Farmácia Central de Americana entrega remédio vencido a paciente

Medicamento é utilizado para evitar rejeição de transplante de rim e prefeitura disse que troca foi feita após reclamação

O aposentado Romilso Pires, de 73 anos, retirou uma cartela de um medicamento vencido na Farmácia de Alto Custo de Americana. O remédio é o imunossupressor Micofenolato de Sódio, utilizado para evitar que haja rejeição ao transplante de rim. Das seis cartelas desse remédio retiradas nesta quinta-feira pelo paciente, uma havia vencido em janeiro de 2017. A prefeitura disse que o fornecimento de remédio vencido é um caso isolado e que ocorreu porque a atendente não se atentou às cartelas, que haviam sido doadas já que o Ministério da Saúde atrasou as entregas.

De acordo com Romilso, há dois meses ele não conseguia retirar o remédio na farmácia por falta de estoque e precisou buscar outros meios para manter o tratamento. Na manhã desta quinta-feira, sua empregada doméstica, que possui procuração para retirá-los, conseguiu na Farmácia Central seis das nove cartelas que ele utiliza em um mês. Ao receber os remédios, ele conferiu as datas e constatou que uma estava vencida e outro pode ser utilizado somente até o final de dezembro. O prazo de validade é de três anos a partir da data de fabricação – no caso dessa cartela, fevereiro de 2014.

“A sorte é que eu sempre olho o prazo de validade de tudo, mas imagina se é alguém que não tem esse cuidado? Fiz hemodiálise por quatro anos até conseguir esse transplante, não quero arriscar o meu rim tomando um remédio vencido”, disse o aposentado. Cada cartela possui 10 cápsulas, e Romilso utiliza três por dia.

À tarde, a empregada do aposentado retornou à farmácia e conseguiu trocar a cartela vencida por outra com prazo em fevereiro de 2018. A informação é que como o medicamento estava em falta, a prefeitura realizou a distribuição de remédio doado. “Por isso que a fabricação é antiga. Eles até me pediram desculpa”, disse Romilso.

O nefrologista Marcos Vieira, presidente da Fundação Pró-Rim, disse que há estudos indicando que a falha no uso de remédios imunossupressores pode diminuir a sobrevida do órgão transplantado. “Se o medicamento está vencido não pode ser utilizado. É uma regra para qualquer medicamento. A absorção pode mudar, mas não sabemos quais os efeitos no organismo porque não há pesquisa que vá utilizar remédio vencido nas pessoas”, disse o médico.Prefeitura está sem remédio há um mês

A Prefeitura de Americana disse que a Farmácia Central recebeu doação de uma pequena quantidade do medicamento Micofenolato de Sódio, e “diante da insistente procura, o atendente acabou repassando a doação, não se atentando de que havia uma cartela com o prazo de validade vencido”. O município informou que está sem esse remédio no estoque há pelo menos um mês.

Atualmente, 40 pessoas fazem uso desse medicamento em Americana. A prefeitura garantiu que não há possibilidade de outro paciente ter recebido cartelas vencidas, já que existe estoque há pelo menos um mês. “O controle é feito rotineiramente, mas nesse caso houve uma falha no processo de conferência. Trata-se de um fato isolado, já que todos os medicamentos que são distribuídos pela Farmácia Central são rigorosamente controlados pelo setor”.

O medicamento é comprado pelo Ministério da Saúde, que por sua vez repassa aos Estados, responsáveis pelo envio às prefeituras. A Secretaria Estadual de Saúde disse que a entrega está sendo irregular, tanto em termos quantitativos quanto periódicos. Foram entregues somente 13% do necessário para atender a demanda do quarto trimestre deste ano para a dosagem de 180 mg. No caso do Micofenolato de Sódio 360 mg, que é o utilizado por Romilso Pires, a quantidade enviada atende somente 24% dos pacientes no Estado de São Paulo.

O Ministério da Saúde informou que adquiriu o medicamento no dia 17 de novembro e a última entrega foi em outubro. “Nova remessa está programada para a próxima semana”, diz o texto.

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