Porque alguns medicamentos não têm registro no Brasil?

Falta de registro de um medicamento no país pode estar relacionada à ausência de pedido do fabricante, ao processo ainda em análise ou à reprovação do produto no país.

Por: Ascom/Anvisa
Publicado: 03/05/2017 00:15
Última Modificação: 03/05/2017 17:02

Embora o Brasil seja um dos principais mercados farmacêuticos no mundo, nem sempre todos os medicamentos estão disponíveis para o consumidor nacional. A ausência de um determinado produto nas prateleiras das farmácias, ou nos estoques de um posto de saúde ou hospital, afeta especialmente as pessoas que sofrem com doenças raras ou doenças que ainda não dispõem de tratamento mais eficiente.

Este é um problema que pode estar relacionado a pelo menos três fatores no que diz respeito a seu registro junto à Anvisa: ausência de pedido por parte do fabricante, processo ainda em análise ou reprovação do produto no país.
Quatro motivos para que o medicamento não exista no mercado nacional

Ausência de pedido de registro – o que pode ocorrer é que o “dono” do produto simplesmente não tenha solicitado seu registro junto à Anvisa. De acordo com a legislação brasileira, não é possível obrigar o fabricante a vender qualquer medicamento no mercado brasileiro. Além disso, a Anvisa só pode fazer o registro de um produto a partir da solicitação do fabricante, que deve vir acompanhada dos estudos exigidos para medicamentos novos no país.

Produto em fase de registro – a análise dos seus estudos está em andamento na Anvisa e, portanto, ainda não está disponível para o mercado.

Medicamento reprovado no país – ausência de estudos adequados sobre sua segurança e eficácia. Esta é uma situação menos comum, mas pode ocorrer, por exemplo, se o fabricante não apresentar todos os dados necessários sobre o produto.

Produto proibido – a substância faz parte de uma lista de produtos banidos por falta de segurança ou proibição legal (exemplos: anfetamínicos, LSD etc.).

Consulte os pareceres públicos de alguns medicamentos reprovados e, também, se um medicamento possui registro na Anvisa.

Atrofia AME: requerido registro de medicamento novo

O pedido de avaliação do Spinraza (nusinersena) foi protocolizado na Anvisa nesta terça-feira (2/5). A Agência já avalia dossiê apresentado para registro do produto.

Publicado: 03/05/2017 13:01
Última Modificação: 03/05/2017 14:31

A empresa Biogen Brasil Produtos Farmacêuticos Ltda protocolizou, nesta terça-feira (2/5), o pedido para avaliação do Spinraza (nusinersena). O medicamento sintético novo é indicado para o tratamento da Atrofia Muscular Espinhal (AME).

A Anvisa está tratando o tema com celeridade e já avalia o dossiê de tecnologia farmacêutica, um dos documentos necessários para o registro do produto.

A análise de registro de um medicamento novo é uma ato complexo e baseia-se na avaliação crítica de informações legais e técnicas, como estudos pré-clínicos, estudos clínicos (fase I,II,II), dados de tecnologia farmacêutica (produção, controle de qualidade, validações analíticas, informações do fármaco e dos excipientes, estudos de estabilidades, dentre outros). Essa avaliação é necessária para garantir a qualidade, eficácia e segurança do medicamento a ser disponibilizado à população brasileira.

Cancelada apresentação do parecer da MP sobre política de preço dos remédios

A comissão mista que analisa a Medida Provisória 754/16, que permite a alteração dos preços dos remédios em qualquer época do ano, cancelou a reunião que faria nesta tarde para apreciar o parecer do deputado Wellington Roberto (PR-PB).

A MP não é consenso entre autoridades, empresas da indústria farmacêutica e parlamentares. Entre as preocupações a respeito da medida estão a alta dos preços e a perda de equilíbrio do mercado.

Até a edição da medida provisória, em dezembro de 2016, os preços dos remédios só podiam ser reajustados uma vez por ano. A decisão sobre aumentar ou reduzir o valor e definir o percentual de reajuste ainda cabe ao Conselho de Ministros da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos. Só que, pelo novo marco legal, mudanças nos preços agora podem ser definidas a qualquer tempo.

A comissão ainda não marcou nova data para votar o parecer.

Saiba mais sobre a tramitação de medidas provisórias

Íntegra da proposta:
MPV-754/2016
Da Redação – ND

Boletim da Unaids traz especial sobre medicamentos para HIV/Aids

Alexandre Matos (Farmanguinhos/Fiocruz)

O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) lançou novo boletim sobre as Metas de tratamento 90-90-90 para todos. O objetivo é de que, até 2020, 90% das pessoas vivendo com HIV estejam diagnosticadas; que destas, 90% estejam em tratamento; e que 90% das pessoas neste grupo tenham carga viral indetectável. Esta edição traz como tema O poder dos medicamentos antirretrovirais.

O Brasil é hoje uma referência mundial de assistência ao paciente que vive com HIV/Aids. O país tem uma política sólida de distribuição de antirretrovirais, com o objetivo de dar acesso universal aos pacientes. Neste sentido, o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) é um parceiro estratégico do Ministério da Saúde, produzindo sete dos 23 medicamentos que compõem o coquetel antiAids: atazanavir, efavirenz, lamivudina, nevirapina, zidovudina, lamivudina+zidovudina e tenofovir+lamivudina.

Para ampliar sua lista desta categoria de medicamentos, a unidade participa ainda de Parcerias de Desenvolvimento Produtivo (PDP). Uma delas é o triplivir, que reúne três fármacos em um único comprimido (tenofovir, lamivudina e efavirenz). Os acordos envolvem a produção do medicamento e a do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), principal substância, responsável pelo efeito terapêutico.

Além de ofertar produtos de primeira linha no Sistema Único de Saúde (SUS), outro objetivo da PDP é nacionalizar novas tecnologias e, com isso, fortalecer também a indústria farmoquímica nacional. No momento, a unidade aguarda o registro junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar a fabricação.

Na AFN

Lucro líquido da Pfizer aumenta no primeiro trimestre, mas receita decepciona

Estadão Conteúdo
02.05.17 – 09h14

A farmacêutica Pfizer registrou lucro líquido de US$ 3,12 bilhões no primeiro trimestre, ou US$ 0,51 por ação, acima dos US$ 3,04 bilhões registrados em igual período do ano passado, ou US$ 0,49 por ação.

Em base ajustada, o lucro foi de US$ 0,69 por ação, acima dos US$ 0,67 por ação um ano antes. A receita, por sua vez, caiu 1,7%, para US 12,78 bilhões.

Analistas consultados pela Thomson Reuters previam ganho ajustado de US$ 0,67 por ação e receita de US$ 13,09 bilhões. No pré-mercado em Nova York, a ação da empresa caía 0,53%. Fonte: Dow Jones Newswires.

TheraSkin avança com seu processo de Inovação

A TheraSkin está sendo a primeira indústria farmacêutica da América Latina a usar computação cognitiva da IBM na descoberta de produtos para a pele.
Por Felipe Ost Scherer
2 maio 2017, 20h08

A TheraSkin, uma das principais marcas do país nas áreas de medicamentos dermatológicos e dermocosméticos está sendo a primeira indústria farmacêutica da América Latina a usar computação cognitiva da IBM na descoberta de produtos para cuidados com a pele. A empresa, fundada por Basílio Scavarelli há quase 80 anos e hoje comandada por sua filha Rosa Scavarelli, tem um parque industrial de 15 mil metros quadrados em São Bernardo do Campo (SP) e produz mais de 7 milhões de unidades por ano. No mercado brasileiro, está presente em mais de 30 mil farmácias, possui um portfólio de mais de 46 produtos.

Deli Oliveira, gerente da área de PD&I da TheraSkin, esteve na última semana num programa com o médico Dr. Drauzio Varella para um bate-papo com um tema denominado “Repensando a Medicina”. O Sr. Oliveira foi um dos convidados e falou acerca dos esforços da indústria farmacêutica no processo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, respondeu perguntas sobre a utilização da inteligência cognitiva no processo de pesquisa de novos medicamentos.

Deli abordou discussões que evidenciaram o quanto a empresa busca atender as necessidades de médicos e dos consumidores através do desenvolvimento de produtos inovadores. Ressaltou ainda que a TheraSkin acredita que a Inovação é a catalisadora e que com ela é possível gerar soluções para os pacientes, sustentabilidade ambiental, aumento da sua competitividade e otimização de suas operações.

Fazendo alusão a isso, Deli explicou sobre o case de utilização do Watson for Drug Discovery, que foi uma parceria com a IBM e falou também sobre a metodologia aplicada, macro resultados e os próximos passos desse importante projeto e que foi um marco para o meio industrial farmacêutico no Brasil.

“Inicialmente ouvimos a classe médica sobre as principais desordens dermatológicas e as principais carências ainda não atendidas pela indústria farmacêutica e assim buscarmos alvos candidatos e para isso foi montado um time multidisciplinar, composto pelas áreas de pesquisa, departamento médico e novos negócios. O intuito desta equipe multidisciplinar era a soma de competências e visões diferentes que se referem a aspectos clínicos, biológicos, químicos, técnicos e de mercado. Muitas vezes as empresas praticam a inovação reativa, realizada através da observação dos produtos já existentes. A plataforma Watson for Drug Discovery permite o desenvolvimento de inovação mais proativa na empresa, que está relacionada a soluções para atender as necessidades dos pacientes, as quais eles ainda não identificaram possuir, mas que o pesquisador consegue perceber que elas irão melhorar muito sua qualidade de vida, e estes irão querer utilizar as soluções. O Watson ajuda e permite uma atuação mais relacionada à causa raiz de uma determinada patologia e assim sendo, propicia um desenvolvimento que de um produto que evitará que certa patologia se estabeleça”, explicou Deli.

Deli respondeu algumas perguntas sobre o projeto:

1) Quais foram os principais benefícios do projeto Watson na TheraSkin?

A utilização do Watson for Drug Discovery representou uma grande economia de tempo para o time técnico da TheraSkin. Os pesquisadores conseguiram, em uma busca rápida, relacionar e interligar uma extensa quantidade de artigos e textos científicos, com o propósito de identificar alvos biológicos não convencionais e propor moléculas candidatas para condições dermatológicas. Desta forma, as horas trabalhadas foram otimizadas e os resultados obtidos de forma mais ágil. Adicionalmente, a plataforma possibilitou o estudo de uma grande quantidade de alvos candidatos, o que permite a seleção e utilização de soluções direcionadas a alvos específicos de desordens dermatológicas, reduzindo efeitos colaterais relacionados ao um possível produto a ser desenvolvido. Neste sentido, o Watson possibilitou o início do desenvolvimento de produtos com maior evidência de eficácia e segurança. Entendemos que os grandes beneficiados são os dermatologistas e consequentemente os nossos consumidores, que irão dispor de soluções melhores e mais inovadoras para o tratamento de diversas patologias.

2) Durante a utilização da plataforma Watson for Drug Discovery, quais foram as maiores dificuldades?

Acredito que durante a condução deste projeto, tivemos duas dificuldades. A primeira se refere ao entendimento e utilização da plataforma. No início foi necessário um tempo de adaptação e aprendizado. O segundo desafio se refere a interpretação dos dados gerados pelo Watson. Durante a utilização, a plataforma gera possíveis genes candidatos para uma determinada patologia, baseado na literatura científica e dados estatísticos. Os pesquisadores tiveram que estudar estes genes candidatos para confirmar o benefício nas doenças dermatológicas estudadas. Neste sentido, o know-how do nosso time científico fez toda a diferença.

3) Quanto tempo para que estes medicamentos inovadores cheguem ao mercado?

Este tempo é variável e depende do estágio de desenvolvimento da tecnologia e sua complexidade. Por exemplo, se escolhermos um gene que já apresente um composto elucidado, o tempo será mais curto. Mas se tivermos que pesquisar um ativo para inibir ou ativar este gene, o tempo para que o medicamento chegue ao mercado será mais extenso. Não há como ainda afirmar com exatidão um tempo previsto para que esses medicamentos cheguem ao mercado, mas todos os esforços estão sendo praticados para que essas soluções cheguem ao consumidor com a maior brevidade possível.

4) Quais são os próximos passos para este projeto?

Como o resultado foi muito promissor, o primeiro passo será a priorização. Baseado em dados de mercado e o contato próximo com os dermatologistas que ocorre através do nosso time de médicos e consultores, conversas com Key opinion leaders, iremos escolher algumas condições dermatológicas. Este processo será conduzido pelos pesquisadores da Theraskin que realizarão um estudo aprofundado de todos os mecanismos. Tendo realizado a escolha dos genes, iremos decidir se faremos o desenvolvimento no modelo de inovação aberta, com parcerias com universidades, centros de pesquisas, start-ups e outras empresa ou se conduziremos o desenvolvimento interno.

5) Qual modelo a Theraskin prefere, inovação aberta ou desenvolvimento interno?

Historicamente, a indústria farmacêutica, com o intuito de gerar produtos inovadores e que solucionem necessidades médicas não atendidas, são caracterizadas por grandes investimentos na área de Pesquisa. Entretanto, com o aumento progressivo destes custos e as dificuldades para o desenvolvimento de novos produtos, percebeu-se que através da inovação aberta, seria possível minimizar estes custos e potencializar os lançamentos através da soma de competências. Desta forma, a Theraskin acredita na importância da inovação aberta para o desenvolvimento de soluções inovadoras e vê a possibilidade de utilizar este modelo. Inclusive, estamos conduzindo um mapeamento tecnológico a fim de identificar os potenciais parceiros para este projeto que na ocasião serão avaliados com maior profundidade os interesses de ambas as partes.

Quem quiser assistir o debate sobre o uso do Watson na medicina pode acessar: https://www.facebook.com/116721918342821/videos/1635542849794046

Felipe Ost Scherer

Comissão da MP das novas regras para preços dos remédios vota relatório

Da Redação | 02/05/2017, 10h02 – ATUALIZADO EM 02/05/2017, 10h42

A comissão mista da medida provisória 754/2016, que permitiu a alteração dos preços dos remédios em qualquer época do ano, se reúne nesta quarta-feira (3) para votar o relatório do deputado Wellington Roberto (PR-PB).

A MP não é consenso entre autoridades, empresas da indústria farmacêutica e também entre parlamentares. Entre as preocupações a respeito da medida estão a alta dos preços e a perda de equilíbrio do mercado. Até a edição da medida provisória, em dezembro de 2016, os preços dos remédios só podiam ser reajustados uma vez por ano. A decisão sobre aumentar ou reduzir o valor e definir o percentual de reajuste ainda cabe ao Conselho de Ministros da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos. Só que, pelo novo marco legal, o preço agora pode ser definido a qualquer tempo.

No último dia 19 a comissão mista que analisa a MP promoveu uma audiência pública, ocasião em que ficou evidenciada a falta de consenso sobre o conteúdo da medida.

A reunião está marcada para 14h30 na sala 7 da Ala Alexandre Costa do Senado.

Agência Senado

Comparação do Centro Boldrini sobre medicamento de câncer contradiz o laudo do LNBio

Sobre a reportagem do Fantástico relacionada a qualidade do medicamento asparaginase adquirido pelo Ministério da Saúde, a pasta Informa que:

O teste realizado pelo Laboratório de Espectrometria de Massas, do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) reforça que o medicamento adquirido pelo Ministério da Saúde, Leuginase, é asparaginase biológica (VEJA AQUI). Ou seja, desqualifica a informação já veiculada pela reportagem em programa anterior afirmando que o produto é sintético.

O Ministério da Saúde coloca sob suspeita as amostras que o Centro Infantil Boldrini colocou em análise, pois sem base concreta, antes de qualquer análise, mostra clara intenção da entidade em desqualificar o produto adquirido pela pasta. Devem ser observadas as seguintes informações:

1 – LNBio afirma em seu relatório  que os dados apresentados pela amostra “são preliminares e não conclusivos”. Ainda, deixa mais evidente a má fé do Centro Infantil Boldrini ao certificar que os dados obtidos “são insuficientes para comprovação estatística de diferenças quantitativas entre as amostras”. A comparação sugerida, portanto, não é possível.

2 – A comparação de referência, segundo o Fantástico, é com  medicamento Aginase, que a reportagem afirma ser utilizada pelo centro. Esse produto não possui estudos clínicos próprios. É contraditório, ao longo da série de reportagens, questionar a necessidade de tais pesquisas para a Leuginase e usar como referência e uso dos pacientes do produto Aginase que também não tem estudos clínicos.

3 – É característica de um produto biológico apresentar traços de proteínas. Isso, no entanto, não indica que esses elementos são prejudiciais aos pacientes. A análise leva a erro.

Teste sobre a qualidade do medicamento adquirido pelo Ministério da Saúde está sendo realizado por meio da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Os dados preliminares mostram que o medicamento é biológico e tem ação enzimática na degradação da asparagina.

Onze estados (AM, BA, GO, MA, PA, PE, PI, RJ, RO, RR e SP) já estão utilizando o medicamento Leuginase. Na farmacovigilância –  acompanhamento junto a essas unidades —, até o momento, não houve nenhum efeito diferente do esperado pela literatura disponível.

A compra do medicamento cumpriu exigências da lei de licitações e não sofreu inpugnacoes.

O Ministério da Saúde tem se colocado a disposição da produção do Fantástico para todos os esclarecimentos. No entanto, sente-se obrigado, mais uma vez, a distribuir nota de esclarecimento para, de forma transparente, apresentar todos os argumentos sobre o assunto.

Anti-hipertensivo também trata câncer de pele

Em experimento com ratos, a substância carvedilol reduz a gravidade e a quantidade de células cancerígenas, além de evitar o surgimento do tumor. A intenção dos cientistas americanos é usá-la no formato de protetor solar

Vilhena Soares

Publicação: 30/04/2017 04:00
Para se proteger dos danos causados pela exposição excessiva aos raios UV, a medida mais utilizada e recomendada pelos médicos é o uso do filtro solar, que impede problemas graves, como o câncer de pele. Uma descoberta feita por acaso pode trazer mais uma opção para essa medida preventiva. Pesquisadores dos Estados Unidos identificaram que o medicamento carvedilol, usado para combater a hipertensão, também consegue evitar os danos causados pela luz solar. O experimento foi feito com ratos e os resultados apresentados na reunião anual da Sociedade Americana de Farmacologia e Terapêutica Experimental, realizada na semana passada em Chicago, nos Estados Unidos.

As propriedades anticancerígenas do carvedilol foram detectadas por um ex-aluno de pós-graduação de Ying Huang, que é um dos autores do estudo e pesquisador da Universidade de Western (EUA). O orientando analisava se o medicamento poderia aumentar o risco de tumores. “Um erro experimental encontrou resultados opostos. Descobrimos que essa droga realmente pode prevenir o câncer. O que começou como uma falha levou a uma descoberta científica muito interessante”, detalhou Huang à reportagem.

A equipe resolveu analisar mais a fundo o tema e, para isso, utilizou células em cultura de ratos e também camundongos vivos. Descobriu que o carvedilol teve efeito protetor tanto nas células de pele de rato cultivadas e expostas aos raios UV quanto em ratos sem pelos que receberam a droga após sofrer exposição à luz solar. Esses roedores apresentaram redução na gravidade e no número de tumores que se desenvolveram, quando comparados às cobaias que não receberam o carvedilol. Além disso, os ratos medicados tiveram maior queda na formação de tumores de pele do que aqueles que receberam apenas a proteção do filtro solar.

Os investigadores ainda não conseguem esclarecer por que o medicamento anti-hipertensivo protegeu os animais do câncer de pele, mas acreditam que ele pode agir em moléculas ainda não identificadas. “O que já sabemos é que os alvos celulares do carvedilol não estão relacionados com os receptores beta-adrenérgicos, os alvos comumente atingidos por todos os remédios de sua classe, que combatem a adrenalina e o estresse. Ele, provavelmente, tem como alvo mecanismos que estão envolvidos no desenvolvimento do câncer, mas que ainda não conhecemos”, diz Bradley T. Andresen, um dos autores do estudo e também pesquisador da Universidade de Western.

Para o médico dermatologista Gilvan Alves, do Grupo Aepit, de Brasília, e integrante da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), o trabalho americano é semelhante a outros da área científica em que um medicamento se torna possibilidade de tratamento para problemas de saúde diferentes de sua proposta original terapêutica. “Temos um exemplo parecido: cientistas que tratavam uma criança que sofria com hemangioma (um tipo de tumor frequente na infância) usaram um remédio utilizado também para tratar problemas cardíacos, o propranolol, e conseguiram resultados positivos. Outro caso semelhante é o minoxidil, criado para tratar hipertensão, mas que hoje é usado para o crescimento de cabelo”, ilustra o especialista, que não participou do estudo.

Pressão preservada Os resultados obtidos deixaram a equipe bastante otimista com o uso clínico da substância. “O carvedilol, ou uma droga semelhante a ele, pode ajudar a prevenir o câncer por meio de um mecanismo totalmente novo. Estamos trabalhando para decifrar qual é esse mecanismo”, diz Huang. Eles pretendem incorporar a substância a um creme de pele ou spray. Um dos desafios, porém, é criar um produto que atue na pele sem afetar a pressão arterial e a frequência cardíaca, que são comumente alteradas por remédios da classe do carvedilol. “Estamos trabalhando na compreensão do mecanismo anticancerígeno e queremos desenvolver uma formulação clinicamente útil para o carvedilol”, detalha Huang.

Alves também acredita que a pesquisa americana pode resultar em uma opção promissora para a prevenção do câncer de pele. “Essa substância poderá gerar um aditivo na proteção, que seria mais eficaz se usado com o protetor, na forma de um creme. Por exemplo, uma loção para ser usada depois que a pessoa volta da praia, tendo usado o protetor lá. Ela complementaria a prevenção com esse novo recurso”, cogita.

O dermatologista frisa ainda a necessidade de desenvolvimento de um produto seguro. “O importante é fazer com que ele possa ser usado sem riscos de efeitos colaterais, sem que a pressão da pessoa seja alterada. Esses especialistas precisam trabalhar em cima dessa molécula para que ela possa ser usada sem nenhum risco para a população. Por isso, mais testes devem ser feitos.”

Alta incidência

É um dos tumores que mais atingem a população mundial. De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), o câncer de pele corresponde a 25% de todos os diagnósticos de carcinomas no Brasil. O tipo mais comum é o não melanoma, que ocorre nas células basais e representa 95% dos casos da doença. Já o melanoma tem origem nos melanócitos, células que produzem a melanina, e é a forma mais agressiva da doença. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que, anualmente, são diagnosticados cerca de 150 mil novos casos da enfermidade.

A droga barata que pode evitar um terço das mortes de mulheres após o parto

Pesquisas sugerem que ácido tranexâmico, criado por casal japonês em 1960, poderia evitar hemorragias que matam 100 mil mães todos os anos.

Por BBC

30/04/2017 17h08

Um medicamento barato criado em 1960 por um casal de japoneses pode evitar um terço as mortes causadas por hemorragias pós-parto, sugere um estudo publicado na revista científica Lancet.

Cerca de 100 mil mulheres morrem todos os anos por causa de sangramentos intensos momentos após o parto, o que torna a hemorragia pós-parto a principal causa de mortes decorrentes da gravidez e da maternidade precoce.

Pesquisadores da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres afirmam que o ácido tranexâmico seria eficaz em inibir a dissolução de coágulos, auxiliando o corpo a estancar os sangramentos.

De acordo com a pesquisa, realizada em parceria com 193 hospitais principalmente da Ásia e África e que envolveu 20 mil pacientes, o uso do ácido tranexâmico reduziu as mortes em um quinto. Entre as mulheres que tomaram o medicamento em até três horas após o parto, a redução foi ainda maior: 31%.

"Nós conseguimos um resultado importante. Descobrimos que um medicamento barato, tomado em dose única, reduz o risco de hemorragia severa e pode ter um papel significativo em diminuir a mortalidade maternal ao redor do mundo", disse Ian Roberts, que participou da pesquisa.

Após a publicação dos resultados, a Organização Mundial da Saúde afirmou que mudaria a recomendação de uso do medicamento para incluir os casos de hemorragia pós-parto.

O remédio

As descobertas não seriam uma surpresa para Utako Okamoto, que inventou o medicamento ao lado do marido, Shosuke, na década de 60 no Japão.

A pesquisa do casal Okamoto começou durante a pobreza do período pós-guerra no Japão. Eles decidiram começar a estudar o sangue porque poderiam colher amostras próprias para a pesquisa.

"Queremos que nosso trabalho seja internacional, queremos descobrir novos medicamentos para mostrar nossa gratidão à humanidade", disse ela.

Na época, o casal não conseguiu convencer os médicos locais a testarem o ácido em casos de hemorragia pós-parto. O medicamento então foi comprado por uma empresa farmacêutica e usado contra fluxos menstruais intensos.

A história quase parou por aí. Mas o casal começou uma parceria com hospitais ao redor do mundo e contou com 20 mil inscritos para testar o medicamento.

A professora morreu, aos 98 anos, logo antes de os testes feitos com 20 mil voluntários comprovarem que suas suspeitas sobre a eficácia do remédio em hemorragias pós-parto se corfimavam.

Em um vídeo filmado antes do final dos testes, ela afirmou já ter certeza da eficácia do remédio nesses casos.

"Mesmo antes da pesquisa, eu sei que vai ser eficiente", disse Okamoto.

Auxílio

O pesquisador Ian Roberts afirmou que se sentiu absolutamente inspirado por ela e que a descoberta a respeito da eficácia do medicamento não é o fim da jornada.

Segundo ele, apesar do custo baixo, levar o medicamento a hospitais do mundo todo ainda é um desafio.

"É uma coisa horrível uma mãe morrer no parto. É extremamente importante que tenhamos certeza sobre a disponibilidade do tratamento em qualquer lugar onde ele possa salvar vidas. Não deveríamos ter uma criança crescendo sem a mãe por falta de um medicamento que custa um dólar", afirmou.

Um desses lugares é o Paquistão. De acordo com a médica Rizwana Chaudri, da Universidade Médica da cidade de Rawalpindi – a quarta maior do país – há muitas mulheres que morrem de hemorragias pós-parto ou que já chegam mortas ao hospital.

"Você não conseguiria nem pensar numa coisa dessas no mundo desenvolvido, mas por aqui esses casos ocorrem diariamente, sem parar."

Um dos casos de hemorragia ocorreu com Nosheen, que quase morreu depois de dar à luz sua filha. Ela sobreviveu apenas depois de uma histerectomia (remoção de parte ou de todo o útero) de emergência.

"Minha saúde está completamente destruída, e estou muito triste por causa disso", contou ela, a quem o ácido tranexâmico poderia ter ajudado.