Assim como em vários setores, o varejo alimentar no Brasil vem passando por mudanças significativas influenciadas principalmente pelos hábitos dos consumidores. Segundo Marcelo Ermini, Diretor da Titanium Geração de Negócios e Capacitação, a ‘onda’ dos atacarejos é para nós hoje o que foi o ‘boom’ dos hipermercados no passado. “Os hipermercados surgiram como uma solução de varejo caracterizada por taxas mais reduzidas, baixos custos e oferta de maiores volumes. Também, uma bela solução para abrigar vários consumidores adquirindo produtos ao mesmo tempo. Porém, com o passar do tempo, essa situação mudou. Os consumidores começaram a demonstrar preferência por lojas mais próximas da sua casa, na vizinhança, e assim, passaram a frequentar pequenos varejos”.
Segundo Marcelo, esse movimento afetou os hipermercados, que, ao tentarem qualificar seus negócios, acabaram por fechar as portas, reduziram seus espaços ou se viram ‘engolidos’ por estabelecimentos como os de materiais de construção, e todo esse contexto afastou os consumidores. “Hoje, as pessoas buscam constantemente soluções mais econômicas, se atentam mais ao tamanho do produto, formato, marcas, preços, história, e por conta da crise, o atacarejo passou a ter um discurso mais alinhado com esse público: pouco ou nenhum serviço, sortimento limitado, preço muito acessível, lojas não muito bem organizadas, entre outros. Inclusive, muitos hipermercados perderam a sua função e se transformaram em atacarejos”, complementa. Dados da Nielsen apontam que os preços no atacarejo atualmente são 15% menores em relação ao varejo tradicional.
Marcelo Ermini será um dos palestrantes do Dairy Vision 2017, um dos principais eventos mundiais da cadeia do leite no mundo que ocorrerá em Curitiba/PR, entre 30 de novembro e 01 de dezembro. O tema da sua palestra será: “As tendências de varejo em lácteos, e como aproveitá-las”
“O número de atacarejos saltou 16,92% de 2015 para 2016”
No ano passado, a receita do atacarejo cresceu 11,3%, enquanto a dos hipermercados caiu 7,4%. O número de estabelecimentos saltou 16,92% de 2015 para 2016, saindo de 266 para 311 lojas, segundo o ranking das 500 maiores empresas do setor da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
As grandes redes mantêm planos de ampliação das lojas atacarejistas. O Carrefour possui 145 unidades da bandeira Atacadão. Desse total, oito foram abertas em 2017. O Grupo MGB – dono das bandeiras Mambo e Giga – conta com seis atacarejos e pretende inaugurar mais um neste ano. O plano é chegar a 2021 com mais de 20 lojas. O Assaí, que representa 39,2% das vendas líquidas do GPA Alimentar no semestre (era 33% há um ano), dá mais lucro aos acionistas controladores do que as lojas do Extra e do Pão de Açúcar.
Lojas menores e suas influências
Ermini ressalta que o discurso que o hipermercado fazia ao consumidor antigamente, passou para o atacarejo, assim como, o discurso da loja de departamento passou aos hipermercados. “Como peças de vestuário e eletrodomésticos fazem parte dos itens dos hipermercados, estes foram responsáveis pela morte de muitas lojas de departamento. Na minha opinião, no futuro, o atacarejo poderá perder força para as lojas menores, como Carrefour Express e Pão de Açúcar Minuto. As lojas pequenas provavelmente refletirão nos resultados dos atacarejos daqui cinco anos e para isso, as indústrias terão que se adaptar e modificar alguns quesitos”.
As lojas pequenas provavelmente refletirão nos resultados dos atacarejos daqui cinco anos e para isso, as indústrias terão que se adaptar e modificar alguns quesitosMarcelo Ermini
Para ele, enquanto nos atacarejos cabem de três a quatro marcas por categoria, nas lojas menores, cabem duas. “As indústrias precisarão trabalhar com embalagens menores e mais explicativas. Se planejar logisticamente para abastecer todas essas zonas será essencial, o que implica em novos custos operacionais, novos tinos na área de marketing e comercial, entre outros. Os reflexos ocorrerão em vários aspectos”.
No futuro, o atacarejo poderá perder força para as lojas menores
Tendências de consumo
Além de se preocupar com o perfil das compras, Marcelo acredita que algumas empresas estão dispostas a aprender com novos negócios, adquirindo por exemplo, outras corporações com perfis que se enquadram entre as tendências alimentares, como saudabilidade, orgânicos, livre de OGM (organismos geneticamente modificados), sustentabilidade etc. “Com relação aos lácteos, vimos uma explosão dos itens zero lactose nos últimos anos. Creio que um dos segredos da indústria láctea seja esse: investir em um público que está disposto a gastar mais nas compras. Quem compra zero lactose, compra mais pães, frutas e outros produtos diferenciados. Há também um público afoito por produtos artesanais e mais sofisticados, como queijos e cachaça. O varejo está ‘louco’ para abrir as portas para esse tipo de produto. Os consumidores também estão cada vez mais informados e grandes empresas estão entrando em mercados antes não explorados”.
Marcelo destaca que vale observar as tendências mundiais e extrapolar para o mercado brasileiro. “Precisamos lembrar sempre que não são todas elas que se aplicam a nós. Enquanto em alguns países se discute a evolução dos canais de distribuição, variedade deles e e-commerce, no Brasil ainda discutimos a qualidade dos equipamentos de refrigeração para os produtos lácteos em regiões distantes e garantia de abastecimento. Mesmo que os canais sejam mais organizados nos grandes centros urbanos, no país afora, eles não são. As indústrias devem estar antenadas nas tendências das regiões que atuam – que mudam rapidamente – e como as mesmas se aplicam. Isso contribuirá para que as marcas se posicionem no varejo”, pontuou.
Sua sugestão final é que as empresas, suas equipes e as respectivas estratégias se adaptem ao contexto de cada região e ao comportamento dos consumidores. “Estamos evoluindo e a adesão das grandes redes brasileiras, como o Carrefour e o Pão de Açúcar, às vendas on-line, é uma boa demonstração disso”.
Dairy Vision 2017
Além das apresentações e debates de alto nível – característica marcante do evento e amplamente elogiada nas edições anteriores – o Dairy Vision proporcionará diversos momentos para networking, como os espaços empresariais, jantar de confraternização, almoços e diversos breaks. Será o melhor evento já realizado para o setor lácteo no Brasil!
Confira a programação completa clicando aqui.
O Dairy Vision 2017 é uma realização da AgriPoint e da Zenith Global. Esta iniciativa conta com patrocínio Gold da Beneo, ICL, Plastipak, PolyOne e Sealed Air. Participação das empresas ADI, Auto Analítica, Biomérieux, Dupont, Ecolean, Geiger, Quintiq e RMBPack. Apoio da ABIQ, ABLV, ABIS, Embrapa Gado de Leite e FEPALE. Apoio de mídia da Revista Indústria de Laticínios e da Revista Mais Leite.