Estudos questionam segurança de medicamento do SUS no tratamento diabetes

19/06/2017 25

A prevalência de diabetes vem aumentando assustadoramente no Brasil e Curitiba aparece em um perigoso ranking das capitais com o maior diagnóstico médico da doença. Para acompanhar de perto os avanços nos estudos científicos sobre controle e tratamento da diabetes, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional Paraná (SBEM-PR) marcou presença no Congresso da American Diabetes Association 2017, realizado entre os dias 9 e 13 de junho, em San Diego, na Califórnia.

Um dos principais debates girou em torno dos novos tratamentos para o diabetes do tipo 1, doença autoimune em que o paciente precisa receber insulina diariamente. Estudos científicos foram apresentados sobre o transplante de células beta – recriadas a partir do transplante de células tronco para evitar que as mesmas sejam atacadas pelo sistema imune  – e também sobre o pâncreas artificial – um dispositivo que monitora os níveis de glicose no sangue e, automaticamente, ajusta os níveis de insulina injetados no organismo do paciente.

Segundo a endocrinologista Silmara Leite, de Curitiba, que preside a SBEM no Paraná, ficaram evidentes as limitações para o transplante de célula beta. “Os estudos têm avançado mas ainda é cedo para considerar a cura do diabetes tipo 1”, afirma. Ela explica que pesquisas estão sendo realizadas para se extrair células do intestino, que representaria a fonte de células tronco para desempenhar as funções das células pancreáticas de maneira eficiente.

Já o pâncreas artificial, recentemente aprovado pelo FDA (Food and Drug Administration), embora não seja a cura do diabetes, se revela como a tecnologia mais atual para controle da doença. “Trata-se de uma nova tecnologia de infusão contínua de insulina acoplada com um sensor que comunica o valor de glicose no interstício e interrompe a infusão de insulina antes do paciente apresentar hipoglicemia”, explica a médica. “O aparelho está sendo aprimorado, mas precisamos de insulinas mais rápidas para reduzir o tempo entre a aplicação da insulina e sua ação efetivamente”, conclui.

No decorrer do Congresso da American Diabetes Association 2017 pesquisas foram publicadas sobre as novas medicações para o tratamento da diabetes do tipo 2. O alto custo das novas drogas representa o principal entrave para a maioria dos pacientes. Mas segundo a médica curitibana, os pacientes em tratamento não devem se preocupar com relação à segurança das sulfonilureias, classe de medicamentos mais receitada nos consultórios médicos. “As novas drogas são muito caras e apenas pessoas com alto poder aquisitivo se beneficiam dos novos tratamentos e, além disto, ficou bem claro que as sulfonilureias (Glimeprida e Gliclazida) devem permanecer nos nossos receituários, não apenas porque são mais baratas, mas porque são efetivas e seguras”, afirmou a presidente da SBEM-PR.

Riscos da medicação oferecida pelo SUS

A médica alerta, porém, que existem diferenças significativas entre as sulfonilureias adotadas para o tratamento da diabetes e que a glibenclamida, oferecida aos pacientes pelo Sistema único de Saúde no Brasil, deveria ser banida do mercado. “Essa medicação aumenta em três vezes o risco de morte quando o paciente diabético sofre um infarto. Evidências científicas relevantes foram mostradas para justificar a recomendação para que o Ministério da Saúde mude o medicamento oferecido aos diabéticos atendidos na rede pública”, enfatiza a endocrinologista. Uma alternativa seria a gliclazida, medicação que já faz parte da lista da RENAME (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais) e que se encaixa em perfil de segurança cardíaca e renal semelhante aos mais modernos medicamentos.

Prevalência de Diabetes

O número de brasileiros diagnosticados com diabetes cresceu 61,8% nos últimos 10 anos, passando de 5,5% da população em 2006 para 8,9% em 2016, segundo a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). O levantamento revelou também que as mulheres registram mais diagnósticos da doença – o grupo passou de 6,3% para 9,9% no período, contra índices de 4,6% e 7,8% registrados entre os homens. Ainda segundo o estudo, o Rio de Janeiro é a capital brasileira com a maior prevalência de diagnóstico médico de diabetes, com 10,4 casos para cada 100 mil habitantes. Em seguida estão Natal e Belo Horizonte (ambos com 10,1), São Paulo (10), Vitória (9,7), Recife e Curitiba (ambos com 9,6).

Sanofi Pasteur pede aprovação de nova vacina contra gripe

Produto é exclusivo para idosos

A Sanofi Pasteur solicitou o registro de uma nova vacina contra gripe desenvolvida exclusivamente para idosos à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A vacina apresentou-se 24,2% mais eficaz na proteção contra a gripe se comparada à vacina contra influenza trivalente usada hoje no Brasil e diminuiu 39,8% das pneumonias.

O produto foi lançado nos Estados Unidos em 2010 e já protegeu mais de 67 milhões de idosos. “O Brasil tem uma população idosa crescente que precisa se proteger contra a gripe e muitos serão beneficiados com a chegada desta vacina inovadora”, explica o diretor geral da Sanofi Pasteur, Hubert Guarino.

Com o envelhecimento, há diminuição da função imunológica, declinando a resposta de anticorpos após o recebimento da vacina tradicional contra a gripe. Como a nova vacina foi desenvolvida e produzida para pessoas a partir dos 65 anos, promove resposta imune mais efetiva, chegando a ser 36,4% superior em temporada com alta circulação do vírus H3N2, tipo de influenza com maior prevalência no ano estudado.

A vacina protege contra os vírus Influenza A H1N1, Influenza A H3N2, e um tipo de Influenza B, de acordo com a recomendação anual da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Fonte: Assessoria de Imprensa Sanofi Pasteur (Ketchum)

Anvisa libera novo tratamento para pacientes com câncer de pulmão

Medicamento atua no sistema imune, aumentando a capacidade de o organismo reconhecer e combater as células cancerígenas

Lígia Formenti, O Estado de S. Paulo

19 Junho 2017 | 19h01

BRASÍLIA – A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso de uma nova terapia para o tratamento de câncer de pulmão. O medicamento, pembrolizumabe, atua no sistema imune do paciente, aumentando a capacidade de o organismo reconhecer e combater as células cancerígenas.

O remédio já é usado no País para o melanoma e para estágios mais avançados de câncer de pulmão. Com a decisão da Anvisa, a droga passa a ser indicada já no início do tratamento – mas em casos específicos. A terapia somente é prescrita para aqueles pacientes que apresentarem na célula do tumor uma proteína, a PD-L., em altos níveis. A estimativa é de que 26% do total das pessoas com diagnóstico de câncer de pulmão poderiam fazer uso do remédio.

A imunoterapia é considerada como uma ferramenta eficaz para o tratamento do câncer e menos agressiva ao organismo. A estratégia é atacar apenas as células do tumor, preservando as células sadias.

Indústria farmacêutica faturou R$ 62,1 bi em 2016

por Clarissa Stycer
19/06/2017 09:05

Laboratórios e empresas do setor farmacêutico faturaram 62,1 bilhões no ano passado. De acordo com o Sistema de Acompanhamento de Mercado de Medicamentos (Sammed), banco de dados da Anvisa, foram 4,50 bilhões de embalagens produzidas e 2,4 mil novos medicamentos no mercado — um aumento de 6,5% em relação ao número de remédios novos em 2015.

Alterada norma sobre protocolo de documento em formato eletrônico

O regulamento altera a obrigatoriedade para a protocolização de documentos em formato eletrônico. O protocolo de informações relacionadas aos assuntos de petições listados na IN nº 8 poderá ser feito em mídia eletrônica ou papel.

Por: Ascom/Anvisa
Publicado: 19/06/2017 15:57
Última Modificação: 19/06/2017 16:17

A Anvisa publicou, na sexta-feira (16/6), a RDC n° 162. O regulamento altera a obrigatoriedade para a protocolização de documentos em formato eletrônico. Com isso, o protocolo de informações relacionadas aos assuntos de petições listados na IN n° 8, de 2016 poderá ser feito em mídia eletrônica ou papel, sendo necessário escolher uma das duas opções.

Os novos procedimentos para a protocolização de documentos em formato eletrônico para trâmite interno são objeto de consulta dirigida enviada às associações e entidades representativas do setor. A expectativa é de que, em breve, a nova orientação seja publicada.

Comissão debate uso de medicamentos e tecnologias para tratamento de doenças raras no SUS

A Comissão Especial de Inovação Tecnológica da Saúde realiza audiência pública nesta terça-feira (20) para debater a incorporação, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), de tecnologias e medicamentos no tratamento de doenças raras. O debate será realizado a pedido do deputado Hiran Gonçalves (PR-RR).

O parlamentar explica que o Ministério da Saúde reconhece como doença rara aquela que afeta até 65 pessoas em cada 100.000 pessoas, ou seja, 1,3 pessoas para 2 cada 2.000 indivíduos.

Segundo o deputado, pacientes com doenças raras que enfrentam, em geral, graves dificuldades em sua vida, devido aos sintomas que sofre, e a dificuldade de encontrar tratamentos eficazes. “Com o avanço tecnológico, surgiram nos últimos anos possibilidades terapêuticas relevantes, mas em geral são medicamentos de alto custo e difícil acesso”.

Gonçalves acrescenta que, em 2014, o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras, que trouxe avanços. “Porém os serviços especializados em doenças raras ainda são poucos, e concentrados principalmente no Sudeste”, afirma.

Foram convidados para o debate representantes do Instituto Vidas Raras; do Ministério da Saúde; e da Associação Médica Brasileira (AMB).

O debate será realizado no plenário 16, às 14h30.

Da Redação – RL

Medicamento Perivasc é suspenso

Fábrica apresentou não-conformidades durante inspeção para verificação de Boas Práticas de Fabricação.

Publicado: 16/06/2017 11:45
Última Modificação: 16/06/2017 11:48

A Anvisa determinou a suspensão da importação, distribuição, comercialização e uso do medicamento Perivasc (diosmina + hesperidina). A formulação é utilizada no tratamento das manifestações da insuficiência venosa crônica, como varizes, sequelas de tromboflebites e úlceras varicosas.

A decisão, que consta na Resolução RE 1.592/2017, publicada nesta sexta-feira (16/6) no Diário Oficial da União, baseou-se nas não conformidades detectadas durante inspeção para verificação de Boas Práticas de Fabricação na empresa espanhola Kern Pharma, fabricante do medicamento. O produto é importado para o Brasil pela Eurofarma Laboratórios S.A. Por isso, a empresa deverá recolher os produtos que ainda existirem no mercado.

Os medicamentos mais caros para o estômago são mais eficientes?

Pesquisas sugerem que o omeprazol e os demais medicamentos semelhantes – usados no tratamento de gastrite e doença do refluxo – têm efeitos equivalentes. O que muda é o preço
RAFAEL CISCATI
16/06/2017 – 16h51 – Atualizado 16/06/2017 18h07

A questão

Quero perguntar sobre o velho e bom omeprazol, que tomo de vez em quando desde que fui diagnosticada com gastrite há trtês anos. De vez em quando, há farmacêuticos que tentam empurrar uns mais caros, como pantoprazol ou nexium. Há algum estudo que indique que eles são melhores?
Liege Albuquerque –  Manaus (AM)

O que a ciência diz

O omeprazol e o pantoprazol fazem parte de um grupo de medicamentos chamados inibidores de bomba de prótons. Sua função é diminuir a produção do ácido liberado no estômago, e usado na digestão dos alimentos.

Além desses dois, há diversos outros inibidores, que funcionam seguindo esse mesmo princípio. Todos são recomendados para aquelas situações em que a pessoa sofre com alguma lesão ou inflamação no estômago ou esôfago, como uma úlcera ou gastrite: “Ao reduzir a acidez, você dá ao organismo tempo para a lesão cicatrizar”, diz a professora Daniela Melo, do Departamento de Farmacologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Os inibidores de bomba de prótons são também frequentemente receitados para o tratamento de um problema chamado Doença do Refluxo Gastroesofágico. Ela surge quando a pessoa sofre com uma lesão no mecanismo de passagem do esôfago para o estômago. Por causa do dano, os ácidos produzidos no estômago fazem o caminho até o esôfago, e podem chegar até a boca – provocando aquela sensação de queimação, conhecida popularmente como azia, mas que os médicos chamam de pirose.

Nem sempre o tratamento desses problemas exige o uso de inibidores. Nas ocasiões em que eles são necessários, o uso do medicamento costuma durar entre quatro e 12 semanas, ao final das quais o médico avalia  se o problema foi resolvido e o que fazer a seguir – se aumentar a dosagem do medicamento ou recomendar mudanças de hábitos e dieta. A decisão quanto a qual medicamento usar – se omeprazol, pantoprazol ou um terceiro – cabe ao médico. Mas os estudos hoje disponíveis indicam que, qualquer que seja a escolha, os resultados serão parecidos. Em 2009, a Federação Brasileira de Gastroenterologia – em parceria com outras instituições – publicou uma revisão de estudos que comparavam a eficácia desses inibidores. No total, os autores analisaram os resultados de 87 trabalhos. Concluíram que seus efeitos são equivalentes: “No final, a decisão hoje é sobre o preço”, diz Daniela, da Unifesp. “Se o médico receitar pantoprazol, os resultados serão tão bons quanto se tivesse receitado o omeprazol”.

A conclusão é compartilhada por outro estudo semelhante, publicado em 2008 por pesquisadores da Universidade de Ulm, na Alemanha. Os cientistas selecionaram 57 trabalhos que comparavam a eficiência do omeprazol, pantoprazol, lansoprazol, esomeprazol e rabeprazol na redução da acidez do estômago. Descobriam, por exemplo, que um comprimido de 20 miligramas de omeprazol (uma dosagem comum disponível no mercado) tem efeitos equivalentes a um comprimido de 40 miligramas de pantoprazol – novamente, uma dosagem comumente receitada. São essas, inclusive, as dosagens recomendadas pela Organização Mundial da Saúde para o tratamento de doença do refluxo.
Se são iguais, por que receitar um ou outro ?

Isso não quer dizer que todos os inibidores sejam iguais. Medicamentos diferentes podem ter atuação diferente. “Eles são muito específicos – suas moléculas atuam sobre determinados receptores no corpo”, diz Daniela. Em teoria, o pantoprazol tem ação mais eficiente sobre os receptores do estômago. É uma vantagem teórica: os estudos na área não perceberam essa diferença. “Essa é a propaganda da indústria.  Na prática, não há evidências de que ele seja superior aos demais.”

A revisão feita pela Federação Brasileira de Enterologia percebeu, no entanto, que há casos em que pode ser melhor usar um medicamento ou outro. No caso do tratamento de esofagite, o esomeprasol teve resultados melhores que os demais medicamentos: depois de quatro semanas de tratamento com esomeprazol de 20 miligramas, cerca de 76% dos casos de esofagite são resolvidos. O mesmo tratamento com omeprazol de 20 miligramas resulta na cura de 65% dos casos. “Não é uma diferença muito grande, e só foi percebida no tratamento para esse problema específico”, diz Amouni Mourad, assessora do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo e professora da Universidade Mackenzie.

Há, ainda, outros fatores que podem influenciar as escolhas dos médicos: “E essas escolhas nem sempre estão baseadas na ciência”, diz Daniela. Por vezes, o médico está mais habituado a receitar um certo inibidor e observar bons resultados – e, por isso, o receita a todos os pacientes. Há casos, também, em que um paciente responde melhor ao tratamento com um medicamento do que com o outro: “Nessas situações, quem tem de fazer a troca é o médico, baseado nos resultados observados”, diz Amouni.

Usar o medicamento errado pode me trazer problemas?

O omeprazol, o pantoprazol e os demais inibidores são considerados medicamentos seguros – quando usados da maneira correta, e pelo tempo determinado. O problema é que, muitas vezes, são usados desnecessariamente: “É comum a pessoa tomar omeprazol para casos de azia esporádica”, diz Amouni Mourad. “É um uso errado. Há antiácidos que são mais recomendados para casos assim, e que têm ação mais rápida.”

O uso inadequado pode ser perigoso. Ao reduzir a quantidade de ácido liberada no estômago, os inibidores de bomba de prótons interferem na absorção de nutrientes como o cálcio e a vitamina B12 – e aumentam os riscos de fraturas ósseas. Seu uso prolongado pode também facilitar a proliferação de bactérias danosas ao organismo: “Há microrganismos ruins que são eliminados pelo ph ácido do estômago”, diz Amouni. “Se você diminui a acidez por muito tempo, acaba ficando sem essa proteção.”

A questão preocupa porque o uso de omeprazol e de medicamentos semelhantes, de forma incorreta, é comum. E, por vezes, é feito sob recomendação médica. “Em parte, isso é resultado da propaganda incorreta que se faz desses produtos”, diz Daniela. “Há a impressão de que eles protegem o estômago – e podem ser tomados quando o paciente precisa usar muitos medicamentos.” É uma impressão falsa. Os inibidores diminuem a acidez do estômago, mas não o protegem. Por isso, devem ser usados com cautela. E somente sob recomendação médica.

Estudo liga uso diário de aspirina por idosos a sangramentos

Autores de pesquisa publicada na revista The Lancet concluem que medicamentos usados para azia devem ser receitados para pessoas com mais de 75 anos que usam aspirina com frequência, a fim de reduzir hemorragias gastrointestinais

Fábio de Castro, O Estado de S.Paulo

16 Junho 2017 | 18h02

O uso diário de aspirina por pessoas com mais de 75 anos está relacionado a um risco maior de sangramento grave ou fatal, de acordo com um novo estudo publicado na terça-feira, 13, na revista científica The Lancet.

De acordo com os autores, embora o uso de aspirina por curtos prazos depois de um acidente vascular cerebral (AVC) ou um ataque cardíaco traz claros benefícios, mas aos pacientes acima do 75 anos que tomam aspirina todos os dias, deveriam ser prescritos fármacos inibidores da bomba de prótons – ou seja, medicamentos para azia como o omeprazol.

Nos Estados Unidos e na Europa, de acordo com os autores do estudo, de 40% a 60% das pessoas com mais de 75 anos usam aspirina ou outras drogas parecidas para evitar ataques cardíacos ou AVC. Esse tipo de tratamento é recomendado para o resto da vida a esses pacientes, como prevenção secundária.

A recomendação para o tratamento de longo prazo com aspirina se baseia em testes feitos com pacientes com menos de 75 anos, que foram estudados ao longo de períodos de dois a quatro anos. Estudos anteriores, porém, já ligaram esses tratamentos ao sangramento no trato gastrointestinal superior.

Embora já se soubesse que os riscos de sangramento crescem com a idade, havia dados insuficientes para estimar o aumento da severidade do problema com o envelhecimento, de acordo com o autor principal do estudo, Peter Rothwell, da Universidade de Oxford (Reino Unido).

"Nosso novo estudo permite compreender muito mais claramente o quanto aumenta o risco, a severidade e as consequências dos sangramentos. Estudos anteriores mostraram que há um claro benefício no tratamento de curto prazo com aspirina após ataques do coração ou AVC. Mas nossa descoberta levanta questões sobre o equilíbrio entre riscos e benefícios no uso a longo prazo por pessoas com mais de 75 anos", afirmou Rothwell.

O estudo acompanhou 3.166 pacientes que tiveram AVC ou ataque cardíaco e que receberam tratamento com drogas como a aspirina. Metade dos pacientes tinham mais de 75 anos no início do estudo. Ao longo de 10 anos de pesquisas, um total de 314 pacientes recorreram a hospitais após sangramento. O risco de sangramento – especialmente grave e fatal – cresceu conforme a idade.

Para pacientes com menos de 65 anos que tomam aspirina diariamente, a taxa anual de sangramento que exigiu atendimento hospitalar foi de 1,5%. Entre os pacientes de 75 a 84 anos, a taxa cresceu para 3,5%, chegando a 5% entre os pacientes com mais de 85 anos.

O risco de sangramento grave ou fatal também aumentou com a idade. Para pacientes com menos de 65, a taxa anual desse tipo de sangramento foi menor que 0,5%. Entre os pacientes de 75 a 84 anos, a taxa aumentou para 1,5%. Para os pacientes com mais de 85 anos, a taxa se aproximou de 2,5%.

Segundo os autores do estudo, embora os riscos de ataque cardíaco e AVC também cresçam com a idade, os resultados mostraram que, para os pacientes com mais de 75 anos, o sangramento do trato gastrointestinal superior como resultado da terapia com aspirina é perigoso, caso não seja feito em conjunto com a prescrição de um inibidor de bomba de prótons.

O uso conjunto desses medicamentos contra a azia, segundo os autores, pode reduzir o sangramento do trato gastrointestinal superior de 70% a 90% em pacientes que estão recebendo tratamento de longo prazo com aspirina. No entanto, a prescrição dos inibidores de bomba de prótons não são rotina. Entre os pacientes que participaram do estudo, só um terço recebia esse tipo de droga.

Médico:”Não existe nenhuma relação entre vacina e autismo”

Fernando Silva explica os reais riscos e benefícios da vacinação; mãe de autista conta seu lado

VINICIUS MENDES
DA REDAÇÃO

Grupos de pais que decidem não vacinar seus filhos estão crescendo no País.

Por falta de informação, eles acreditam que as vacinas trazem mais malefícios do que benefícios e podem fazer com que as crianças contraiam doenças ou até mesmo autismo.

Janielly Cássia Barbosa é mãe de uma criança autista. Ela afirma que tomou vacinas no período do pré-natal, mas não acredita na relação delas com o autismo.

“Quando tomei a vacina o bebê já estava pronto, porque eu só descobri que estava grávida aos cinco meses, só tomei as vacinas finais. Então como poderiam falar que foi a partir deste momento da vacina que meu filho ‘contraiu’ autismo se eu já descobri a gravidez tarde? Isso é contraditório nessa questão da vacina”, disse Janielly.

Ela afirma que já conhecia o boato da relação do autismo com as vacinas e que já chegou a acreditar nele.

Quando os pais falam de estudos que dizem que algumas vacinas podem levar ao autismo, tem que saber qual a base deste estudo. Eu nunca vi um estudo sério sobre isso, com um nível de evidência elevado”

“Meu filho tomou todas as vacinas, fez o teste do pezinho, fez todos os processos que uma criança recém-nascida deve fazer. Cheguei a achar que podia ter sido a vacina, mas hoje sei que não é, existem estudos que dizem que é genético. Até hoje eu ouço colegas falando que pode ser a vacina, que pode causar o autismo”, contou a mãe.

Ela acredita que este medo das vacinas vem do preconceito e da falta de informação das pessoas sobre o transtorno.

“A pessoa vê o autismo como um monstro ou como um bicho de sete cabeças, e nem sempre é assim. A relação que fazem entre a vacina e o autismo é ligada ao preconceito, à falta de informação. Veem o autista como uma pessoa fora da sociedade e não é por esse lado, eu como mãe, como educadora, sei que não é por esse olhar”, afirmou Janielly.

Este medo dos pais com relação às vacinas não está ligado somente ao autismo.

Muitos acreditam que as crianças vacinadas ficam mais propensas às doenças e que seus filhos não precisam de vacina para construir seus sistemas imunológicos.

Segundo o médico Fernando Antonio Santos e Silva, que atua na Unidade de Saúde da Família (USF) do bairro Praeiro, em Cuiabá, podem sim existir efeitos colaterais às vacinas, mas o benefício é sempre maior que o risco.

“Pode haver algum efeito colateral, mas quando tem é um pouquinho de dor, dependendo pode dar febre, mas são reações esperadas da vacina, não é nada grave. O Ministério da Saúde não iria, de forma amadora, lançar vacinas que pudessem deixar as pessoas doentes ou com autismo”, afirma o doutor.

Quanto ao argumento de que a criança pode desenvolver seu sistema imunológico sozinha, o doutor diz que é possível, mas arriscado.

“A criança até pode criar imunização sozinha, mas a vacina é pra acelerar este processo, porque se depender da doença, às vezes quem pegou pode ficar com sequelas para o resto da vida”, disse o médico.

Ele afirmou que os grupos de pais que são contra a vacinação existem já há algum tempo e se baseiam em estudos que não são sérios.

“Isso já é de longa data. É muito em questão dos hábitos dos pais, às vezes eles tem um formação que não gosta de usar remédios, aí facilita pra eles terem este discurso. E quando os pais falam de estudos que dizem que algumas vacinas podem levar ao autismo, tem que saber qual a base deste estudo, qual o nível de evidências. Eu nunca vi um estudo sério sobre isso, com um nível de evidência elevado”, contou.

O médico também afirmou que não acredita, e nunca viu, algo que relacione a vacinação com o transtorno.

“Até onde eu conheça, nas literaturas científicas, não existe nenhuma relação com o autismo. Eu tomei vacina quando pequeno, tenho filhos e todos tomaram, ninguém ficou doente, nós não contraímos autismo, e meus pacientes também não”, disse.

Ele disse que, no Brasil, não existe uma obrigação legal dos pais para vacinar seus filhos e também explicou que esta prática, de não vacinar, é mais comum em classes mais altas, que não dependem do serviço público de saúde.

“Não existe nenhuma lei nem punição para quem não vacina, mas toda criança que vem na unidade a gente vê o cartão de vacina, e os agentes que fazem visitas nas casas também olham, e quando vemos que está atrasado nós cobramos, então quem utiliza os nossos serviços é difícil ficar sem vacinar. Você pode ver que a maioria destes pais que não vacinam seus filhos, normalmente, não frequentam o serviço público”, afirmou.

O médico explicou que o desenvolvimento das vacinas é feito baseado em muitos estudos e que até mesmo na hora da aplicação da vacina o processo é feito com muito cuidado.

“Toda vez que vai ser lançado um produto, têm estudos. Ninguém lança vacina de um dia para a noite, isso são anos fazendo e avaliando a relação do risco e do benefício. Em todas as vacinas você toma algumas precauções. Também na sala de vacina, o técnico que irá aplicar já está preparado para perguntar, para fazer uma triagem pra saber se a pessoa tem alguma contraindicação, alguma alergia a um ingrediente da vacina ou se não está com imunidade boa, pra saber se pode ou não ser vacinado”, explicou.

Fernando Silva diz que é arriscado não vacinar os filhos, já que além de colocar a própria criança em risco, também oferece perigo às pessoas em volta.

“Eu acredito que os pais têm o direito de decidir aquilo que eles julgam melhor para os filhos, porém não podem ser negligentes. E se seu filho ficar doente lá na frente? Você tem sua parcela de culpa. E isto também é perigoso porque se chega alguém doente em um lugar onde muita gente não está imune, começa a disseminar de forma rápida entre eles”, afirmou.

Algumas doenças já foram erradicadas no Brasil, graças à vacinação, como foi o caso da poliomielite e da varíola.

O Ministério da Saúde trabalha neste sentido. O órgão possui o Plano Nacional de Imunização (PNI), que oferece vacinas gratuitamente pela rede pública.

O médico afirmou que o papel dos servidores da saúde é este: garantir a saúde da população, sendo que a vacinação é uma ferramenta poderosa nesta ação.

“Nós aqui nas unidades de saúde, trabalhamos com prevenção de doenças e promoção de saúde. Minha recomendação aos pais é para levarem seus filhos à unidade de saúde mais próxima, manterem o calendário vacinal de seus filhos em dia, porque vacina é igual a saúde, e não há nenhum bem maior do que a saúde de nossos filhos”, disse.