Medicamentos uso controlado

Excesso nunca é algo saudável, ainda mais em relação ao consumo irracional/desnecessário de medicamentos

00:00 · 27.05.2017

A liberdade de escolha em alguns momentos da vida pode ser algo benéfico. Não é o caso quando se trata de medicação. Quando os remédios são vistos como 'companheiros constantes', devido ao fácil acesso na hora de encontrá-los e para pôr fim a uma dor, nasce o uso desnecessário, irracional e abusivo, bem como as frequentes causas de intoxicação medicamentosa.

Segundo levantamento de 2012 do Ministério da Saúde, com apoio da Fiocruz e do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sintox), os medicamentos lideraram os registros de intoxicação humana. Os analgésicos e antitérmicos figuram em quarto lugar dentre as classes terapêuticas relacionadas às complicações.

Anti-inflamatórios

"No Brasil, os anti-inflamatórios não esteroides (AINE) são facilmente encontrados ao alcance de todos em farmácias. Inclusive naproxeno, ibuprofeno e cetoprofeno constam da lista dos Medicamentos Insentos de Prescrição (MIP), embora sejam agentes de diferentes potenciais de toxidade", explica a coordenadora do Centro de Informação sobre Medicamentos (CIM) da Universidade Federal do Ceará (UFC), a farmacêutica Mirian Parente.

Tal fato, afirma, "favorece a automedicação com AINE, desconsiderando restrições de indicações, efeitos adversos e interações medicamentosas potencialmente prejudiciais com outros fármacos usados na atenção primária à saúde". O uso dos anti-inflamatórios não esteroides é contraindicado para dores leves e moderadas, assim como para gestantes, pacientes idosos (aumenta o risco de sangramento gastrointestinal) com histórico de ulceração péptica, com asma e hipersensibilidade a AINE (incluindo ácido acetilsalicílico).

Hipertensão

Detalhe: o uso prolongado dessa classe de anti-inflamatórios pode aumentar em 5 a 6mmHg a pressão média em pacientes com hipertensão arterial sistêmica.

Também tende a interferir na eficácia de alguns anti-hipertensivos. Entre os efeitos colaterais decorrentes do uso indevido de analgésicos, a farmacêutica responsável pelo Centro de Farmacovigilância do Ceará/UFC, Eudiana Vale Francelino, cita, ainda, a possibilidade de hemorragias gastrointestinais e edema ao redor dos olhos. "O consumo de medicamentos do tipo analgésicos perpassa por uma questão cultural reforçada pelo déficit ao acesso à saúde que a população deveria ter de qualidade e gratuita"

Efeito rebote

Vários tipos de fármacos – com usos terapêuticos diversos – podem causar o 'efeito rebote'. Essa condição ocorre após ser descontinuado o consumo de medicamentos com ação contrária aos distúrbios da doença, exacerbando-os a níveis superiores aos anteriores do tratamento. Pode causar eventos adversos graves e fatais, devendo ser considerado um problema de saúde pública.

Miriam Parente cita exemplos de medicamentos nos quais o efeito rebote pode ser agravado em consequência da sua suspensão: psiquiátricos ansiolíticos (barbitúricos, benzodiazepinas, carbamatos); sedativo-hipnóticos (barbitúricos, bendodiazepinas, morfina, prometazina, zopiclone). Também integram essa relação os estimulantes do sistema nervoso central (anfetaminas, cafeína, cocaína, mazindol, metilfenidato); antidepressivos (tricíclicos, inibidores da MAO e de recaptação de serotonina) ou antipsicóticos (clozapina, fenotiazínicos, haloperidol, pimozida).

"O uso diário de analgésicos para uma dor de cabeça leve, por exemplo, pode aumentar essa dor em crises posteriores. Aí o medicamento precisa ser substituído por um mais potente e assim vai", descreve Ediana Vale Francelino.

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