Mais difícil conseguir remédio

Governo vai fechar últimas 400 Farmácias Populares do país até 31 de julho; em Minas, serão 38

Joana Suarez

A dona de casa Vanilda Rabelo, 64, recebeu há poucos dias a notícia de que a “farmacinha” – como os moradores de Itaúna, na região Central do Estado, chamam carinhosamente a Farmácia Popular da cidade – vai fechar. Desde que a unidade abriu, em 2006, ela e pelo menos 3.000 moradores compram seus remédios lá todos os meses, com descontos de até 90% devido ao programa criado pelo governo federal. Mas o Ministério da Saúde (MS) decidiu encerrar a rede de Farmácias Populares em todo o país, e as últimas vão funcionar até 31 de julho. Em Minas, ainda há 38 unidades em municípios de várias regiões. No Brasil, são cerca de 400.

Há alguns meses, os remédios já vinham sendo reduzidos nas Farmácias Populares, até que, na última quinta-feira, Vanilda já não conseguiu mais comprar a fluoxetina, que ela utiliza para tratar sua depressão. Se na ‘farmacinha’ ela comprava por R$ 3,40, na drogaria particular precisou desembolsar quase o triplo, R$ 9. “Se fechar mesmo, vai ser muito triste. Mas Deus vai dar força”, disse.

A aposentada Hilda Gonçalves, de 72 anos, também recorre a Deus, pois precisa da ‘farmacinha’ em Itaúna para comprar para ela e para o marido remédios para diabetes, pressão, ansiedade e insônia. “Se Deus quiser, não vai fechar (a Farmácia Popular). Vai fazer muita falta para os pobres”, comentou. Ela toma três comprimidos por dia e não consegue dormir sem a medicação. “Rivotril e fluoxetina não tem no posto de saúde. Nas farmácias privadas, é muito caro. Eu recebo um salário mínimo”, contou.

Medicamentos para diabetes, pressão e asma já são fornecidos gratuitamente ou com até 90% de desconto nas drogarias particulares credenciadas pelo programa Aqui Tem Farmácia Popular. Mas, segundo o Conselho Nacional de Saúde (CNS), essa opção só oferece 25 tipos de remédios, e a Farmácia Popular tem 112 itens para tratar hipertensão, diabetes, depressão, asma, infecções, enxaqueca, queimaduras e inflamações, por exemplo, além de contraceptivos e fraldas geriátricas.

Postos de saúde. A partir de agosto, outra alternativa da população será obter os comprimidos nos centros de saúde. Porém, não é garantido que toda a lista das Farmácias Populares seja contemplada nos postos. “A decisão (do MS) foi tomada sem o envolvimento da sociedade, e não haverá um período de transição. Nossa preocupação é que a assistência farmacêutica ainda não esteja organizada em vários municípios e que os pacientes fiquem desassistidos”, destacou a representante do CNS Lorena Baía.

O secretário de Saúde de Itaúna, Fernando Meira de Faria, acredita que o fechamento das Farmácias Populares vai aumentar a demanda nas unidades básicas em torno de 40%. “Estamos nos preparando para diminuir o impacto que esse fechamento vai provocar. A gente foi pego de surpresa”, afirmou. De acordo com ele, os postos fornecem em torno de cem remédios, mas “tem hora que um ou outro falta”, pois a oferta de medicamentos pelo município precisa de licitação e está sujeito a atrasos de repasses do Estado e da União.

Lista não irá crescer

Doenças. O Ministério da Saúde justifica que a maior parte dos 112 remédios adquiridos na Farmácia Popular são para diabetes, hipertensão e asma e estão no rol dos 25 ítens da rede particular conveniada. Não há previsão de aumentar a lista das conveniadas.

Mais

Rede SUS. Belo Horizonte, Betim, Contagem, Ribeirão das Neves e outros municípios da região metropolitana já não têm Farmácia Popular. Os moradores precisam acessar a rede SUS para obter os medicamentos.

Determinação. Em Sete Lagoas, na região Central, há duas unidades. “Recebemos um comunicado do Ministério da Saúde para fechá-las em 30 de junho. Temos seis farmácias municipais, mas não sabemos como ficará a demanda”, disse o secretário de Saúde Magnus Silva.

Na internet
Abaixo-assinado pede a manutenção da rede

Um abaixo-assinado na internet com mais de 10 mil assinaturas pede a manutenção da rede de Farmácias Populares. Além dos prejuízos à população, cerca de 2.000 trabalhadores serão demitidos. São funcionários das 400 unidades do país e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pelo fornecimento dos remédios às unidades do programa.

“Só no ano passado, o programa atendeu mais de seis milhões de pessoas, mesmo com a redução do estoque”, diz o texto do abaixo-assinado. A página no Facebook Contra o fechamento da Farmácia Popular do Brasil contém vários depoimentos.

O Ministério da Saúde (MS) alega que o gasto administrativo com a rede própria é alto, em torno de R$ 80 milhões, mas trabalhadores da Fiocruz contrapõem que as farmácias tinham retorno financeiro com os medicamentos pagos com desconto pela população e que o MS gasta R$ 2 bilhões para pagar as 34 mil drogarias privadas do país que vendem remédios a preços populares. (JS)

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