Escrito por Siméia Casati
Os alimentos orgânicos beneficiam a saúde, o meio ambiente e proporcionam justiça social
Pesquisa desenvolvida no Campus Sorocaba da UFSCar mostrou que 92% dos consumidores brasileiros estão dispostos a comprar alimentos orgânicos. Entre os principais motivos para a mudança de hábito estão a valorização da saúde e do meio ambiente. Os números mostraram também que dos 8% que não estão dispostos a comprar tais alimentos, 63% comprariam se esses produtos fossem mais baratos.
O setor de alimentos orgânicos vem crescendo no mundo todo, em 2014 movimentou mais de US$ 80 bilhões. A grande procura por esses alimentos é motivada por serem produtos produzidos sem insumos químicos, o que preserva a saúde e o ecossistema local.
A Engenheira Agrônoma Juliana Smith, em entrevista ao Primeira Página, apontou alguns motivos para o consumo de produtos orgânicos. Em primeiro lugar está a saúde, já que esses alimentos são livres de resíduos de agrotóxicos, portanto são seguros à saúde. O meio ambiente também se beneficia, pois são sustentáveis, têm baixíssimo impacto ambiental porque conservam os recursos naturais de forma direta e indireta. No campo, não são lançados resíduos de agrotóxicos ou de adubos químicos potencialmente poluentes, além de ser uma agricultura diversificada que favorece à ecologia local como um todo. Indiretamente, não utilizando agrotóxicos e adubos industriais, cuja produção é altamente poluente, degradante e insustentável, ajuda a preservar a natureza em geral, não só localmente. Juliana destaca ainda como benefício a questão da justiça social, pois a certificação exige que os trabalhadores tenham boas condições de trabalho, direitos garantidos e acesso a serviços básicos. O produtor também tem maior qualidade de vida por não lidar com produtos tóxicos e por receber valores mais justos pela sua produção.
Para a engenheira, consumir orgânicos não é só uma questão da saúde pessoal, é uma questão de responsabilidade ambiental e social. Indagada sobre a cultura da alimentação orgânica na cidade de São Carlos, Juliana acredita que por ser uma cidade rica em conhecimento, há muitas pessoas conscientes do que significa consumir orgânicos e, por isso, a grande procura. Mas o mercado ainda tem muito campo para crescer.
Custo dos alimentos orgânicos – Juliana afirma que, em geral, os orgânicos são realmente mais caros que os convencionais. No entanto, esta diferença de preços vem diminuindo ao longo do tempo. Para dar um exemplo, no momento, o morango orgânico está com o mesmo preço do convencional! Essa diferença tem diversas razões diferentes:
– oferta x demanda – a oferta de alimentos orgânicos ainda é muito pequena em relação à demanda que existe; são poucos produtores, pouca disponibilidade, pouca concorrência, e muitas pessoas interessadas em consumir;
– escala de produção – existem, sim, grandes produtores de orgânicos como a Native, Volkmann, etc., mas a grande maioria da produção é proveniente de agricultura familiar em pequena escala, por vezes produtores isolados ou organizados em grupos pequenos. Isso faz com que alguns custos, como frete principalmente, ou mesmo embalagens, mão de obra, etc. se tornem proporcionalmente mais altos devido à pequena escala de produção;
– certificação – os custos de certificação são bastante altos! Quem vende direto ao consumidor em feiras ou para órgãos públicos, tem possibilidade de obter uma certificação gratuita, no entanto, quem comercializa seus produtos para lojas, supermercados, restaurantes, etc., tem obrigatoriamente que pagar pela certificação, e ela é um custo muito representativo para o produtor.
Custo de produção – Os custos de produção em alguns casos podem ser maiores que na agricultura convencional, principalmente nos primeiros anos do sistema orgânico – isso porque o ambiente, que compreende o solo, as plantas e todos os seres vivos que ali convivem, demoram para atingir um equilíbrio. Enquanto este equilíbrio não é atingido, a produtividade é menor e a incidência de pragas e doenças é maior, então consequentemente o custo de produção é mais alto. Mas depois que o sistema se equilibra, a tendência é que o custo de produção se torne menor que do convencional.
Comércio justo – Os preços que os produtores orgânicos recebem pelos seus produtos são muito mais justos que na agricultura convencional. Não é raro vermos reportagens mostrando produtores convencionais largando suas produções no campo, ou queimando, deixando de colher, porque o preço pago pelo mercado não está compensando os custos de produção e colheita. Isso é muito cruel com o agricultor! No sistema orgânico os preços são bastante estáveis.