Mercadinhos de bairro ficam mais sofisticados e se diferenciam dos tradicionais secos e molhados

Com produtos artesanais ou orgânicos e locais próprios para comer e beber, comércios buscam aproximação com a clientela 

Por: Bruna Vargas

29/04/2017 – 04h00min | Atualizada em 29/04/2017 – 04h00min

Uma rebelião silenciosa, aos poucos, modifica o estilo de um dos tipos de comércio mais característicos dos bairros de Porto Alegre. Entre as centenas de mercadinhos espalhados pela cidade, surgem os que não se contentam em ser apenas alternativa rápida às grandes redes de supermercado. E demarcam território criando um ambiente agradável e se especializando em opções que vão de produtos coloniais e vegetais orgânicos a pães e cervejas especiais.

Está nas prateleiras a principal diferença entre eles e os tradicionais secos e molhados que tantas vezes socorreram você na volta para casa. Nos mercadinhos repaginados, o básico foi sofisticado: além dos produtos de sempre, somaram-se outros, artesanais, orgânicos ou funcionais. Em alguns casos, os itens "gourmet" preponderam sobre o resto.

— De uns meses para cá, diversificamos mais os produtos. Colocamos coisas mais funcionais, sem glúten, sem lactose, orgânicos. É o que está em evidência. Não adianta ficar parado no tempo — conta Paulo Oscar de Souza, que após uma reforma transformou o Armazém Alberto, na Rua Cabral, em Armazém 166.

Os pequenos comércios de bairro também estão com fachadas mais acolhedoras e lugares para consumo de alimentos e bebidas, dentro ou fora do estabelecimento. Em comum, ganharam a simpatia da vizinhança e um feito invejável: prosperam em meio à crise econômica.

— Os pequenos comércios entendem os consumidores. O que é igual em qualquer lugar, se pode comprar num e-commerce. Mas, para quem está buscando uma coisa artesanal, cada vez mais esses pequenos comércios vão fazer mais sentido — avalia Liliane Rohde, professora de comportamento do consumidor e pesquisadora de marketing da ESPM-Sul.

Conforme a professora, os mercadinhos gourmetizados não são só um fenômeno do presente, mas um caminho apontado por estudiosos já há alguns anos como futuro do consumo. Ele deve ser polarizado: de um lado, as grandes redes, com múltiplas opções industrializadas a baixo custo. De outro, os comércios de bairro oferecendo produtos especiais, artesanais, locais, orgânicos ou funcionais. A visão é compartilhada pelo Sebrae-RS, que atua junto a empreendedores do segmento.

— É difícil um mercadinho competir por preço. Ele vai competir por conveniência ou diferenciação. E as pessoas estão buscando produtos de verdade, cerveja de verdade, comida de verdade. Querem saber de onde as coisas vêm. É uma grande oportunidade, tanto para pequeno produtor quanto para esse tipo de varejo, que tem facilidade de acesso a esses produtos — observa Roger Klafke, coordenador de projetos da Indústria, Varejo e Serviços de Alimentos e Bebidas do Sebrae-RS.

Klafke considera ainda que os mercadinhos de bairro gourmet democratizam o acesso aos alimentos, contribuindo para que pequenos produtores se coloquem no comércio. Mercadorias artesanais em que o Rio Grande do Sul já se destaca, como cerveja e queijos, podem ser usadas por quem quer modificar seu negócio mas não sabe por onde começar, observa.

Para os especialistas, a mudança em curso é saudável para a cadeia produtora de alimentos e abre espaço para pequenos empreendedores crescerem de forma sustentável. E atendem a uma tendência cada vez mais forte de consumo: a busca por autenticidade.

— Os mercadinhos têm um pouco esse apelo de volta às origens, porque neles toda a história (de um produto) está interligada. A sensação de proximidade entre quem compra e quem produz não tem preço. As pessoas buscam uma coisa especial, que não seja algo que sempre fazem, e que traga alguma compensação. Elas pagam por essa diferenciação e por essa emoção — diz Liliane Rohde.

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