Expectativa de venda estável acirra disputa entre cervejarias

Segundo fontes do setor, a principal chance de expansão em 2017 continuará a ser ‘roubar’o cliente das rivais

Fernando Scheller, O Estado de S. Paulo

26 Junho 2017 | 05h00

Embora a Ambev tenha conseguido voltar a ampliar suas vendas em 2017, isso não quer dizer que o mercado de bebidas como um todo esteja em um caminho de recuperação, depois de dois anos de queda na produção, segundo a Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil).

Diante de uma economia que ainda ensaia uma recuperação depois de forte recuo em 2015 e 2016, a expectativa de fontes do setor é que a disputa das cervejarias continue a se dar no fator preço, sem expansão do volume. Segundo uma fonte do setor, o ano de 2017 será marcado pelas cervejarias tentando, mais do que nunca, “roubar” o mercado das rivais.

Uma empresa que pode enfrentar desafios para proteger sua participação de mercado é a Heineken, que terá de “digerir” a aquisição da Kirin. Apesar de a empresa ter pago só um terço do que os japoneses desembolsaram seis anos atrás por ativos que incluem 12 fábricas e várias marcas – entre elas Schin, Glacial, Devassa, BadenBaden e Eisenbahn –, o negócio vem recheado de problemas a serem resolvidos, segundo analistas ouvidos pelo Estado.

Um dos principais desafios da Heineken, segundo Gabriel Vaz de Lima, analista do Bradesco BBI, é a distribuição. Depois de atuar com uma parceria de distribuição com a Coca-Cola, a Heineken anunciou que deve passar a usar a estrutura terceirizada que herdou da Kirin. Essa questão, explica Vaz, dá vantagem para a Ambev e a Petrópolis (dona da Itaipava), que têm distribuição própria. “O Brasil tem uma logística complexa. Por isso, a distribuição própria é um dos principais diferenciais competitivos que uma companhia de bens de consumo do Brasil pode ter”, afirma. “Isso não é verdade só no setor de bebidas. É uma vantagem que também beneficia companhias como BRF, M. Dias Branco e Souza Cruz.”

Marcas. Para se “segurar” no período de crise, o presidente da Ambev, Bernardo Paiva, diz que a companhia continuou a investir nas marcas de maior volume, mesmo em um cenário de crise, como o de 2016.

A Ambev deu um “banho de loja” nos rótulos e nas embalagens da Skol e da Brahma. “A gente podia deixar isso para depois, mas certos investimentos não podem esperar”, explica o executivo. “Na crise, é preciso colocar a nossa melhor roupa. É esse tipo de mentalidade que reflete a cultura da Ambev de pensar o longo prazo.”

Do lado do marketing, a Ambev também tenta ampliar as ocasiões de consumo do produto, agregando novas marcas ao portfólio. Além de trabalhar seus rótulos de massa em grandes eventos, a companhia abriu quatro bares em São Paulo voltados a marcas artesanais.

Outra preocupação é a gestão do principal ingrediente da cerveja: a água. A companhia vem definindo metas de economia. Para 2017, o objetivo era que a produção de 1 litro de bebida utilizasse, no máximo, 3,2 litros de água. Ao fim de 2016, o consumo já estava em 3,04 litros.

“O Brasil tem uma logística complexa. A distribuição própria é um dos principais diferenciais competitivos de uma companhia de bens de consumo.”

Após perder vendas e cancelar bônus, Ambev foca em preço e volta a crescer

Bernardo Paiva, à frente da gigante de bebidas há dois anos, passou a viajar dois dias por semana após as vendas da empresa caírem 7,5% no 1º trimestre de 2016

Fernando Scheller, O Estado de S. Paulo

26 Junho 2017 | 05h00

O ano de 2016 foi um dos piores da história da gigante de bebidas Ambev. A queda de 5,5% nas vendas reduziu os volumes da empresa ao nível mais baixo desde 2009. O resultado foi tão fraco que deixou os funcionários sem bônus. Desde o início do ano passado, os números ruins já se prenunciavam. Por isso, o diretor-geral da Ambev, Bernardo Paiva, colocou o pé na estrada para fazer uma gestão mais próxima de supermercados e bares, a fim de buscar soluções para o negócio. Desde então, ele passa ao menos dois dias por semana fora do escritório central, em São Paulo.

Essa peregrinação foi motivada pela forte queda nas vendas no primeiro trimestre de 2016, quando o volume da companhia caiu 7,5% ante o mesmo período de 2015. Ao longo do ano passado, vários desafios se impuseram à companhia, que sofreu com a alta de impostos de bebidas, os custos de uma operação de hedge (proteção) para a flutuação do dólar e a agressiva estratégia de preços da concorrência.

De certa forma, explica o analista Gabriel Vaz de Lima, do Bradesco BBI, a gigante brasileira das bebidas enfrentou uma “tempestade perfeita”. Em entrevista ao Estado, o diretor-geral da Ambev afirmou que era preciso achar uma forma criativa de superar os reveses. “O mercado de cerveja depende da renda disponível do consumidor. Num cenário de crise, era necessário desenvolver estratégias para deixar nosso portfólio mais forte”, conta Paiva.

Nas andanças pelo País, conversando com donos de bares e supermercados, o executivo entendeu que era preciso evitar que o cliente trocasse a Ambev por marcas mais baratas – especialmente num cenário em que a Kirin, dona da Schin, fazia promoções agressivas. Segundo analistas, o “pulo do gato” da Ambev foi achar um jeito de oferecer suas principais marcas, como Brahma e Skol, a preços mais baixos que os das rivais.

Para isso, mirou não no produto, mas na embalagem. Para reduzir custos, a Ambev decidiu convencer o brasileiro a voltar a utilizar os velhos “cascos”. A aposta foi em um vasilhame de 300 ml, vendido exclusivamente em estabelecimentos como atacarejos e supermercados. “Foi uma forma de a Ambev baixar o custo do produto”, diz Lima, do Bradesco. “Com a vantagem de que a garrafa retornável garante à empresa uma margem de lucro bem maior do que as latinhas.”

As minigarrafas vêm sendo introduzidas aos poucos, até porque exigem investimento em máquinas de recolhimento e logística reversa. Em 2015, eram só 4% das vendas da Ambev em supermercados – ao fim de 2016, já somavam 25%. Uma fonte do setor diz que as garrafinhas são uma proteção adicional, pois são patenteadas e não podem ser usadas por outras cervejarias.

Resultados. O resultado da estratégia apareceu nos números. Apesar de o lucro da Ambev ter caído no primeiro trimestre, a empresa cresceu 3,4% em volume, enquanto o mercado recuou 2%. Analistas disseram que a companhia ganhou 2 pontos porcentuais de mercado, para 69% em março.

O analista do Bradesco diz que, ao voltar a crescer, a Ambev mostrou ser uma “ação defensiva”, vista como mais segura em tempos de crise. Vaz lembra que a Ambev deve conseguir reverter problemas de custo em 2017. Além disso, rivais como a Heineken – que comprou a Kirin – terão de passar parte do ano “arrumando a casa”.

Apesar do cenário mais positivo, Paiva diz que não tem intenção de deixar de gastar a sola do sapato pelo País. Vai continuar com as viagens para buscar resultados – e, quem sabe, garantir a volta dos bônus em 2017.

Israelense Frutarom compra 80% de grupo brasileiro SDFLC, de sorvetes e sobremesas, por R$110 mi

JERUSALÉM/BRASÍLIA (Reuters) – A empresa israelense de sabor e ingredientes finos Frutarom Industries informou neste domingo que adquiriu 80 por cento do grupo brasileiro SDFLC, de preparados para sorvetes e sobremesas, por 110 milhões de reais (33 milhões de dólares).

Segundo a Frutarom, a compra teve como objetivo dar sequência à estratégia de penetração no crescente mercado latino-americano, fortificando sua presença no Brasil.

Esta é a terceira aquisição do Frutarom no Brasil desde 2012 e sua quarta aquisição neste ano.

O grupo SDFLC, um dos principais produtores brasileiros no ramo de sorvetes e sobremesas, teve vendas de cerca de 22 milhões de dólares nos 12 meses encerrados em maio. O crescimento anual das vendas foi, em média, de 17 por cento nos últimos cinco anos, disse a Frutarom.

A empresa tem cerca de 90 funcionários e está em processo de construção de um novo complexo que contará com um laboratório de pesquisa e desenvolvimento e uma plataforma de produção que permitirá que duplique sua produção.

O grupo SDFLC opera com duas marcas no Brasil de acordo com informações em seu site. A Leagel, de preparados para sorvetes, fornece para indústrias de sorvete, sorveterias artesanais e gelaterias. Já a La Menut é uma linha para sobremeses, com oferta de recheios e coberturas para bolo, tortas e doces.

(Por Steven Scheer e Marcela Ayres)

Market share em volume da cerveja artesanal passará de 0,7% em 2015 para cerca de 9% em 2022

No Brasil – que é o terceiro maior mercado consumidor de cerveja do mundo – o segmento de cerveja artesanal possui apenas 0,7% do volume da indústria, mas a tendência é que esse número chegue a cerca de 9% até 2022

Apesar da crise econômica ter modificado as preferências dos consumidores refletindo em uma queda pontual no ritmo de crescimento do mercado de craft beer, especialistas em inteligência de mercado da aceleradora estimam no longo prazo uma taxa composta de crescimento anual de 50% ao ano no volume de mercado de craft beer no país. Para o CEO da Bier Hub, Marcelo Saraiva, a tendência é reflexo de um movimento que já vem acontecendo há alguns anos em outros países. “Na contramão do cenário conservador de crescimento do tamanho da indústria, o segmento de cervejas artesanais cresce impulsionado pela tendência Fly to Quality, “beba menos, beba melhor”. Observamos que esse crescimento do mercado de cervejas artesanais está ocorrendo nos Estados Unidos há alguns anos, onde essa tendência promoveu o início da disruptura da indústria tradicional e registrou um crescimento de 17% em 2013, frente a um declínio de 2% da indústria como um todo”.

Com esse cenário otimista do mercado e o desafio de revolucionar o mercado de cervejas artesanais para fomentar o segmento e democratizar conscientemente a bebida, a Bier Hub impulsiona a atuação de microcervejeiros e para isso oferece estrutura financeira e administrativa, produção, distribuição e entusiasmo empreendedor para o crescimento da marca e conquista de mercado em escala nacional e internacional. Em apenas um ano, a empresa brasileira Bier Hub já produziu 16 mil litros de cerveja e 11 cervejeiros já conseguiram transformar seus hobbies em negócio, por meio da aceleração e do suporte da empresa.

“Nascemos com esse propósito, de realizar sonhos e ser o vetor da disruptura desse mercado. Estamos muito felizes, pois lançamos um modelo de negócio inédito no mundo e vemos que estamos no caminho certo com uma projeção de crescimento de 20% ao mês até o fim do ano”, diz Marcelo.

Histórico da Bier Hub

Marcelo conta que a ideia da Bier Hub surgiu em uma conversa de bar. “Estávamos no Capitão Barley, em São Paulo, bar do qual eu sou sócio, quando eu e meu sócio Diego Valverde falamos sobre o boom do mercado de craft beer e percebemos que existia a vontade de tornar a produção caseira de cervejas em um negócio. Para isso, os cervejeiros caseiros enfrentavam alguns desafios, como pouco acesso ao capital, dificuldade para crescer, gerenciar e conquistar mercado. Vimos que poderíamos reunir as competências de gerenciamento desses negócios com a descoberta e disseminação de cervejas de qualidade. Decidimos então começarmos pelos eventos pilotos e, em abril de 2016, fizemos o primeiro evento piloto em São Paulo, no Capitão Barley. Assim surgiu a Bier Hub e junto com ele nossos festivais”, diz Marcelo.

Desde o primeiro Bier Hub Festival, a Bier Hub já realizou 12 festivais pelo Brasil, em cidades como São Paulo, Salvador, Brasília e Florianópolis. Segundo Marcelo, o plano é levar os festivais para as principais regiões do país e, em um futuro próximo, expandir para o exterior. “Estudamos o mercado internacional e percebemos que nos Estados Unidos e em alguns lugares da Europa, onde o mercado de craft já é mais consolidado, ainda existem desafios para os microcervejeiros – tanto no acesso ao capital, distribuição das cervejas e barreiras culturais e nós estamos aqui para viabilizar e ultrapassar esses desafios seja no Brasil ou no exterior”, finaliza Marcelo.

Criciúma não terá mais atendimento da Farmácia Popular do Brasil

23/06/2017 Decisão foi proferida pela Comissão Intergestores Tripartite – CIT, do Ministério da Saúde, no dia 30 de março de 2017.

Com o fim do repasse de manutenção e operacionalização, a unidade do Programa Farmácia Popular em Criciúma, instalada na Rua Henrique Lage, no Centro, terá sua atividade encerrada na próxima sexta-feira (30).

Um ofício enviado para a Secretaria Municipal de Saúde no dia 14 de junho, pelo Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos – DAF do Ministério da Saúde, decretou o encerramento das atividades. A meta do Governo Federal é encerrar o serviço em todo o Brasil até o mês de agosto.

Segundo a coordenadora da Assistência Farmacêutica da Secretaria de Saúde, Larissa de Oliveira, os recursos que o Ministério da Saúde enviava para manutenção do local passará a incrementar as farmácias da rede municipal.

“Todos os medicamentos que estão hoje na Farmácia Popular serão distribuídos entre as Unidades de Saúde de Criciúma. A verba que era destinada para este atendimento será repassada para o melhoramento do abastecimento nas farmácias dos postos. Vamos destinar de forma mais adequada para ações que são prioridades no município”, comenta.

As pessoas que utilizam o programa “Aqui tem Farmácia Popular” continuarão sendo atendidas em todas as farmácias de Criciúma que possuem o selo.

Colaboração: Milena dos Santos / Comunicação Prefeitura de Criciúma

Legislação federal garante a troca de medicamentos nas farmácias

Única exceção é para casos em que receita médica especifique que troca não é autorizada

O medicamento de referência pode ser substituído pelo genérico desde que, na receita, o médico não tenha especificado que não autoriza a troca. É a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que garante a possibilidade de substituição de medicamentos, assunto amplamente discutido pelo Diário ao longo desta semana e que gerou divergências entre profissionais da área de saúde.

Conforme a agência, se o médico que prescreve a receita não registrar que não autoriza a substituição, o farmacêutico poderá sugerir a intercambialidade, ou seja, a troca por outro produto com o mesmo princípio ativo.

Conselho Regional de Farmácia emite nota sobre troca de remédios receitados

Em resposta a questionamentos da Redação, a Anvisa destacou que os médicos que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) devem prescrever medicamentos registrando o princípio ativo na receita. Dessa forma, o paciente pode adquirir diretamente o genérico, similar ou qualquer marca comercial que contenha esse princípio.

Já para os consultórios particulares, não há regulamento da Anvisa que estipule ou obrigue o médico a prescrever por meio do princípio ativo. Ou seja, o profissional de saúde é quem define o que vai constar na receita, se o nome comercial (referência), o princípio ativo ou ambos.

Ministério da Saúde amplia vacinação contra HPV para meninos de 11 e 14 anos

Lei Federal 9.787/99 – conhecida como Lei dos Genéricos – determina que a substituição do medicamento prescrito pelo medicamento genérico correspondente somente pode ser realizada pelo farmacêutico responsável pelo estabelecimento (farmácia ou drogaria) e deverá ser registrada na receita médica.

O presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul, Fernando Weber Matos, conversou ontem com a equipe do Diário e destacou que a decisão final sobre a troca de medicamentos é do paciente. Segundo o médico, ao prescrever uma receita, o profissional procura pelo produto mais eficaz, cuja concentração e pureza do princípio ativo tenham resultados positivos no tratamento proposto:

Secretário de Saúde diz que o Hospital Regional pode abrir neste ano, mas com serviços parciais

– Se na receita constar um medicamento com o nome comercial (referência), pode ser sugerida a troca por um medicamento com o mesmo princípio ativo. O ideal, nesses casos, é que o paciente entre em contato com o médico para confirmar se essa substituição terá o mesmo efeito esperado do produto prescrito.

Matos confirma que o médico pode não autorizar a substituição, e, neste caso, isso deve ser registrado na receita. Ele ressalta, ainda, que os profissionais têm liberdade para emitir receitas com o nome comercial, com o princípio ativo ou ambos. Essa regra, como destaca a própria Anvisa, não vale para os médicos que atendem pelo SUS. Nesse caso, a receita deve vir com o princípio ativo.

Mais difícil conseguir remédio

Governo vai fechar últimas 400 Farmácias Populares do país até 31 de julho; em Minas, serão 38

Joana Suarez

A dona de casa Vanilda Rabelo, 64, recebeu há poucos dias a notícia de que a “farmacinha” – como os moradores de Itaúna, na região Central do Estado, chamam carinhosamente a Farmácia Popular da cidade – vai fechar. Desde que a unidade abriu, em 2006, ela e pelo menos 3.000 moradores compram seus remédios lá todos os meses, com descontos de até 90% devido ao programa criado pelo governo federal. Mas o Ministério da Saúde (MS) decidiu encerrar a rede de Farmácias Populares em todo o país, e as últimas vão funcionar até 31 de julho. Em Minas, ainda há 38 unidades em municípios de várias regiões. No Brasil, são cerca de 400.

Há alguns meses, os remédios já vinham sendo reduzidos nas Farmácias Populares, até que, na última quinta-feira, Vanilda já não conseguiu mais comprar a fluoxetina, que ela utiliza para tratar sua depressão. Se na ‘farmacinha’ ela comprava por R$ 3,40, na drogaria particular precisou desembolsar quase o triplo, R$ 9. “Se fechar mesmo, vai ser muito triste. Mas Deus vai dar força”, disse.

A aposentada Hilda Gonçalves, de 72 anos, também recorre a Deus, pois precisa da ‘farmacinha’ em Itaúna para comprar para ela e para o marido remédios para diabetes, pressão, ansiedade e insônia. “Se Deus quiser, não vai fechar (a Farmácia Popular). Vai fazer muita falta para os pobres”, comentou. Ela toma três comprimidos por dia e não consegue dormir sem a medicação. “Rivotril e fluoxetina não tem no posto de saúde. Nas farmácias privadas, é muito caro. Eu recebo um salário mínimo”, contou.

Medicamentos para diabetes, pressão e asma já são fornecidos gratuitamente ou com até 90% de desconto nas drogarias particulares credenciadas pelo programa Aqui Tem Farmácia Popular. Mas, segundo o Conselho Nacional de Saúde (CNS), essa opção só oferece 25 tipos de remédios, e a Farmácia Popular tem 112 itens para tratar hipertensão, diabetes, depressão, asma, infecções, enxaqueca, queimaduras e inflamações, por exemplo, além de contraceptivos e fraldas geriátricas.

Postos de saúde. A partir de agosto, outra alternativa da população será obter os comprimidos nos centros de saúde. Porém, não é garantido que toda a lista das Farmácias Populares seja contemplada nos postos. “A decisão (do MS) foi tomada sem o envolvimento da sociedade, e não haverá um período de transição. Nossa preocupação é que a assistência farmacêutica ainda não esteja organizada em vários municípios e que os pacientes fiquem desassistidos”, destacou a representante do CNS Lorena Baía.

O secretário de Saúde de Itaúna, Fernando Meira de Faria, acredita que o fechamento das Farmácias Populares vai aumentar a demanda nas unidades básicas em torno de 40%. “Estamos nos preparando para diminuir o impacto que esse fechamento vai provocar. A gente foi pego de surpresa”, afirmou. De acordo com ele, os postos fornecem em torno de cem remédios, mas “tem hora que um ou outro falta”, pois a oferta de medicamentos pelo município precisa de licitação e está sujeito a atrasos de repasses do Estado e da União.

Lista não irá crescer

Doenças. O Ministério da Saúde justifica que a maior parte dos 112 remédios adquiridos na Farmácia Popular são para diabetes, hipertensão e asma e estão no rol dos 25 ítens da rede particular conveniada. Não há previsão de aumentar a lista das conveniadas.

Mais

Rede SUS. Belo Horizonte, Betim, Contagem, Ribeirão das Neves e outros municípios da região metropolitana já não têm Farmácia Popular. Os moradores precisam acessar a rede SUS para obter os medicamentos.

Determinação. Em Sete Lagoas, na região Central, há duas unidades. “Recebemos um comunicado do Ministério da Saúde para fechá-las em 30 de junho. Temos seis farmácias municipais, mas não sabemos como ficará a demanda”, disse o secretário de Saúde Magnus Silva.

Na internet
Abaixo-assinado pede a manutenção da rede

Um abaixo-assinado na internet com mais de 10 mil assinaturas pede a manutenção da rede de Farmácias Populares. Além dos prejuízos à população, cerca de 2.000 trabalhadores serão demitidos. São funcionários das 400 unidades do país e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pelo fornecimento dos remédios às unidades do programa.

“Só no ano passado, o programa atendeu mais de seis milhões de pessoas, mesmo com a redução do estoque”, diz o texto do abaixo-assinado. A página no Facebook Contra o fechamento da Farmácia Popular do Brasil contém vários depoimentos.

O Ministério da Saúde (MS) alega que o gasto administrativo com a rede própria é alto, em torno de R$ 80 milhões, mas trabalhadores da Fiocruz contrapõem que as farmácias tinham retorno financeiro com os medicamentos pagos com desconto pela população e que o MS gasta R$ 2 bilhões para pagar as 34 mil drogarias privadas do país que vendem remédios a preços populares. (JS)

Farmácia Popular em Santos fecha no dia 30; veja onde retirar medicamentos

Pacientes com receituário podem obter remédios gratuitamente na rede pública

Da Redação
24/06/2017 – 18:54 – Atualizado em 24/06/2017 – 19:38

Para atender à demanda das duas unidades da Farmácia Popular, que serão fechadas em Santos no próximo dia 30, pacientes com receituário da rede municipal podem retirar os medicamentos gratuitamente nas policlínicas e nas unidades do Ambulatório de Especialidades (Ambesp) e do Centro de Apoio Psicossocial (Caps).

Na rede particular, eles podem comprar remédios nas 57 farmácias da Cidade conveniadas ao Programa Aqui Tem Farmácia Popular.

O encerramento das atividades da Farmácia Popular é consequência do fim do repasse federal para o serviço, definido em março. No último dia 14, a Secretaria Municipal de Saúde recebeu ofício do ministério que autoriza o fechamento das farmácias. No dia 22, a Prefeitura publicou no Diário Oficial os decretos que estabelecem a medida, já discutida e aprovada pelo Conselho Municipal de Saúde em 25 de abril.

Inauguradas em dezembro de 2009, as unidades fazem parte do convênio entre o Município e a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), que mantém medicamentos a preço de custo para a venda. Em Santos, elas funcionam dentro do prédio da Universidade Católica de Santos (UniSantos) na Rua da Constituição, 321, e na Avenida Nossa Senhora de Fátima, 555, no Chico de Paula. 

Os valores são repassados integralmente à fundação, além de itens dispensados gratuitamente. No ano passado, cada farmácia arrecadava, por mês, entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil com a venda média de 650 unidades (como blisters e frascos de remédios).

Gastos

Para funcionar de segunda-feira a sábado, cada farmácia custa em torno de R$ 50 mil mensais — totalizando-se, portanto, R$ 100 mil as duas unidades. Como o repasse do governo federal era de R$ 12,5 mil mês por farmácia (ao todo, R$ 25 mil), o Município despendia mais $ 37,5 mil por unidade (R$ 75 mil às duas) para cobrir gastos como os de aluguel, funcionários, água e luz. 

Segundo a Prefeitura, os 16 servidores que atuam nas unidades — nove técnicos de farmácia, quatro farmacêuticos, dois auxiliares de serviços gerais e um oficial de administração — serão alocados para outros serviços do Município.

Em julho, um inventário será realizado para quantificar o estoque excedente de medicamentos, que deverá ser integrado às farmácias e aos dispensários da rede se houver aprovação do Ministério da Saúde. 

A febre das farmácias em Cuiabá

Mato Grosso tem praticamente quatro vezes mais farmácias do que o recomendado pela organização mundial da saúde

JOANICE DE DEUS
Da Reportagem

Quem transita pelas principais vias da Capital fica com a sensação de que há uma farmácia em cada esquina. E é quase isso. Com menos de sete quilômetros de extensão, a Avenida do CPA, em Cuiabá, tem 20 desses estabelecimentos. O ápice da overdose é um trecho de 200 metros, entre o viaduto do CPA e a Rua da Cereja, onde estão concentradas seis lojas.

Há no segmento uma preferência pelos pontos de esquina. É o fenômeno das cornershops, uma estratégia para ter maior visibilidade e atrair os consumidores que ziguezagueiam em busca de ofertas e descontos. Nessa disputa, entram também as garrafas de chá e café, as cadeiras de espera, estacionamento e até brinquedoteca.

Com 285 farmácias e drogarias, Cuiabá tem um estabelecimento para cada 1,9 mil habitantes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que essa relação seja de uma para 8 mil habitantes. Sinal de tempos “hipocondríacos e narcísicos”, diz o psicanalista Mario Corso. Em duas décadas, o número de farmácias cresceu 45% na cidade.

Mas essa proliferação não é exclusividade de Cuiabá, que ocupa a nona colocação no ranking das capitais brasileiras. Nos últimos anos, a febre se alastrou para municípios do Interior. Mato Grosso conta, atualmente, com 1812 farmácias e drogarias comerciais, o que significa um salto de 45% em cinco anos (dados do Conselho Regional de Farmácia do Estado, o CRF-MT, indicam que em 2013 existiam 1249 estabelecimentos). Ou seja: uma farmácia para cada 1,6 mil habitantes, proporção próxima da Capital.

O que explicaria o fenômeno? A indústria farmacêutica tem o diagnóstico na ponta da língua: o crescimento da classe média, o aumento da expectativa de vida, a diversificação do negócio e o melhor acesso a diagnósticos e tratamentos seriam algumas das causas da expansão.

“O aumento da quantidade de farmácias é reflexo da demanda por qualidade de vida, de estar bem consigo mesmo. É uma demanda dos tempos modernos e, além disso, o Brasil está envelhecendo”, avalia o presidente da Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Sérgio Mena Barreto.

Há, no entanto, quem considere o boom de estabelecimentos farmacêuticos sintoma do descontrole de uma complexa engrenagem envolvendo laboratórios, médicos e pacientes e que leva ao excesso de medicalização da vida.

Autor do livro Voltando ao Normal (Versal Editores, lançado no Brasil em 2016), o renomado psiquiatra norte-americano Allen Frances afirma que milhões de pessoas saudáveis – incluindo crianças – estão tomando remédios sem necessidade. Ao contrário do que muitos pensam, a culpa, segundo ele, não é do nosso atual ritmo alucinante de vida, mas da “inflação diagnóstica” induzida pelos fabricantes de pílulas.

“A vida sempre foi difícil. O crescimento de transtornos mentais não ocorre porque a vida está mais estressante ou porque estamos adoecendo mais. Está relacionado com o interesse comercial dos laboratórios, o desorganizado sistema médico e alguns critérios de diagnóstico mais frouxos – diz Frances, em entrevista por e-mail.

Na avaliação da psicóloga Helivalda Pedroza Bastos, a dependência de pílulas foi gerada, ao longo dos anos, a partir de ações deliberadas dos laboratórios para disseminar a “cultura do remédio”. A pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) diz que as pessoas passaram a confiar mais nos comprimidos do que na própria resiliência. Uma das consequências seria o uso abusivo de medicamentos, como a Ritalina, utilizada no tratamento do transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH), sobretudo em crianças e adolescentes. Em 10 anos, o consumo do medicamento saltou 775% no país.

Pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o médico Flavio Danni Fuchs, autor do livro Farmacologia Clínica e Terapêutica, afirma que o ser humano é movido pelo “instinto de cura”. Em busca de alívio, lota as farmácias, que são vistas como uma espécie de “paraíso”, onde há solução para quase tudo: “As pessoas são suscetíveis a imaginar que os remédios são mais eficazes do que realmente são. Muitas coisas têm uma resposta independentemente do tratamento. É o famoso efeito placebo. Por isso, costumo dizer para meus pacientes: não faça nem da doença nem do remédio o centro da sua vida”.

LEGISLAÇÃO – Presidente do CRF-MT, o farmacêutico Alexandre Henrique Magalhães, 37 anos, diz que “ao mesmo tempo que pode parecer um número elevado de farmácias é preciso analisar também a distribuição geográfica desses estabelecimentos. Pois existem localizações que podem estar desprovidas ou com acesso difícil e do outro lado podemos ter localizações com estabelecimentos em número excessivo. Uma análise que deve ser feita junto com a quantidade de estabelecimento é quanto à distribuição deles e ainda como se apresenta esse estabelecimento para sociedade”, disse.

Vários conselhos de farmácias no país defendem leis de zoneamento urbano, estabelecendo distância mínima entre as lojas, poderiam evitar a alta concentração que estimula a automedicação. Houve, recentemente, a tentativa de incluir essa exigência em uma legislação federal, mas não vingou. Entidades como a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) argumentam que a medida fere princípios constitucionais como os da “livre iniciativa, da livre concorrência e do livre exercício de qualquer atividade econômica”.

O modelo de negócio inspirado nas drugstores norte-americanas é alvo de críticas. O médico José Ruben Bonfim, coordenador da Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos (Sobravime), defende que as farmácias e drogarias deixem de ser estabelecimentos comerciais, que também vendem produtos de higiene e beleza, e sejam apenas estabelecimentos de saúde. É o que determina a Lei 13.021, sancionada em 2014, mas ainda pendente de regularização. Membro do Fórum Sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, Bonfim considera fundamental o fim do enquadramento de medicamentos como isentos de prescrição médica. Essa distinção, segundo ele, “só interessa ao mercado” e leva as pessoas a acreditarem que os produtos com essa classificação não causam danos à saúde.

“É um problema muito sério. Você entra numa farmácia e é só estender a mão e sair enchendo uma sacola de venenos. Um remédio, mesmo autorizado pela Anvisa, pode ser um veneno. Não tem cabimento se vender anti-inflamatórios do jeito que se vende no país. Muito tardiamente passamos a controlar os antibióticos. As tragédias que estamos vivendo são tragédias ocultas”, disse.

Autora do livro Tarja Preta, a jornalista Marcia Kedouk lembra que “medicamentos salvam e prolongam vidas e não faz sentido ser contra eles”: “A questão é o excesso. Muitos dos nossos males não são tratáveis com comprimidos e a medicalização cria uma ditadura da felicidade. Todo mundo precisa estar sempre bem e feliz. Acontece que sentimos dor e tristeza, ansiedade, medo e desânimo. Faz parte da natureza humana e nem sempre requer um remédio”.

Anorexígenos chegarão antes às farmácias de manipulação

Presidente em exercício, Rodrigo Maia sanciona lei que libera a venda de anfetamínicos

Litza Mattos

O presidente da República em exercício, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ignorou a recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e sancionou, sem vetos, nessa sexta-feira (23), a lei que autoriza a produção, a venda e o consumo de emagrecedores e inibidores de apetite à base de anfetamina – anfepramona, femproporex e mazindol.

O projeto aprovado no último dia 20 pela Câmara dos Deputados suspende de imediato os efeitos de resolução da Anvisa de 2011, que proibiu a comercialização desses três medicamentos no país.

“Entendo o drama de milhares de brasileiros que têm níveis perigosos de obesidade e precisam ser levados a sério”, publicou Maia em uma rede social.

No entanto, a comercialização desses remedios não será imediata, pois, caso algum laboratório tenha interesse em retomar a produção, terá de entrar com pedido de registro na Anvisa. Para isso, será necessário apresentar estudos clínicos comprovando a eficácia e segurança do remédio.

Porém, segundo a Anvisa, a regra não vale para as farmácias de manipulação. Esses estabelecimentos poderão importar livremente a matéria-prima para usá-las em formulações individuais, prescritas por médicos especialmente para cada paciente.

A reportagem de O TEMPO entrou em contato por telefone com duas farmácias de manipulação de Belo Horizonte – Amphora e Anagallis. Conforme informaram as atendentes, o fornecimento ainda depende de um preparo do estabelecimento e do recebimento das substâncias. A previsão é de que a comercialização comece dentro de dez dias na Anagallis e em um mês na Amphora.

De acordo com a Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag), ainda não é possível estabelecer um prazo para a oferta dos produtos. Por telefone, a assessoria de imprensa informou que as farmácias devem aguardar um posicionamento oficial da Anvisa.

Antes de tomar a sua decisão, Maia fez consultas a entidades médicas para assinar a medida. O Conselho Federal de Medicina (CFM), por exemplo, manifestou apoio à sanção da lei.

De acordo com o psiquiatra e terceiro vice-presidente do CFM, Emmanuel Fortes, o órgão entende que “a retirada das substâncias do mercado trouxe prejuízo efetivo para o tratamento da obesidade mórbida”.

Além disso, Fortes reconheceu que, antes do veto, havia uma falha na fiscalização e, por isso, agora deve ser feito um “rigorosíssimo controle em toda a cadeia” para que seja evitado o uso abusivo dessas drogas. Por outro lado, ele defendeu a autonomia do profissional da saúde. “A prescrição deve ser uma decisão do médico (endocrinologista ou nutrólogo)”, afirmou.

Inconstitucional. A Anvisa criticou a lei que, para a agência, “além de ser inconstitucional, pode representar grave risco para a saúde da população”. Segundo nota publicada em seu site, a Anvisa questionou que, legalmente, cabe à ela a regulação sobre o registro sanitário dessas substâncias, após rigorosa análise técnica sobre sua qualidade, segurança e eficácia, processo este que o Congresso não fez”.

Receita azul. A Câmara dos Deputados havia aprovado o projeto que libera a venda desses medicamentos, sob prescrição médica do tipo B2 (receita usada para substâncias psicotrópicas anorexígenas).