O Assaí, que vinha sendo destaque nos balanços da companhia, foi o mais atingido pela inflação em baixa de abril a junho; agora, a tendência é que o cenário só volte a normalizar no 4º trimestre
São Paulo – A queda no preço dos alimentos, que impactou negativamente o resultado do Grupo Pão de Açúcar (GPA) no segundo trimestre, deve seguir pressionando a receita líquida da empresa no período de julho a setembro. A perspectiva é que a situação só se normalize nos últimos três meses do ano.
Os preços menores da categoria – que em junho, por exemplo, apresentou deflação de 0,47%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE -, prejudicou principalmente a receita líquida do Assaí. A rede de atacarejo do GPA conseguiu, no entanto, compensar os efeitos negativos com aumento no volume de produtos vendidos e cresceu 27,7% no intervalo de abril a junho, frente ao mesmo período do ano passado.
Apesar da alta ainda expressiva, o resultado representa uma desaceleração, já que nos trimestres anteriores a rede vinha crescendo a níveis mais elevados (veja no gráfico). "No Assaí vimos um impacto muito importante da deflação de commodities. No ano passado tivemos uma inflação de dois dígitos, e agora estamos vivendo um período de deflação. Mesmo assim o Assaí tem evoluído nas receitas de maneira positiva", afirmou ontem o presidente do grupo, Ronaldo Iabrudi, em teleconferência com analistas.
A perspectiva da companhia, de acordo com o presidente do Assaí, Belmiro Gomes, é que a queda expressiva dos preços de alimentos pressione os resultados no balanço do terceiro trimestre, mas estabilize no período de outubro a dezembro. O executivo pontua, contudo, que o cenário inflacionário distinto fez com que o crescimento da rede ficasse menor, em comparação com 2016, em termos nominais. Já em termos reais ele afirma que a expansão deste ano foi superior. "Em volume de mercadorias temos uma expansão em 2017 superior aquela que tivemos durante o ano passado", afirmou Gomes.
Nas bandeiras Pão de Açúcar e Extra o impacto da redução no preço dos alimentos também foi sentido, aponta o diretor da divisão de multivarejo do grupo, Luis Moreno. "Essa deflação alimentar impactou significativamente na categoria de perecíveis, que tem um peso importante dentro das duas redes", ressaltou.
Apesar do impacto no resultado da empresa, o presidente do GPA, Iabrudi, explica que a inflação menor, no médio e longo prazo, é positiva para o desempenho do varejo. "No primeiro momento gera perdas nas vendas porque pelo mesmo volume comprado temos uma receita menor. Mas no médio e longo prazo ela é benéfica, já que estimula o consumidor a comprar mais."
Pão de Açúcar e Extra
Além da inflação menor, outro ponto que prejudicou o resultado das vendas do Extra, no segundo trimestre, foram as conversões de hipermercados da marca em Assaí. No período três conversões foram concluídas e mais 11 entraram em processo de conversão. Com a somatória dos dois fatores, a receita líquida da rede cresceu apenas 1,1%, na comparação interanual. No Pão de Açúcar, o desempenho de vendas foi ainda pior e a rede de supermercados apresentou retração de 1,2% de abril a junho.
Apesar do resultado fraco das duas bandeiras, o especialistas em varejo da GS&Consult, Alexandre Van Beeck, afirma que a estratégia adotada pelo GPA é assertiva. Ele cita como exemplo a criação do programa Meu Desconto, que usa o banco de dados da rede para oferecer ofertas personalizadas aos clientes dos programas de fidelidade; e a aposta do grupo no crescimento das categorias de não alimentos, principalmente nos supermercados e hipermercados Extra. De acordo com o diretor executivo de multivarejo, Marcos Samaha, o segmento de não alimentos "tem apresentado performance muito positiva no crescimento das vendas e contribuído na rentabilidade."
Em relação ao lucro líquido, o GPA apresentou no período um resultado de R$ 169 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 583 milhões registrado no balanço financeiro do segundo trimestre do ano passado.
Pedro Arbex