Coca-Cola muda forma de desenvolver novas bebidas no Brasil

A Coca-Cola, maior empresa de refrigerantes do mundo, está mudando no Brasil a maneira como desenvolve outros tipos de bebidas como sucos, águas, chás, bebidas vegetais e cafés. O objetivo é reduzir o prazo para testar novidades e acelerar mudanças no portfólio.

O sistema "agile", ou ágil, em inglês, é adotado tradicionalmente por empresas de tecnologia para lançar produtos e tirar do mercado rapidamente aqueles que não dão certo. E é esta metodologia que está sendo usada por Claudia Lorenzo, vice-presidente de novas bebidas da Coca-Cola. Ela, há 21 anos na empresa, comanda uma equipe de 50 pessoas e responde pelas bebidas que não são refrigerantes – um portfólio de 150 produtos.

Uma bebida nova leva, em geral, um ano para ser lançada no mercado. A ideia, agora, é reduzir esse prazo para algo entre três e quatro meses. O primeiro produto feito dessa forma começou a ser desenvolvido em outubro e chegou ao mercado em fevereiro deste ano. Trata-se de um suco de uva e maçã, 100% integral e sem adição de açúcar, em embalagem de vidro de um litro e meio. Essa bebida, batizada de Del Valle Origens, é fabricada fora do sistema Coca-Cola, pela Maison Forestier, em Bento Gonçalves (RS). Dessa forma, a Coca-Cola não precisa investir em uma linha de produção própria. "Se o produto não der certo, é só pôr um fim ao contrato. Não é necessário desmontar a linha de produção", diz Claudia.

Não é o primeiro produto feito fora do sistema Coca-Cola. Em 2016, a companhia lançou o Café Leão, fabricado pela Cooxupé. E, em 2017, lançou o Natural Whey Shake, fabricado pela Verde Campo. Mas, é a primeira vez que a companhia reduz o prazo para ver se o produto agrada ou não o consumidor. Até agora, a empresa testava suas bebidas por um ano. No quinto trimestre, mantinha ou retirava o produto do portfólio. Daqui em diante, a Coca-Cola vai tomar essa decisão em nove meses.

"Meu portfólio deve mudar totalmente até dezembro", disse Claudia ao Valor. Ela observa que, embora o Brasil seja o quarto país para a Coca-Cola em refrigerantes, é o 66º em consumo de sucos prontos, o 61º em chás prontos e o 34º em água engarrafada. "Existe muito espaço para crescer no Brasil em bebidas, e atingir um público que hoje não alcança", afirmou. A companhia pretende que suas vendas cresçam três vezes mais rápido do que nos últimos três anos. E, para isso, vai acelerar os lançamentos.

Claudia tem no horizonte "a taxa de erro" – assim como ocorre com as empresas de tecnologia, que costumam ir corrigindo seus produtos, lançando novas versões. Isso deve ser encarado naturalmente, pois faz parte do novo modelo de trabalho.

A metodologia "agile" prevê convocar pessoas de fora da companhia para desenvolver produtos e, se necessário, terceirizar a produção. "Quando não tivermos os 'assets' [recursos], buscaremos fora", diz Claudia, que está sendo apoiada pela CI&T, empresa brasileira de tecnologia.

Fernando Ostanelli, diretor da CI&T, diz que a empresa fornece tecnologia para a Coca-Cola no Brasil e nos Estados Unidos, há mais de dez anos. Mas o trabalho para desenvolver produtos começou em julho de 2017.

Ele explicou que a consultoria envolve mudanças nas análises sobre o perfil dos consumidores, nas etapas de elaboração de produtos e no método de produção. "Em algumas empresas, o método muda até a cultura da companhia, que passa a ser menos engessada e mais horizontal nas decisões", disse o diretor. "O consumidor hoje se informa mais e muda de gosto mais rapidamente. As indústrias precisam acompanhar essa velocidade. Não é mais possível demorar um ano para desenvolver um produto", observou Ostanelli.

O sistema "agile" está sendo usado também no banco Itaú, na rede de laboratórios Dasa e em outras empresas dos setores de seguro, aviação e da indústria automobilística. A meta, diz Ostanelli, é fazer com que as empresas tracem objetivos trimestrais. O aumento no ritmo de lançamentos, perseguido pela Coca-Cola, já é uma tendência no setor de bebidas. No ano passado, o setor de bebidas no Brasil produziu 300 lançamentos. Historicamente, a média de lançamentos por ano varia entre 100 e 150 produtos.

Também é tendência no setor oferecer bebidas com menos açúcar. No caso da Coca-Cola, foram feitas 15 mudanças no ano passado para reduzir o açúcar em suas fórmulas. Oito delas foram feitas em bebidas da marca Del Valle.

As informações são do jornal Valor Econômico.

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