Vinho português já é o 2º importado mais consumido
Por Maria da Paz Trefaut | Para o Valor, de São Paulo
Num espaço amplo, 66 produtores trouxeram 450 rótulos a São Paulo e dialogaram diretamente com os clientes
Um clima de otimismo nos negócios, apesar da apreensão política, dominou o evento Vinhos de Portugal, que aconteceu em São Paulo de sexta passada até ontem, no shopping JK Iguatemi. Parte deve-se ao fato de Portugal ter ultrapassado a Argentina e de agora ocupar o segundo lugar, logo atrás do Chile, no ranking de vinhos importados no Brasil. Os dados da Consultoria Ideal mostram que no primeiro trimestre de 2017, Portugal cresceu de 12% para 17,3% em volume, e de 10,8% para 15,4%, em valor.
Para Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal, o crescimento pode ser atribuído a múltiplos fatores. Um deles é o resultado do trabalho de promoção feito nos últimos seis ou sete anos junto ao mercado brasileiro. Mas também conta o fato de Portugal estar saindo da crise e do boom turístico que acontece lá.
No Rio, o evento ocorreu pelo quarto ano consecutivo e atraiu mais de 5 mil pessoas. A estreia em São Paulo, que era uma demanda dos produtores, reuniu 3 mil pessoas em atividades como provas e degustações, além dos visitantes que percorreram a área de convivência do evento, que não demandava inscrição prévia.
Num espaço amplo e sem atropelos, 66 produtores trouxeram 450 rótulos à cidade e puderam dialogar diretamente com o cliente. Para o enólogo e produtor Anselmo Mendes foi uma oportunidade única para desmistificar os clichês relativos ao vinho verde. "No Brasil ainda existe o dogma de que trata-se de um vinho adocicado e com gás. O vinho verde não é um tipo de vinho, mas uma denominação de origem com várias geografias. É uma região de vinhos brancos como qualquer outra".
Na região dos vinhos verdes, a estrela é a uva alvarinho, a qual Mendes se dedica há trinta anos. Hoje produz 600 mil garrafas ano, todas com sua assinatura, e fatura € 3 milhões. Com dez rótulos importados pela Decanter, ele ofereceu para degustação até o "parcela única", cotado com 96 pontos no Guia Robert Parker, que em Portugal é vendido pelo equivalente a R$ 80 e que aqui custa R$ 406. "Não consigo acreditar nesses impostos", dizia. "A única maneira das pessoas perceberem a qualidade do vinho é provando".
O preço dos vinhos no Brasil determina o modelo de negócio. No caso da Symington, que produz Porto e vinhos de mesa no Douro, há um rótulo, o Altano, que é vendido em supermercados no mundo todo e que aqui só vai para restaurantes. Em Portugal custa € 5. Aqui, importado pela Mistral, chega por R$ 80. "Nosso trabalho é com garçons, maitres e sommeliers, pois são eles quem vendem nosso vinho", diz Francisco Cepeda, gerente de vendas.
Cepeda conta que, também, 90% da venda do vinho do Porto Graham's, um Tawny envelhecido 10 anos, ocorre em restaurantes. Só nas unidades brasileiras da churrascaria Fogo de Chão são comercializadas mais de 2 mil doses por mês, ao custo individual de R$ 37.
Encostado no estande da Sogrape, gigante de vinhos portuguesa, o casal Jovita e Vinícius Silva degustava rótulos da Casa Ferreirinha. Eles compraram ingressos para o mercado de vinhos na sexta e no domingo, onde cada sessão dura duas horas. "Algumas pessoas acham que duas horas não dá para ver. Eu sei que não vou provar tudo: não é uma maratona. Não tenho ambição de passar em todos os estandes, porque aí perderia o melhor do vinho", diz Vinícius.
Frequentador de eventos vinícolas, o casal diz que o melhor do Vinhos de Portugal foi não ter tumulto e permitir um contato direto com os enólogos. "Agora pouco o Luís Pato (produtor da Bairrada), nos convidou para visitá-lo quando formos a Portugal. Só isso valeu o ingresso", conta Jovita.
Na sala de provas, o brasileiro Dirceu Vianna Júnior, único master of wine da língua portuguesa, fala das castas clássicas e autênticas de Portugal. A sala está lotada. Trinta pessoas, mediante ingresso de R$ 240, estão sentadas diante de uma mesa para a degustação de seis vinhos. Com performance de animador de auditório, Vianna cria um clima descontraído e resume: "Nunca vi tantos enólogos de alto calibre num lugar só. É um privilégio estar aqui".
O evento Vinhos de Portugal é uma realização dos jornais "O Globo", Valor e do português "Público", com parceria do Vinhos de Portugal. Tem apoio do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, das Comissões de Vinhos do Alentejo, do Dão e de Setúbal, da Universidade de Coimbra e da TAP. Em São Paulo, tem apoio Institucional do Experimenta Portugal.
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