Cidade tem concentração maior do que o preconizado como ideal pela OMS; mercado tem mudança no perfil
Philippe Fernandes
Há algum tempo, uma curiosidade chama a atenção dos petropolitanos: o grande número de farmácias e drogarias da cidade. E os números de fato impressionam: de acordo com a Secretaria de Fazenda, Petrópolis conta com 159 estabelecimentos deste tipo. Isso resulta em uma média de uma farmácia para cada dois mil habitantes, índice bem superior ao estipulado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o ideal – que seria de uma farmácia para cada 8 mil moradores.
A concentração é mais visível no Centro Histórico: são 59 farmácias, sendo 31 concentradas em apenas nove vias: 16 na Rua do Imperador, quatro na Paulo Barbosa, três na Porciúncula, mais três nas ruas Montecaseros e Sete de Abril, duas na Dezesseis de Março, duas na Marechal Deodoro, uma na Caldas Vianna e outra na Praça Duque de Caxias.
O grande número de farmácias e drogarias, no entanto, não está apenas na região central. O distrito de Itaipava, por exemplo, é a segunda região da cidade com maior número de lojas, com 20 unidades. O Alto da Serra vem em seguida, com 10 drogarias, seguido pelo Bingen, com nove estabelecimentos. Cascatinha tem oito lojas. A região do Quissamã e do Itamarati tem sete drogarias, assim como Corrêas. No Quitandinha e no Retiro, são cinco unidades; na Posse, quatro; no Roseiral, Independência, Coronel Veiga e Araras, três; e, em Secretário, duas. Os bairros Castrioto, Mosela, Nogueira, São Sebastião e Castelânea têm apenas uma drogaria cada, e não há registro de drogarias em Pedro do Rio.
Um mercado que se transforma
O mercado de drogarias sempre foi uma das principais atividades do comércio varejista em Petrópolis e nas outras regiões do país. No entanto, nos últimos dez anos, o segmento começou a sofrer uma transformação, com a capilarização e a concentração de mercado em grandes redes, que, aos poucos, substituem as drogarias locais. Em todo o Brasil, já são mais de 6,2 mil unidades dos grandes conglomerados. A concentração pode ser observada por um estudo da consultoria IMS Health, indicando que o faturamento das farmácias independentes representaram, em 2016, 43% do volume total de vendas do setor – há dez anos, esse índice era de 60%.
Segundo dados da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), os maiores grupos do Brasil em número de lojas são a Raia Drogasil, que aparece em primeiro lugar; a Pague Menos, que figura em segundo; e o grupo Pacheco São Paulo, em terceiro.
Essa tendência já pode ser observada também por aqui. Além de haver loja dos três maiores conglomerados do país, 34% do número de farmácias da cidade são de grandes redes. São, ao todo, 55 unidades de 13 conglomerados, espalhados por toda a cidade. A Boa Saúde conta com 21 unidades; a City Farma, cinco; as redes Brasileiras, Galanti e Pacheco têm quatro unidades cada; a Droga Raia e a Legítima, três; a Ofertão, Ita Center, Pague Menos, Extra e Conceito; duas, e a Tamoio, uma.
Essas redes trazem um conceito diferente do modelo antigo de farmácias, seguindo a ideia norte-americana de drugstore, com um mix de produtos ampliados, em que são vendidos não apenas medicamentos, mas produtos que estão dentro do conceito de qualidade de vida – beleza, alimentação, entre outros.
Mas o que explica essa transformação de mercado e a situação atual do segmento de farmácias e drogarias? Em entrevista ao Diário de Petrópolis, o presidente da Associação de Comércio Farmacêutico do Estado do Rio de Janeiro (Ascoferj), Luiz Carlos Marins, explicou a realidade atual do segmento e traçou um panorama para o futuro. Ele destacou que a característica de mercado explica a boa fase do setor.
– Ao longo das últimas décadas, o segmento do canal farmacêutico apresentou um crescimento bem acima da média da economia do país. Isso porque, basicamente, não há, como em outros setores, aquecimento ou queda muito simultânea. Alguns segmentos têm movimento sazonal, mas o canal farmacêutico é linear em relação à comercialização, por tratar de algo com característica diferenciada. Você não pode deixar de tomar um remédio, por exemplo – explicou, destacando que o segmento cresceu 9% no ano passado, bem acima do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
“Verticalização é uma realidade”
Segundo Marins, a verticalização e a concentração de mercado são realidades. Isso acontece porque as grandes redes têm maior poderio econômico, que se reflete no poder de negociação com as indústrias, no volume de faturamento, na condição de comercialização com preços mais competitivos e a possibilidade de conseguir melhor localização, em áreas centrais, especialmente em cidades de porte médio.
– O setor tem uma característica interessante, que estamos percebendo a nível nacional e de forma abrangente, que é uma verticalização da concentração de venda e faturamento. Hoje temos 29 empresas que concentram 42% do faturamento do setor a nível nacional. Isso acontece de forma nacional. Em Petrópolis, por exemplo, já há a presença dessas grandes redes – lembrou.
De acordo com ele, nas cidades médias e grandes, com população a partir de 100 mil habitantes, as redes regionais e empresas independentes precisaram mudar o seu perfil, indo para os bairros e regiões periféricas.
– Onde chega uma grande rede, chegam todas as outras, e as empresas de menor porte, por não ter condição de competir em pé de igualdade, ficam nas periferias – disse.
Caminhos para os empresários locais
De acordo com Marins, no entanto, há um caminho para as empresas de pequeno e médio porte: investir cada vez mais na comercialização e no associativismo, para que, unidas, elas consigam resistir.
– O empresário de pequeno e médio porte, para que possa se manter no mercado, precisa ter um alto grau de profissionalismo. Se a empresa não estiver bem administrada, não terá condições de sobreviver. As farmácias menores têm como resistir. Outro caminho é buscar, de alguma maneira, a união em torno de uma bandeira, denominação de marca e o associativismo. É necessário que elas possam se agrupar para fazer frente, ter competitividade, e ganhar escala. Cada vez mais, as drogarias independentes estão se agrupando, de alguma maneira – disse Marins.
Impostos encarecem medicamentos
Apesar dos altos índices de faturamento, um ponto ainda causa transtornos para os pacientes e desagrada os próprios proprietários das farmácias: a alta carga tributária que incide sobre os medicamentos. Durante a entrevista ao Diário, o presidente da Ascoferj, Luiz Carlos Marins, destacou que essa questão precisa ser debatida com urgência. A análise sobre a taxa de impostos nos medicamentos já está sendo feita pelo Senado Federal.
– É uma coisa que precisa ser levada ao conhecimento público. Hoje, a carga de impostos que incide sobre os medicamentos é de 33%. Ou seja, para três caixas de medicamento, uma é apenas de impostos. Estamos fazendo uma mobilização nacional para que o tributo passe para o valor da cesta básica. Trata-se de um produto essencial para a saúde da população, uma vez que, se reduzirmos os impostos, aumentamos o acesso da população aos medicamentos e, com isso, a possibilidade de agravamento da patologia ou da enfermidade é menor, diminuindo também os custos com a saúde pública – considera.