativas inovadoras do Cristália foram premiadas. Desta vez, o código Datamatrix, solução que permite a rastreabilidade de medicamentos dentro de hospitais, foi reconhecida na 41ª edição do Prêmio Automação, elaborado pela GS1.
Paula Magalhães, Diretora Adjunta de Produção do Cristália, e Aline Antonioli, Diretora de Farmácia do CAISM recebem o prêmio Automação
O Datamatrix é um código bidimensional impresso em cada dose individual dos produtos Cristália, sejam elas de soluções orais, injetáveis, em creme ou pomada. Ao realizar a leitura do código, é possível identificar o nome do medicamento, princípio ativo, prazo de validade e o lote do produto. O CAISM – Centro de Atenção Integrado à Saúde da Mulher, foi parceiro no desenvolvimento da solução, tendo participado do projeto piloto e comprovado os benefícios da automação no processo de dispensa dos medicamentos.

O evento de premiação aconteceu No Tom Brasil, em São Paulo, e contou com a presença de Paula Magalhães, Diretora Adjunta de Produção do Cristália, e Aline Antonioli, Diretora do Serviço de Farmácia do CAISM, que receberam o prêmio na ocasião. “O Datamatrix do Cristália foi desenvolvido especialmente para melhorar a automação das farmácias hospitalares, reduzindo custos, riscos e aumentando a segurança tanto para o hospital quanto para o paciente. Este reconhecimento destaca a boa atuação do Cristália, sempre inovando em busca de benefícios aos profissionais da saúde e pacientes”, afirma Ogari Pacheco, cofundador e Presidente do Conselho Diretor do Cristália.
Código bidimensional Datamatrix disponibilizado pelo Cristália

Esclarecimento

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Betainterferona é mantida como primeira opção de tratamento da esclerose múltipla

Terça, 07 Novembro 2017 12:04 Escrito por Caroline Medeiros
Terapia é uma das mais prescritas no trato da doença e está disponível em mais de 90 países

Mais uma vitória para os pacientes de esclerose múltipla. O Ministério da Saúde, por meio da Portaria 44, de 19 de outubro de 2017, publicada no Diário Oficial da União em 20 de outubro de 2017, decidiu manter, sem restrição de uso para novos pacientes, o medicamento betainterferona 1a de 30 mcg, comercializado sob a marca Avonex® , disponível como terapia de plataforma na primeira linha de opção terapêutica para pacientes portadores de esclerose múltipla remitente recorrente (EMRR). A terapia é uma das mais prescritas para o tratamento da esclerose múltipla, está disponível em mais de 90 países e é utilizada por cerca de 260 mil pessoas em todo o mundo.

A decisão era aguardada pela comunidade médica e de pacientes. "Cada vez mais médicos analisam individualmente como a doença se apresenta para cada paciente e, partir daí, prescrevem o melhor medicamento. É importante ter um amplo arsenal terapêutico disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), para que o tratamento seja eficaz e atenda a necessidade do paciente, minimizando a progressão e o impacto da doença", explica dr. Jefferson Becker, presidente executivo do Comitê Brasileiro de Tratamento e Pesquisa em Esclerose Múltipla.

A Biogen Brasil, empresa detentora da tecnologia, apresentou diversos estudos complementares sobre a betainterferona 1a ao Ministério da Saúde que demonstraram a eficácia na redução de surtos da doença, além de reduzir a velocidade de progressão da incapacidade dos pacientes. Revisões da literatura comprovam que a betainterferona 1a de 30 mcg tem eficácia comparável a todas as outras betainterferonas disponíveis hoje no SUS, com o benefício adicional de ser a única terapia de plataforma de administração semanal e intramuscular, o que representa um avanço na qualidade de vida do paciente. "Para nós, a manutenção do medicamento no SUS, de forma integral, representa o cuidado da Conitec em analisar profundamente as evidências científicas e os dados de vida real. Celebramos essa decisão e a vitória dos – pacientes que podem continuar contando com uma terapia reconhecidamente eficaz para o seu tratamento", afirma Sameer Savkur, presidente da companhia.

Bastante preocupada à época da audiência pública, Sumaya Caldas Afif, representante da ABEM (Associação Brasileira de Esclerose Múltipla), afirma que ficou muito feliz ao saber da manutenção do medicamento no protocolo sem restrição de uso. "Temos que incentivar a incorporação de novas tecnologias e medicamentos sempre. Retirar uma terapia ou restringir o seu acesso dificulta a vida dos portadores e representa um retrocesso no direito dos pacientes."

Sobre a Esclerose Múltipla – A esclerose múltipla é uma doença neurológica de caráter inflamatório e neurodegenerativo. Está relacionada à destruição da mielina – membrana que envolve as fibras nervosas responsáveis pela condução dos impulsos elétricos no cérebro, medula espinhal e nervos ópticos. A perda da mielina pode dificultar e até mesmo interromper a transmissão de impulsos. A inflamação pode atingir diferentes partes do sistema nervoso, provocando sintomas distintos, que podem ser leves ou severos, sem hora certa para aparecer. A esclerose múltipla geralmente surge sob a forma de surtos (sintomas neurológicos que duram ao menos um dia) recorrentes. A maioria dos pacientes diagnosticados são jovens, entre 20 e 40 anos, o que resulta em um impacto pessoal, social e econômico considerável por ser uma fase extremamente ativa do ser humano. A progressão, a severidade e a especificidade dos sintomas são imprevisíveis e variam de uma pessoa para outra. Algumas são minimamente afetadas pela doença, enquanto outras sofrem rápida progressão até a incapacidade total.

A doença de origem autoimune ainda não tem cura, mas as terapias atualmente disponíveis permitem controlar sua progressão, reduzindo a recorrência de surtos e aliviando os sintomas. O objetivo principal do tratamento é manter a doença estável. Os medicamentos, aliados ao suporte de uma equipe médica multidisciplinar e a um estilo de vida adaptado, permitem ao paciente conviver com a doença de forma controlada e manter a qualidade de vida.

CPI investigará falhas no teste clínico para liberação da pílula do câncer

07/11/2017 17h43 Elaine Patricia Cruz – Repórter da Agência Brasil

Em sua segunda reunião, a Comissão  Parlamentar de Inquérito (CPI) da Fosfoetanolamina aprovou, nesta terça-feira (7), a convocação de nove pessoas para falar sobre possíveis falhas na condução dos testes clínicos para a liberação da substância sintética, também conhecida como pílula do câncer. Os testes clínicos em humanos tiveram início em julho do ano passado e pretendiam testar a eficácia da fosfoetanolamina sintética no tratamento do câncer.

Entre as pessoas que serão ouvidas na CPI da Assembleia Legislativa de São Paulo, estão o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira, o professor Gilberto Chierice, um dos estudiosos da pílula, e Bernadete Chioffi, membro da auditoria dos testes clínicos. A próxima reunião da CPI será na próxima terça-feira (14), às 14h30. Além dos três especialistas, deverão ser ouvidas pessoas que participaram da fabricação da pílula e da aplicação dos testes.

A pílula, que vinha sendo distribuída a pacientes oncológicos mesmo sem ter sido testada e comprovada por testes clínicos e sem ter registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), gerou polêmica no país. A distribuição foi proibida e muitas pessoas começaram a entrar na Justiça para ter acesso à substância. Testes clínicos em humanos começaram, então, a ser feitos em São Paulo para testar a eficácia da droga.

Os testes foram conduzidos pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), com o acompanhamento de , Gilberto Chierice, pesquisador aposentado do campus da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos. Em março deste ano, o Icesp suspendeu os estudos porque concluiu pela falta de comprovação da eficácia da fosfoetanolamina sintética no combate ao câncer. Segundo a pesquisa, de 72 pacientes com tumores sólidos avançados tratados com a pílula do câncer, apenas um obteve resposta parcial.

A CPI da Fosfoetanolamina foi criada em outubro deste ano para pretende apurar as razões que motivaram o estado de São Paulo a suspender as pesquisas para liberação da substância, produzida por cientistas no campus da USP em São Carlos. De acordo com o presidente da CPI, deputado Roberto Massafera (PSDB), o objetivo  não é investigar a eficácia da substância, mas se houve falhas nos testes clínicos para sua liberação.

“Os auditores que participaram [dos testes clínicos] apontaram várias falhas, e essas falhas não foram corrigidas. Para se ter a dosagem ideal de um produto, que ainda não é medicamento, é preciso fazer um teste chamado fármaco-dinâmico. E isso não foi feito”, disse o deputado. É preciso saber a dosagem certa para tomar um medicamento, alertou o deputado. "Você toma uma pílula e vê a dosagem, toma duas e vê a dosagem, para saber a dosagem recomendada para o paciente. Isso não foi feito”, afirmou Massafera.

"Ao final dos trabalhos, a CPI tem a obrigação de investigar se o dinheiro que o Estado aportou para essa pesquisa foi bem utilizado. E vamos responsabilizar se não foi. E refazer o que não foi feito”, acrescentou o deputado.

O relator da CPI, deputado Ricardo Madalena (PR), informou que a comissão vai investigar se os testes feitos no Icesp realmente cumpriram o protocolo da Anvisa. "Vamos apurar com muita responsabilidade e transparência se houve crime”. De acordo com o parlamentar, se forem constatadas falhas, os culpados serão responsabilizados. “Segundo consta, precisamos apurar se as recomendações do corpo clínico do professor Gilberto [Chierini] foram seguidas. E também se cumpriram o protocolo que é norma da Anvisa.”

A CPI é composta também pelos deputados Márcia Lia (PT), Ed Thomas (PSB), Cássio Navarro (PMDB), Sebastião Santos (PRB), Márcio Camargo (PSC), Rafael Silva (PDT) e Gileno Gomes (PSL).

Esperança de cura

Na tarde de hoje, a CPI da Fosfoetanolamina foi acompanhada pela professora Deize de Jesus dos Reis, de 32 anos. Ela busca a liberação da pílula para o seu pai, que tem câncer no intestino.

“Descobrimos que ele tinha câncer há três meses, no intestino, com metástase no fígado”, disse Deize, muito emocionada. “Entramos com uma liminar [na Justiça] e estamos aguardando há mais ou menos um mês pela liberação da fosfo [fosfoetanolamina]. Até agora, não tivemos a resposta”, disse a professora.

“Eu acredito que na fosfo [a fosfoetanolamina] esteja realmente a esperança da cura do câncer”, disse Deize à Agência Brasil. Para a professora, a CPI pode ajudar a “acelerar o processo de liberação” da substância.

Histórico

Sintetizada há mais de 20 anos, a fosfoetanolamina foi estudada pelo professor aposentado Gilberto Orivaldo Chierice, quando ele era ligado ao Grupo de Química Analítica e Tecnologia de Polímeros da USP, no campus de São Carlos. Algumas pessoas passaram a usar as cápsulas contendo a substância, produzidas pelo próprio professor, como medicamento contra o câncer.

No Icesp, os testes foram feitos com base em orientações de Chierice, da sintetização e encapsulamento até a dosagem oferecida.

Em junho de 2014, uma portaria da USP determinou a obrigatoriedade de substâncias em fase experimental terem todos os registros antes de serem distribuídas à população.

Desde então, pacientes que tinham conhecimento das pesquisas passaram a recorrer à Justiça para ter acesso às pílulas. O Tribunal de Justiça (TJSP) de São Paulo chegou a receber centenas de pedidos de liminar para garantir o acesso à substância.

No dia 22 de março do ano passado, o Senado aprovou o projeto de lei que possibilita o uso da substância mesmo antes de a fosfoetanolamina ser registrada e regulamentada pela Anvisa.

No mesmo mês, a USP denunciou o professor Gilberto Chierice por crimes contra a saúde pública e curandeirismo. A universidade também fechou o laboratório onde eram produzidas as pílulas, já que o servidor técnico que produzia a pílula foi cedido à Secretaria Estadual de Saúde para auxiliar na produção da substância para testes sobre seu possível uso terapêutico.

O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a interrupção do fornecimento da pílula do câncer pela USP, após o fim do estoque. A Corte analisou um pedido feito pela universidade USP contra uma decisão do TJSP que determinava o fornecimento da substância.
Edição: Nádia Franco

Gilead concede US$ 7,5 mi em segunda rodada de subvenções para avanço de pesquisas pela cura do HIV

A biofarmacêutica Gilead Sciences,  uma biofarmacêutica global com DNA científico e dedicada à pesquisa e desenvolvimento de terapias inovadoras para prevenção, tratamento e cura de doenças potencialmente fatais, como HIV/Aids, hepatites, entre outras, anunciou a segunda rodada de beneficiários de seu programa de subvenções para a cura do HIV. Este novo compromisso irá prover US$ 7,5 milhões para suporte a cinco iniciativas adicionais de pesquisa conduzidas por instituições acadêmicas referenciais e focadas na pesquisa translacional (transposição de descobertas da investigação fundamental para aplicações clínicas) e em estudos de eficácia em modelos pré-clínicos.

“Encontrar a cura para o HIV é um desafio formidável para a comunidade científica. Em conjunto com os novos beneficiários do nosso programa de subvenções, todos com excelente histórico em suas pesquisas, podemos tomar medidas coletivas para ajudar a acabar com essa devastadora epidemia”, diz William Lee, Ph.D. e vice-presidente executivo de pesquisa da Gilead Sciences. “Estamos orgulhosos em auxiliar esses líderes na pesquisa do HIV e muito confiantes na competência deles para trazer contribuições significativas e quantificáveis nessa área de necessidades médicas não atendidas”.

A primeira rodada de subvenções com a finalidade de buscar a cura e a erradicação do HIV e da Aids, por meio de pesquisas e de liderança filantrópica, totalizando mais de US$ 22 milhões, foi concedida a 12 projetos em janeiro de 2017.

Conferência Internacional Tendências de Tecnologias de Fabricação e Asséptica de Medicamentos

A Academia de Ciências Farmacêuticas do Brasil, em parceria com a OMPI, por meio do Protocolo de Cooperação Técnica com o Sindusfarma, convida os profissionais do setor farmacêutico para a Conferência Internacional Tendências de Tecnologias de Fabricação e Asséptica de Medicamentos, que acontecerá no dia 27 , das 8h00 às 13h00, no auditório do Sindusfarma, em São Paulo, e no dia 28, das 8h00 às 13h00, no auditório do Sinfar. O objetivo é expor e debater as inovações da tecnologia e os avanços na produção de medicamentos até as inovações nos equipamentos de inspeção. É voltada para profissionais das áreas de fabricação, controle e segurança da qualidade, de desenvolvimento tecnológico e assuntos regulatórios da indústria farmacêutica. As inscrições são gratuitas, limtadas, e haverá tradução simultânea e certificado de participação. Para confirmar presença e obter mais informações: secretaria@academiafarmacia.org.br

Leishmanioses: pesquisa identifica antígenos que podem resultar em nova vacina e em teste sorológico

Para desenvolver a vacina e o método de diagnóstico, a pesquisadora utilizou a ferramenta de phage display

A leishmaniose é causada por parasitos protozoários de mais de 20 espécies diferentes de Leishmania. Prevalente em 98 países, ela atinge 1,3 milhão de pessoas por ano. Em uma década – 2005 a 2015 –, o Brasil reduziu os casos de leishmaniose visceral em 9%, e a incidência da forma tegumentar da doença caiu 27%. Apesar desses números animadores levantados pelo Ministério da Saúde, a leishmaniose ainda é uma doença endêmica que mata cerca de 50 mil pessoas todos os anos no mundo – 90% dessas mortes estão concentradas na América do Sul.

Na tese “Biotecnologia de phage display aplicada para o desenvolvimento de uma vacina contra as leishmanioses e nova plataforma de diagnóstico sorológico”, a residente de pós-doutoramento Lourena Costa testou antígenos que podem ser usados no desenvolvimento de vacinas e métodos de diagnóstico para leishmaniose visceral – humana e canina – e tegumentar humana, nas formas mucosa e cutânea. O trabalho, desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde: Infectologia e Medicina Tropical, da Faculdade de Medicina, foi o vencedor, em 2017, do Grande Prêmio UFMG de Teses na área de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Ciências da Saúde.

Para desenvolver a vacina e o método de diagnóstico, a pesquisadora utilizou a ferramenta de phage display. Trata-se de uma técnica de clonagem da biologia molecular que possibilita a seleção e o isolamento de vetores gerados de bibliotecas de genomas. Por meio de fagos (vírus que infectam apenas bactérias e são chamados, também, de bacteriófagos), a técnica de phage display viabiliza a investigação das interações de proteínas e a realização do rastreamento de antígenos inéditos. Foram feitos testes de imunogenicidade, visando ao desenvolvimento da vacina, e de antigenicidade, que favoreceram a criação do método de diagnóstico da doença.

“Buscávamos antígenos para uma molécula-alvo. Na minha pesquisa, essa molécula-alvo são os anticorpos dos pacientes, humanos ou caninos, portadores da leishmania ativa. Colocamos os anticorpos dos doentes em uma solução com vários fagos diferentes. Alguns se ligaram à molécula e ali ficaram aderidos”, explica a pesquisadora. No caso do diagnóstico, ela acrescenta que os fagos introduzidos na solução conseguiram identificar o que era positivo e o que era negativo para a doença. “Foi possível separar amostras de pessoas sadias ou que têm outras doenças, como Chagas, cujo diagnóstico é comumente confundido com o da leishmaniose”, diz.

Com base nas observações das moléculas conectadas, a pesquisadora realizou testes para apurar essas ligações. Os testes possibilitaram o desenvolvimento do exame que diagnostica os dois tipos da enfermidade e da vacina, também para as duas modalidades. As duas descobertas podem beneficiar humanos e cães. “Já existe a Leish-Tec, vacina desenvolvida também na UFMG, para cães. A pesquisa realizada em meu doutorado traz, pela primeira vez, uma vacina de amplo espectro capaz de induzir uma proteção imune frente a diferentes espécies de Leishmania”, conta Lourena.

Imunoterapia alternativa

No próximo mês, Lourena Costa embarca para a Inglaterra para intercâmbio em que pretende aprender a técnica da fagoterapia, que consiste em inocular nos pacientes os fagos indicados para atacar a doença. Para a pesquisadora, a fagoterapia associada ao tratamento com medicamentos tradicionais trará muitos benefícios para os pacientes.

“O tratamento da leishmaniose é muito agressivo e causa lesões renais, hepáticas e cardíacas. A fagoterapia é uma boa opção terapêutica, por ser capaz de diminuir a toxicidade do tratamento, melhorando o sistema imune do paciente. Quero aprender a técnica para aplicá-la no Brasil, utilizando a descoberta descrita na minha tese”, diz.

Em sua estada na Inglaterra, a pesquisadora também pretende se reunir com grupos de pesquisa e empresas que auxiliem no desenvolvimento de um biossensor, para que o exame de diagnóstico da leishmaniose seja feito rapidamente e em grande escala. O objetivo é comercializar o biossensor já no ano que vem. “Esperamos contar com um exame prático e rápido, em que a amostra de sangue será colocada em uma fita, e o resultado sairá automaticamente”, conta.

O grupo de pesquisa integrado por Lourena planeja iniciar os testes da vacina em 2018, com hamsters, e em um futuro próximo em cães, por meio de parceria com a Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Só depois poderão ser feitos os experimentos em primatas e humanos. “Como os fagos não são patogênicos, poderemos testar a vacina em humanos mais rapidamente. A leishmaniose ainda mata, e há muitos casos subnotificados. Com diagnóstico rápido, sensível e específico, teremos condições de tratar os pacientes e evitar os óbitos”, afirma a autora do trabalho.

Lupa de Ouro premia gigantes do marketing farmacêutico

On 7 novembro, 2017

As melhores iniciativas e profissionais de marketing da indústria farmacêutica receberam o Prêmio Lupa de Ouro no fim de outubro em cerimônia realizada no Tom Brasil, em São Paulo.  Foi a 41ª edição do evento, promovido pelo Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma). Com mais de 800 participantes, este ano o Lupa de Ouro incorporou duas categorias especiais: Prêmio Excelência Adalmiro Baptista – Empresa Mais Admirada do Mercado Retail (varejo), conquistado pelo Aché; e Empresa Mais Admirada do Mercado Non Retail (mercados institucionais), entregue para a Roche.

“O Prêmio Excelência tem um significado muito importante para nós, pois traz o nome de um dos nossos fundadores, que tinha a força do marketing em seu DNA”, ressalta o diretor de marketing do Aché, Marcelo Neri. O assessor de Mercado e Assuntos Governamentais da Roche, Marcelo Scattolini, também comemorou a conquista. “Esse reconhecimento valoriza investimentos como os R$ 300 milhões destinados à fábrica do Rio de Janeiro, que vão ao encontro do nosso compromisso com a inovação e em fazer da tecnologia uma aliada do varejo farmacêutico e da população”, comenta.

Também foram premiadas as empresas Sanofi (Inteligência de Mercado, Produtividade e Efetividade), EMS (Prescrição – Dor e Inflamação), AbbVie (Melhor Projeto – Marketing Institucional e Processos), Latinofarma (Marketing de Produtos), Farmasa (Medicamentos Isentos de Prescrição), Novo Nordisk (Prescrição Lançamento – Antidiabéticos, Obesidade, Doenças Cardiovasculares e Vitaminas) e Eurofarma (Prescrição Maduros).

Fonte: Redação Panorama Farmacêutico